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5 bonitos poemas sobre flores para diferentes ocasiões

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Confira a nossa seleção de poemas sobre flores em português e deixe-se inspirar!

A presença de flores é muito comum em poesia, seja como temática, seja como componente do cenário.

Desde, pelo menos, a poesia grega e romana, parece os poetas sentirem uma forte atração pela imagem e simbolismo das flores, utilizando-as para explorar uma gama enorme de sentimentos e emoções.

Em poesia, encontramos as flores abordadas em toda a sua delicadeza e fragilidade, comovemo-nos diante de sua existência efêmera, de sua beleza, de suas cores que simbolizam a nós sensações e memórias, e a lista não para por aí.

Dito isso, preparamos uma seleção com 5 poemas sobre flores para que você possa apreciar quão diferentes inspirações já proporcionaram elas a poetas da língua portuguesa.

Boa leitura!

Poemas sobre flores

Idílio, de Antero de Quental

Quando nós vamos ambos, de mãos dadas,
Colher nos vales lírios e boninas,
E galgamos dum fôlego as colinas
Dos rocios da noite inda orvalhadas;

Ou, vendo o mar, das ermas cumeadas,
Contemplamos as nuvens vespertinas,
Que parecem fantásticas ruínas
Ao longe, no horizonte, amontoadas:

Quantas vezes, de súbito, emudeces!
Não sei que luz no teu olhar flutua;
Sinto tremer-te a mão, e empalideces…

O vento e o mar murmuram orações,
E a poesia das cousas se insinua
Lenta e amorosa em nossos corações.

Cantiga, de Cecília Meireles

Ai! A manhã primorosa
do pensamento…
Minha vida é uma pobre rosa
ao vento.

Passam arroios de cores
sobre a paisagem.
Mas tu eras a flor das flores,
Imagem!

Vinde ver asas e ramos,
na luz sonora!
Ninguém sabe para onde vamos
agora.

Os jardins têm vida e morte,
noite e dia…
Quem conhecesse a sua sorte,
morria.

E é nisto que se resume
o sofrimento:
cai a flor, — e deixa o perfume
no vento!

As flores, de Gonçalves Dias

Tu que com tanto afã, com tanto custo,
Estudando, inquirindo, e meditando,
De estranhos climas transplantaste aos nossos
As flores várias no matiz, nas formas,
Modesto horticultor, dos teus desvelos
Este só galardão recebe ao menos!
Recebe-o: também eu gosto das flores,
Folgo também de as ver num campo estreito
De estranhas terras revelando os mimos
E as galas doutros céus: — aqui perfumam
Nossos jardins de peregrina essência!
Melhoram-se talvez, que as não contristam
Raios tíbios do sol, nem turvos ares,
Nem do inverno o furor lhes cresta o brilho.
Meigas flores gentis, quem vos não ama?
Em vós inspirações o bardo encontra,
Devaneios de amor a ingênua virgem,
À abelha o mel, a humanidade encantos,
Odores, nutrição, bálsamo e cores.
Meigas flores gentis, quem vos não ama?

Linda virgem no albor da vida incerta,
No meio das vivaces companheiras,
Em forma de capela as vai tecendo
Para cingir com ela a fronte e a coma,
Que os anos no passar não enrugaram,
Nem as cans da velhice embranqueceram.
Resplendor de inocência, onde casados
A açucena, e os jasmins aos brancos lírios
Um só perfume grato aos céus envia;
Meiga coroa de angélica pureza,
Ornamento da vida — que se rompe
Ou quando os membros delicados vestem
O grosseiro burel da penitencia,
Ou do noivado as galas! — lá se acaba,
Por fim aos pés do tálamo ou num tumulo!
Meigas flores gentis, quem vos não ama?

Quantas vezes, nas horas da ventura,
A falaz sensação dum peito ingrato
Não julgamos eterna, imensa, infinda!
Ali nossos anelos se concentram,
Nossa vida ali jaz: — cifra-se inteira
Num brando volver d’olhos, num acento,
Que a ternura repassa, inspira, exala!
Um gemido, um suspiro, um ai, um gesto,
Valem tronos e mais, — o mundo e a vida!
Mas esvai-se a paixão!… que fica? Apenas
Um saudoso lembrar de eras passadas,
De cismadas venturas não fruídas,
Às vezes uma flor!… — Flor dos amores,
Quando extinta a paixão, porque inda existes?
Espinhos de uma rosa emurchecida
Porque sobreviveis às folhas dela?
Mais firme, mais leal, mais vivedoura
Que a volúvel paixão, a flor mimosa
Talvez irrita a dor, talvez a acalma.
Emblemas do prazer, do sofrimento,
Mensageiras do amor ou da saudade,
Meigas flores gentis, quem vos não ama?

Geme a fresca odalisca entre ferrolhos,
Importuna presença a voz lhe tolhe
Do não piedoso eunuco; — a estátua negra
Respeitosa e cruel lhe espreita os gestos:
Chora a gusla mourisca ao som dos ferros,
Lastima-se a cadeia ao som dos passos,
E a humana flor definha entre outras flores;
Mil ouvidos a voz lhe escutam sempre,
E cingidos de ferro, crus soldados
De entorno ao mesto harém velam sanhudos!
Ruge, fero soldam! — treplica os bronzes
Da masmorra cruel: — a planta humilde,
A escrava que recatas tão cioso,
Zomba dos feros teus! Muda e singela
Através das prisões, dos teus soldados,
Passa a modesta flor! Vai noutro peito,
Mistérios não sabidos relatando,
Contar do infausto amor as provas duras,
Os martírios da ausência, as tristes lágrimas
Que chora — ao reiterar protestos novos!
Bem-fadadas do sol, do amor benquista,
O orvalho as cria, as lágrimas as murcham:
Meigas flores gentis quem vos não ama?

Quem tem o coração a amar propenso,
Quem sente a interna voz que dentro fala,
Delicado sentir dum brando peito,
Alma virgem que os homens não mancharam,
Quem sofre ou tem prazer, ou ama, ou espera
E vive e sente a vida, esse vos ama:
Encantos da existência em quanto vivos,
Do revés, do triunfo companheiras,
No berço, no dossel, no mudo esquife,
Sempre amigas fiéis vos encontramos.
Meigas flores gentis, quem vos não ama?

Modesto horticultor, dos teus desvelos
Este só galardão recebe ao menos;
Paga-te sequer de ver mais bela,
Mais vaidosa, melhor, do sol na terra
A flor modesta, produção sublime
De estranhos climas transplantada ao nosso.

Já a roxa e branca Aurora destoucava, de Camões

Já a roxa e branca Aurora destoucava
Os seus cabelos de ouro delicados,
E das flores os campos esmaltados
Com cristalino orvalho borrifava;

Quando o formoso gado se espalhava
De Sílvio e de Laurente por os prados;
Pastores ambos, e ambos apartados,
De quem o mesmo amor não se apartava.

Com verdadeiras lagrimas Laurente,
Não sei, (dizia) ó Ninfa delicada,
Porque não morre já quem vive ausente;

Pois a vida sem ti não presta nada.
Responde Sílvio: Amor não o consente:
Que ofende as esperanças da tornada.

Mestre, são plácidas, de Ricardo Reis (Fernando Pessoa)

Mestre, são plácidas
Todas as horas
Que nós perdemos.
Se no perdê-las,
Qual numa jarra,
Nós pomos flores.

Não há tristezas
Nem alegrias
Na nossa vida.
Assim saibamos,
Sábios incautos,
Não a viver,

Mas decorrê-la,
Tranquilos, plácidos,
Tendo as crianças
Por nossas mestras,
E os olhos cheios
De Natureza…

A beira-rio,
A beira-estrada,
Conforme calha,
Sempre no mesmo
Leve descanso
De estar vivendo.

O tempo passa,
Não nos diz nada.
Envelhecemos.
Saibamos, quase
Maliciosos,
Sentir-nos ir.

Não vale a pena
Fazer um gesto.
Não se resiste
Ao deus atroz
Que os próprios filhos
Devora sempre.

Colhamos flores.
Molhemos leves
As nossas mãos
Nos rios calmos,
Para aprendermos
Calma também.

Girassóis sempre
Fitando o Sol,
Da vida iremos
Tranquilos, tendo
Nem o remorso
De ter vivido.

Conclusão

Ficamos por aqui!

Esperamos que tenha gostado de nossa seleção de poemas sobre flores.

Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de ver a nossa coletânea de poemas sobre educação.

Um abraço e até a próxima!

Como citar este conteúdo COMO FAZER UM POEMA. 5 bonitos poemas sobre flores para diferentes ocasiões. [S.I.] 2022. Disponível em: https://comofazerumpoema.com/bonitos-poemas-sobre-flores-poesia-portugues/. Acesso em: 20 set. 2024.