Confira a nossa seleção de poemas sobre leitura em português!
Não seríamos capazes de resumir a importância da leitura, e os inúmeros benefícios que ela pode nos proporcionar.
A leitura, para além de fazer-nos desenvolver intelectualmente, fornece-nos um número quase ilimitado de experiências que, de outra forma, não poderíamos ter.
Através dela nos conectamos a outros lugares, outras épocas, e enxergamos o mundo por lentes distintas: tudo isso só tem a nos engrandecer.
Naturalmente, por tudo isso e muito mais, os poetas sempre foram leitores vorazes, algumas vezes lhes expressando a experiência com a leitura através de poemas.
Sendo assim, preparamos uma seleção com 6 poemas sobre leitura em português para que você possa apreciar.
Boa leitura!
Poemas sobre leitura
A leitora, de António Ramos Rosa
A leitora abre o espaço num sopro subtil.
Lê na violência e no espanto da brancura.
Principia apaixonada, de surpresa em surpresa.
Ilumina e inunda e dissemina de arco em arco.
Ela fala com as pedras do livro, com as sílabas da sombra.Ela adere à matéria porosa, à madeira do vento.
Desce pelos bosques como uma menina descalça.
Aproxima-se das praias onde o corpo se eleva
em chama de água. Na imaculada superfície
ou na espessura latejante, despe-se das formas,branca no ar. É um torvelinho harmonioso,
um pássaro suspenso. A terra ergue-se inteira
na sede obscura de palavras verticais.
A água move-se até ao seu princípio puro.
O poema é um arbusto que não cessa de tremer.
Um cadáver de poeta, de Álvares de Azevedo
X
Meu pobre leito! eu amo-te contudo!
Aqui levei sonhando noites belas,
As longas horas olvidei libando
Ardentes gotas de licor doirado,
Esqueci-as no fumo, na leitura
Das páginas lascivas do romance…Meu leito juvenil, da minha vida
És a página d’oiro. Em teu asilo
Eu sonho-me poeta, e sou ditoso,
E a mente errante devaneia em mundos
Que esmalta a fantasia! Oh! quantas vezesDo levante no sol entre odaliscas
Momentos não passei que valem vidas!
Quanta música ouvi que me encantava!
Quantas virgens amei! que Margaridas,
Que Elviras saudosas e Clarissas
Mais trêmulo que Faust eu não beijava,
Mais feliz que Don Juan e Lovelace
Não apertei ao peito desmaiando!
Ó meus sonhos de amor e mocidade,
Por que ser tão formosos, se devíeis
Me abandonar tão cedo… e eu acordava
Arquejando a beijar meu travesseiro?
Nova poética, de Manuel Bandeira
Vou lançar a teoria do poeta sórdido.
Poeta sórdido:
Aquele em cuja poesia há a marca suja da vida.
Vai um sujeito,
Sai um sujeito de casa com a roupa de brim branco muito bem engomada, e na
primeira esquina passa um caminhão, salpica-lhe o paletó ou a calça de uma
nódoa de lama:
É a vida.O poema deve ser como a nódoa no brim:
Fazer o leitor satisfeito de si dar o desespero.Sei que a poesia é também orvalho.
Mas este fica para as menininhas, as estrelas alfas, as virgens cem por cento e as
amadas que envelheceram sem maldade.
Agonia de um filósofo, de Augusto dos Anjos
Consulto o Phtah-Hotep. Leio o obsoleto
Rig-Veda. E, ante obras tais, me não consolo…
O Inconsciente me assombra e eu nele rolo
Com a eólica fúria do harmatã inquieto!Assisto agora à morte de um inseto!…
Ah! todos os fenômenos do solo
Parecem realizar de polo a polo
O ideal de Anaximandro de Mileto!No hierático areópago heterogêneo
Das ideias, percorro, como um gênio,
Desde a alma de Haeckel à alma cenobial!…Rasgo dos mundos o velário espesso;
E em tudo, igual a Goethe, reconheço
O império da substância universal!
Quia aeternus, de Antero de Quental
A Joaquim de Araújo
Não morreste, por mais que o brade a gente
Uma orgulhosa e vã filosofia…
Não se sacode assim tão facilmente
O jugo da divina tirania!Clamam em vão, e esse triunfo ingente
Com que Razão ⎯ coitada! ⎯ se inebria,
É nova forma, apenas, mais pungente,
Da tua eterna, trágica ironia.Não, não morreste, espectro! o Pensamento
Como dantes te encara, e és o tormento
De quantos sobre os livros desfalecem.E os que folgam na orgia ímpia e devassa
Ai! quantas vezes, ao erguer a taça,
Param, e estremecendo, empalidecem!
A um livro, de Florbela Espanca
No silêncio de cinzas do meu Ser
Agita-se uma sombra de cipreste,
Sombra roubada ao livro que ando a ler,
A esse livro de mágoas que me deste.Estranho livro aquele que escreveste,
Artista da saudade e do sofrer!
Estranho livro aquele em que puseste
Tudo o que eu sinto, sem poder dizer!Leio-o, e folheio, assim, toda a minh’alma!
O livro que me deste é meu, e salma
As orações que choro e rio e canto! …Poeta igual a mim, ai que me dera
Dizer o que tu dizes! … Quem soubera
Velar a minha Dor desse teu manto!
Conclusão
Ficamos por aqui!
Esperamos que tenha gostado de nossa seleção de poemas sobre leitura.
Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de ver a nossa coletânea de poemas sobre pátria.
Um abraço e até a próxima!