Confira a nossa seleção de poemas sobre música assinados por poetas da língua portuguesa!
A música é uma das artes mais interessantes e possui características que a tornam única.
Seu caráter abstrato e extremamente emotivo permite-a expressar e suscitar sentimentos que talvez as outras artes não consigam com semelhante potência.
A poesia, como sabemos, herdou parte de seu brilho desta bela arte, em que estão calcados todos os seus fundamentos rítmicos e boa parte dos melódicos.
É natural, assim, que haja um elo entre a poesia e a música, e não somente por isso, inúmeros poetas foram, também, entusiastas da arte musical.
Neste texto, preparamos uma seleção com 5 poemas sobre música, para que você entre em contato com alguns lampejos de poetas sobre esta arte tão próxima da poesia.
Boa leitura!
Poemas sobre música
Fuga, de Pedro Homem de Mello
O músico procura
Fixar em cada verso
O cântico disperso
Na luz, na água e no vento.Porém, luz, vento e água
Variam riso e mágoa,
De momento a momento.E em vão a área dos dedos
Se eleva! Não traduz
Os súbitos segredos
Escondidos no vento,
Nas águas e na luz…
Música, de Saúl Dias
A doce, iriada melodia,
roxa sombra na tarde escarlate,
chorosa, ouço-a; bate
e verte quentura na minha alma fria.Quantos anos galgaram lépidos,
furtivos, maldosos, sobre a minha cabeça!
E não há tempo que, úmido, arrefeça
a toada suave de tons tépidos…Remédio para as minhas feridas,
para os nervos pacífico brometo,
quando eu seguir no caixão preto,
entre velas e ladainhas,meus ouvidos tapados a algodão
hão-de ouvi-la, tal como nessa tarde,
tão discreta, suave e sem alarde,
sobrepondo-se ao cantochão…
O maestro sacode a batuta, de Fernando Pessoa
O maestro sacode a batuta,
A lânguida e triste a música rompe …Lembra-me a minha infância, aquele dia
Em que eu brincava ao pé dum muro de quintal
Atirando-lhe com, uma bola que tinha dum lado
O deslizar dum cão verde, e do outro lado
Um cavalo azul a correr com um jockey amarelo …Prossegue a música, e eis na minha infância
De repente entre mim e o maestro, muro branco,
Vai e vem a bola, ora um cão verde,
Ora um cavalo azul com um jockey amarelo…Todo o teatro é o meu quintal, a minha infância
Está em todos os lugares e a bola vem a tocar música,
Uma música triste e vaga que passeia no meu quintal
Vestida de cão verde tornando-se jockey amarelo…
(Tão rápida gira a bola entre mim e os músicos…)Atiro-a de encontra à minha infância e ela
Atravessa o teatro todo que está aos meus pés
A brincar com um jockey amarelo e um cão verde
E um cavalo azul que aparece por cima do muro
Do meu quintal… E a música atira com bolas
À minha infância… E o muro do quintal é feito de gestos
De batuta e rotações confusas de cães verdes
E cavalos azuis e jockeys amarelos …Todo o teatro é um muro branco de música
Por onde um cão verde corre atrás de minha saudade
Da minha infância, cavalo azul com um jockey amarelo…E dum lado para o outro, da direita para a esquerda,
Donde há árvores e entre os ramos ao pé da copa
Com orquestras a tocar música,
Para onde há filas de bolas na loja onde a comprei
E o homem da loja sorri entre as memórias da minha infância…E a música cessa como um muro que desaba,
A bola rola pelo despenhadeiro dos meus sonhos interrompidos,
E do alto dum cavalo azul, o maestro, jockey amarelo tornando-se preto,
Agradece, pousando a batuta em cima da fuga dum muro,
E curva-se, sorrindo, com uma bola branca em cima da cabeça,
Bola branca que lhe desaparece pelas costas abaixo…
Violoncelo, de Camilo Pessanha
Chorai arcadas
Do violoncelo!
Convulsionadas,
Pontes aladas
De pesadelo…De que esvoaçam,
Brancos, os arcos…
Por baixo passam,
Se despedaçam,
No rio, os barcos.Fundas, soluçam
Caudais de choro…
Que ruínas, (ouçam)!
Se se debruçam,
Que sorvedouro!…Trémulos astros…
Soidões lacustres…
—: Lemos e mastros…
E os alabastros
Dos balaústres!Urnas quebradas!
Blocos de gelo…
— Chorai arcadas,
Despedaçadas,
Do violoncelo.
Pobre velha música!, de Fernando Pessoa
Pobre velha música!
Não sei por que agrado,
Enche-se de lágrimas
Meu olhar parado.Recordo outro ouvir-te,
Não sei se te ouvi
Nessa minha infância
Que me lembra em ti.Com que ânsia tão raiva
Quero aquele outrora!
E eu era feliz? Não sei:
Fui-o outrora agora.
Conclusão
Ficamos por aqui!
Esperamos que tenha gostado de nossa seleção de poemas sobre música.
Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de ver a nossa coletânea de poemas sobre esperança.
Um abraço e até a próxima!