Confira a nossa seleção de poemas sobre justiça em português!
O sentimento de justiça é um dos mais fortes e mais nobres presentes no homem, e suas raízes remontam talvez ao sentimento de empatia que ele é capaz de sentir pelo próximo, ao postulado moral de que ser injusto é ser indigno.
Assim, desde muitos séculos, tem sido a justiça objeto de reflexão e debate, seja em sua acepção moral comum, seja em sua acepção política, seja em sua acepção divina.
Naturalmente, tal debate estendeu-se pela poesia, e não é raro encontrar poemas em que a justiça é exaltada, exposta ou mesmo questionada.
Dito isso, preparamos uma seleção com 4 poemas sobre justiça para que você possa apreciar diferentes abordagens para este tema.
Boa leitura!
Poemas sobre justiça
Justitia mater, de Antero de Quental
Nas florestas solenes há o culto
Da eterna, íntima força primitiva:
Na serra, o grito audaz da alma cativa,
Do coração, em seu combate inulto:No espaço constelado passa o vulto
Do inominado Alguém, que os sóis aviva:
No mar ouve-se a voz grave e aflitiva
Dum deus que luta, poderoso e inculto.Mas nas negras cidades, onde solta
Se ergue, de sangue medida, a revolta,
Como incêndio que um vento bravo atiça,Há mais alta missão, mais alta glória:
O combater, à grande luz da história,
Os combates eternos da Justiça!
A umas suspeitas, de Camões
Suspeitas, que me quereis?
Que eu vos quero dar lugar
Que, de certas, me mateis,
Se a causa de que nasceis
Vos quisesse confessar.
Que de não lhe achar desculpa,
A grande mágoa passada
Me tem a alma tão cansada
Que, se me confessa a culpa,
Tê-la-ei por desculpada.Ora vede que perigos
Têm cercado o coração;
Que, no meio da opressão,
A seus próprios inimigos
Vai pedir a defensão!
Que, suspeitas, eu bem sei,
Como se claro vos visse,
Que é certo o que já cuidei;
Que nunca mal suspeitei
Que certo me não saísse.Mas queria esta certeza
Daquela que me atormenta;
Porque, em tamanha estreiteza,
Ver que disso se contenta
É descanso da tristeza.
Porque se esta só verdade
Me confessa, limpa e nua
De cautela e falsidade,
Não pode a minha vontade
Desconformar-se da sua.Por segredo namorado,
É certo estar conhecido
Que o mal de ser enjeitado
Mais atormenta, sabido,
Mil vezes, que suspeitado.
Mas eu só, em quem se ordena
Novo modo de querela,
De medo da dor pequena,
Venho achar na maior pena
O refrigério para ela.Já nas iras me inflamei,
Nas vinganças, nos furores
Que já, doudo, imaginei;
E já mais doudo jurei
D’arrancar d’alma os amores.
Já determinei mudar-me
Para outra parte, com ira;
Despois vim a concertar-me
Que era bom certificar-me
No que mostrava a mentira.Mas despois já de cansadas
As fúrias do imaginar,
Vinha enfim a arrebentar
Em lágrimas magoadas
E bem para magoar.
E deixando-se vencer
Os meus fingidos enganos
De tão claros desenganos,
Não posso menos fazer
Que contentar-me co’os danosE pedir que me tirassem
Este mal de suspeitar,
Que me vejo atormentar,
Inda que me confessassem
Quanto me pode matar.
Olhai bem se me trazeis,
Senhora, posto no fim;
Pois neste estado a que vim,
Para que vós confesseis,
Se dão os tratos a mim.Mas para que tudo possa
Amor, que tudo encaminha,
Tal justiça lhe convinha:
Por que, da culpa que é vossa,
Venha a ser a morte minha.
Justiça tão mal olhada,
Olhai com que cor se doura;
Que quer, no fim da jornada,
Que vós sejais confessada
Para que eu seja o que moura!Pois confessai-vos já ‘gora,
Inda que tenho temor
Que nem nest’última hora
Me há-de perdoar Amor
Vossos pecados, Senhora.
E assi vou desesperado,
Porque estes são os costumes
D’amor que é mal empregado,
Do qual vou já condenado
Ao inferno de ciúmes!
O condenado, de Augusto dos Anjos
“Folga a Justiça e geme a natureza.”
— BocageAlma feita somente de granito,
Condenada a sofrer cruel tortura
Pela rua sombria d’amargura
— Ei-lo que passa — réprobo maldito.Olhar ao chão cravado e sempre fito,
Parece contemplar a sepultura
Das suas ilusões que a desventura
Desfez em pó no hórrido delito.E, à cruz da expiação subindo mudo,
A vida a lhe fugir já sente prestes
Quando ao golpe do algoz, calou-se tudo.O mundo é um sepulcro de tristeza.
Ali, por entre matas de ciprestes,
Folga a justiça e geme a natureza.
O homem forte, de Gonçalves Dias
O modesto varão constante e justo
Pensa e medita nas lições dos sábios
E nos caminhos da justiça eterna
Gradua firme os passos.O brilho da sua lama não mareia
A luz do sol, nem do carvão se tisna;
Morre pelo dever, austero e crente,
Confessando a virtude.Pode a calúnia denegrir seus feitos,
Negar-lhe a inveja o mérito subido;
Pode em seu dano conspirar-se o mundo
E renegá-lo a pátria!Tão modesto no paço de Lóculo
Como encerrado no tonel do Grego,
Nem o transtorna a aragem da ventura,
Nem a desgraça o abate.A tiranos preceitos não se humilha,
Ante o ferro do algoz não curva a fronte,
Não faz calar da consciência o grito,
Não nega os seus princípios.Antes, seguro e firme e confiado
No tempo, vingador das injustiças,
Co’os pés no cadafalso e a vista erguida
Se mostra imperturbável.Sofre mártir e expira! A pátria em torno
Do seu sepulcro o chora, onde a virtude,
Afeita ao luto e à dor, de novo carpe
Do justo a flébil morte!
Conclusão
Ficamos por aqui!
Esperamos que tenha gostado de nossa seleção de poemas sobre justiça.
Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de ver a nossa coletânea de exemplos de poesia filosófica.
Um abraço e até a próxima!