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6 poemas sobre a chuva para apreciá-la sob a ótica de grandes poetas!

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Confira a nossa seleção de poemas sobre a chuva feitos por grandes poetas da língua portuguesa!

Poemas sobre a chuva são muito frequentes na literatura, uma vez que a chuva, e tudo o que ela representa, provoca, desde os tempos mais remotos, as mais diversas emoções no homem.

Para o homem do campo, traz a chuva alegria; para o marinheiro, muitas vezes tormentas; para nós, da cidade, a chuva é frequentemente motivo para ficarmos em casa, protegidos, muitas vezes refletindo, estimulados pelo agradável ruído dos pingos que caem do lado de fora.

O certo é que, onde quer que estejamos, não podemos ficar indiferentes à chuva, a qual já serviu de inspiração para poemas em todas as línguas e todos os tempos.

Sendo assim, preparamos uma lista com 6 poemas sobre a chuva para que você possa apreciá-la sob a ótica de grandes poetas da língua portuguesa.

Boa leitura!

Poemas sobre a chuva

Palavras dum certo morto, de Antero de Quental

Há mil anos, e mais, que aqui estou morto,
Posto sobre um rochedo à chuva e ao vento:
Não há como eu espectro macilento,
Nem mais disforme que eu nenhum aborto…

Só o espírito vive: vela absorto
Num fixo, inexorável pensamento:
“Morto, enterrado em vida!” o meu tormento
É isto só… do resto não me importo…

Que vivi sei-o bem… mas foi um dia,
Um dia só ⎯ no outro, a Idolatria
Deu-me um altar e um culto… ai! adoraram-me,

Como se eu fosse alguém! como se a Vida
Pudesse ser alguém! ⎯ logo em seguida
Disseram que era um Deus… e amortalharam-me!

Noturno, de Augusto dos Anjos

Chove. Lá fora os lampiões escuros
Semelham monjas a morrer… Os ventos
Desencadeados, vão bater, violentos,
De encontro às torres e de encontro aos muros.

Saio de casa. Os passos mal seguros
Trêmulo movo, mas meus movimentos
Susto, diante do vulto dos conventos,
Negro, ameaçando os séculos futuros!

De São Francisco no plangente bronze
Em badaladas compassadas onze
Horas soaram… Surge agora a Lua.

E eu sonho erguer-me aos paramos etéreos
Enquanto a chuva cai nos cemitérios
E o vento apaga os lampiões da rua!

Acontecimento, de Cecília Meireles

Aqui estou, junto à tempestade
chorando como uma criança
que viu que não eram verdade
o seu sonho e a sua esperança.

A chuva bate-me no rosto
e em meus cabelos sopra o vento.
Vão-se desfazendo em desgosto
as formas do meu pensamento.

Chorarei toda a noite, enquanto
perpassa o tumulto nos ares,
para não me veres em pranto,
nem saberes, nem perguntares:

“Que foi feito do teu sorriso,
que era tão claro e tão perfeito?”
E o meu pobre olhar indeciso
não te repetir: “Que foi feito…?”

Caso pluvioso, de Carlos Drummond de Andrade

A chuva me irritava. Até que um dia
descobri que maria é que chovia.

A chuva era maria. E cada pingo
de maria ensopava o meu domingo.

E meus ossos molhando, me deixava
como terra que a chuva lavra e lava.

Eu era todo barro, sem verdura…
maria, chuvosíssima criatura!

Ela chovia em mim, em cada gesto,
pensamento, desejo, sono, e o resto.

Era chuva fininha e chuva grossa,
matinal e noturna, ativa… Nossa!

Não me chovas, maria, mais que o justo
chuvisco de um momento, apenas susto.

Não me inundes de teu líquido plasma,
não sejas tão aquático fantasma!

Eu lhe dizia em vão — pois que maria
quanto mais eu rogava, mais chovia.

E chuveirando atroz em meu caminho,
o deixava banhado em triste vinho,

que não aquece, pois água de chuva
mosto é de cinza, não de boa uva.

Chuvadeira maria, chuvadonha,
chuvinhenta, chuvil, pluvimedonha!

Eu lhe gritava: Para! e ela chovendo,
poças d’água gelada ia tecendo.

Choveu tanto maria em minha casa
que a correnteza forte criou asa

e um rio se formou, ou mar, não sei,
sei apenas que nele me afundei.

E quanto mais as ondas me levavam,
as fontes de maria mais chuvavam,

de sorte que com pouco, e sem recurso,
as coisas se lançaram no seu curso,

e eis o mundo molhado e sovertido
sob aquele sinistro e atro chuvido.

Os seres mais estranhos se juntando
na mesma aquosa pasta iam clamando

contra essa chuva, estúpida e mortal
catarata (jamais houve outra igual).

Anti-petendam cânticos se ouviram.
Que nada! As cordas d’água mais deliram,

e maria, torneira desatada,
mais se dilata em sua chuvarada.

Os navios soçobram. Continentes
já submergem com todos os viventes,

e maria chovendo. Eis que a essa altura,
delida e fluida a humana enfibratura,

e a terra não sofrendo tal chuvência,
comoveu-se a Divina Providência,

e Deus, piedoso e enérgico, bradou:
Não chove mais, maria! — e ela parou.

Chove? Nenhuma chuva cai…, de Fernando Pessoa

Chove? Nenhuma chuva cai…
Então onde é que eu sinto um dia
Em que o ruído da chuva atrai
A minha inútil agonia?

Onde é que chove, que eu o ouço?
Onde é que é triste, ó claro céu?
Eu quero sorrir-te, e não posso,
Ó céu azul, chamar-te meu…

E o escuro ruído da chuva
É constante em meu pensamento.
Meu ser é a invisível curva
Traçada pelo som do vento…

E eis que ante o sol e o azul do dia,
Como se a hora me estorvasse,
Eu sofro… E a luz e a sua alegria
Cai aos meus pés como um disfarce.

Ah, na minha alma sempre chove.
Há sempre escuro dentro de mim.
Se escuto, alguém dentro de mim ouve
A chuva, como a voz de um fim…

Quando é que eu serei da tua cor,
Do teu plácido e azul encanto,
Ó claro dia exterior,
Ó céu mais útil que o meu pranto?

A luva, de Augusto dos Anjos

Pensa na glória! Arfa-lhe o peito, opresso,
— O pensamento é uma locomotiva —
Tem a grandeza duma força viva
Correndo sem cessar para o Progresso.

Que importa que, contra ele, horrendo e preto
O áspide abjeto do Pesar se mova!…
E só, no quadrilátero da alcova,
Vem-lhe à imaginação este soneto:

— “A princípio escrevia simplesmente
Para entreter o espírito… Escrevia
Mais por impulso de idiossincrasia
Do que por uma propulsão consciente.

Entendi, depois disso, que devia,
Como Vulcano, sobre a forja ardente
Da Ilha de Lemnos, trabalhar contente,
Durante as vinte e quatro horas do dia!

Riam de mim os monstros zombeiteiros.
Trabalharei assim dias inteiros,
Sem ter uma alma só que me idolatre…

Tenha a sorte de Cícero proscrito
Ou morra embora, trágico e maldito,
Como Camões morrendo sobre um catre!”

Nisto, abre, em ânsias, a tumbal janela
E diz, olhando o céu que além se expande:
“ — A maldade do mundo é muito grande,
Mas meu orgulho inda é maior do que ela!

Ruja a boca danada da profana
Coorte dos homens, com o seu grande grito,
Que meu orgulho do alto do alto do infinito
Suplantará a própria espécie humana!

Quebro montanhas e aos tufões resisto
Numa absoluta impassibilidade!”
E como um desafio à Eternidade
Atira a luva para o próprio Cristo!

Chove. Sobre a cidade geme a chuva.
Batem-lhe os nervos, sacudindo-o todo,
E na suprema convulsão o doudo
Parece aos astros atirar a luva!

Conclusão

Ficamos por aqui!

Esperamos que tenha gostado de nossa seleção de poemas sobre a chuva.

Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de ver a nossa análise do poema Versos íntimos, de Augusto dos Anjos.

Um abraço e até a próxima!

Como citar este conteúdo COMO FAZER UM POEMA. 6 poemas sobre a chuva para apreciá-la sob a ótica de grandes poetas!. [S.I.] 2022. Disponível em: https://comofazerumpoema.com/poemas-sobre-a-chuva-poesia-poetas-portugues/. Acesso em: 20 set. 2024.