Confira a nossa seleção de poemas religiosos em português!
A religiosidade é como uma necessidade humana e manifesta-se no homem desde tempos imemoriais.
O homem, reconhecendo-se e impressionando-se a observar o mundo, precisa de respostas para aquilo que desconhece.
Quem criou o mundo? Qual o sentido da criação? O que ocorre depois de nossa morte? São estas algumas das inúmeras questões que o perturbam e, frequentemente, é na religião que ele encontra respostas.
Sendo assim, é natural observar que muitos artistas foram devotos de alguma religião, e expressaram sua religiosidade, ainda que em forma de conflito, através de obras poéticas.
Seja louvando uma divindade, seja agradecendo, seja a questionando, ou mesmo criticando outras religiões, muitos usaram a poesia como veículo para a mensagem ou o sentimento que gostariam de expressar.
Dito isso, preparamos uma seleção com 4 poemas religiosos para que você possa apreciar alguns versos com esta temática.
Boa leitura!
Poemas religiosos
Na mão de Deus, de Antero de Quental
Na mão de Deus, na sua mão direita,
Descansou afinal meu coração.
Do palácio encantado da Ilusão
Desci a passo e passo a escada estreita.Como as flores mortais, com que se enfeita
A ignorância infantil, despojo vão,
Depus do Ideal e da Paixão
A forma transitória e imperfeita.Como criança, em lôbrega jornada,
Que a mãe leva ao colo agasalhada
E atravessa, sorrindo vagamente,Selvas, mares, areias do deserto…
Dorme o teu sono, coração liberto,
Dorme na não de Deus eternamente!
Estâncias, de Gonçalves Dias
VI
Irei beijar teu sepulcro.
Chorar meu último adeus.
Depois, remontando aos céus.
Direi a Deus: “Aqui estou!”
Tu, dentre o coro dos anjos,
— Dos Serafins resplendentes —
Então — as asas candentes,
Que a vida não maculou,
— Desprega! — e meiga, humilhada,
Ao trono do Eterno vai,
E na linguagem dos anjos,
Dize a Jesus: “É meu pai!”
O Profeta, de Raimundo Correia
Vinha a noite a fugir pelas paragens cérulas
Pairar sobre a cidade — esplêndida Istambul!
O estelífero manto era um colar de pérolas
Espalhadas por Deus pelo infinito azul!O Nordeste bramia, e nos desertos úmidos
Oscilava medrosa a face do luar —
E em vagalhões azuis estrugidores, túmidos
Nos peitos do areai vinha bater o mar!E aos sons do mar — e aos sons da ventania rábida
Aos poucos vi rasgar-se o nebuloso véu —
E um vulto sobre a terra infame, vil, e tábida
Surge ocupando enorme o circulo do céu!No seu braço despido e musculoso e lívido
Sustentava o colosso imenso duma cruz!
O lábio se entreabriu!… o olhar tremia vívido!…
Um despede trovões — outro despede luz!Serpeia-lhe na espadua a cabeleira flácida
Rolando pelo espaço em fúlgidos anéis!…
A fronte ergueu! do mar recua a onda plácida
E a terra muda, humilde, estende-se a seus pés!E assim bradou então: “Da natureza flórida
Murmúrios, luzes, sons… o autor negais ateus?!
E se ela inda amanhã há de acordar tão rórida —
Oh! acabai com ela Onipotente Deus!“Assassinos da Fé! excomungados céticos,
Apóstatas do bem! — qual é a vossa moral?!
Vós sois da humanidade os sórdidos morféticos
Quando acendeis do vicio o túrbido fanal!“Da religião cristã, a verdadeira, a única,
Estúpidos fazeis muitas religiões!
Eu hei de espedaçar a sanguinária túnica
Com que ao grêmio da Fé roubais as gerações!“Abris em cada templo um pérfido prostíbulo,
E à vítima que tomba o braço recusais?!
É fábula — a vossa alma, e o coração — turíbulo,
Do fumo embriagador dos gozos sensuais!“E mostrais do sarcasmo as gargalhadas hórridas!…
Onde é vossa garganta — oh 1 fúrias do escarcéu?!
Oh! terra aonde estão tuas entranhas tórridas?!
Vosso fogo onde está — relâmpagos do céu?!“A Igreja também tem os azorragues sólidos,
Que a raiva dos leões do vandalismo tem —
Mas co’a palavra só há de salvar — estólidos —
Das vossas garras vis as gerações que vêm!“A crença amortecei da insensatez no cúmulo!
Erguei a injuria a Deus, sarcófagos à Fé!
Porque a Fé no porvir ressurgirá do túmulo
E vê-la-eis então esplêndida de pé!…“Oh! leões! Oh! leões, que trovejais, aspérrimos.
O facho da verdade espalhará clarões!
E a razão! a razão há de bradar : Misérrimos!
Misérrimos que sois, coléricos leões!“A punição não tarda — Oh! crentes esperemo-la!
Da vida eterna o sol há de fulgir enfim!
E tu — Oh! legião de malfeitores, tremula —
Do olvido irás rolar no báratro sem fim!“Oh! natureza rica! esplêndida crisálida!
Depois que o povo em Fé passar o teu Jordão,
Abisma-te no caos donde saíste esquálida!
Fulmina este universo — Oh! Deus da Criação!E súbito sumiu-se o vulto horribilíssimo —.
E o céu ermo tornou-se e límpido outra vez!
E soluçou o mar num soluçar tristíssimo,
Como inda ouvindo o som daquela voz talvez!
Ignoto Deo, de Almeida Garrett
Creio em ti, Deus: a fé viva
De minha alma a ti se eleva.
És: — o que és não sei. Deriva
Meu ser do teu: luz… e treva,
Em que — indistintas! — se envolve
Este espírito agitado,
De ti vem, a ti devolve.
O Nada, a que foi roubado
Pelo sopro criador
Tudo o mais, o há-de tragar.
Só vive de eterno ardor
O que está sempre a aspirar
Ao infinito donde veio.
Beleza és tu, luz és tu,
Verdade és tu só. Não creio
Senão em ti; o olho nu
Do homem não vê na terra
Mais que a dúvida, a incerteza,
A forma que engana e erra.
Essência! a real beleza,
O puro amor — o prazer
Que não fatiga e não gasta…
Só por ti os pode ver
O que inspirado se afasta,
Ignoto Deus, das ronceiras,
Vulgares turbas: despidos
Das coisas vãs e grosseiras
Sua alma, razão, sentidos,
A ti se dão, em ti vida,
E por ti vida têm. Eu, consagrado
A teu altar, me prostro e a combatida
Existência aqui ponho, aqui votado
Fica este livro — confissão sincera
Da alma que a ti voou e em ti só spera.
Conclusão
Ficamos por aqui!
Esperamos que tenha gostado de nossa seleção de poemas religiosos.
Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de ver a nossa coletânea de poemas sobre o vento.
Um abraço e até a próxima!