Confira a nossa seleção de poemas sobre rios em português!
Os rios são um dos elementos mais belos e fascinantes da natureza.
Para além de sua inestimável importância para a biodiversidade, observá-los é, esteticamente, sempre um prazer.
Assim como outros elementos da natureza, são os rios envolvidos de beleza e mistério, visto que possuem características muito diversas, podendo suas águas variarem da placidez à fúria, da calmaria à intempestividade.
Naturalmente, tal como muitas das primeiras sociedades estabeleceram-se próximas a rios, também têm eles, desde os primórdios, exercido fascínio nos seres humanos.
Sendo assim, preparamos uma seleção com 4 poemas sobre rios para que você possa apreciar algumas abordagens para este tema.
Boa leitura!
Poemas sobre rios
Rios sem discurso, de João Cabral de Melo Neto
Quando um rio corta, corta-se de vez
o discurso-rio de água que ele fazia;
cortado, a água se quebra em pedaços,
em poços de água, em água paralítica.
Em situação de poço, a água equivale
a uma palavra em situação dicionária:
isolada, estanque no poço dela mesma;
e porque assim estanque, estancada;
e mais: porque assim estancada, muda,
e muda porque com nenhuma comunica,
porque cortou-se a sintaxe desse rio,
o fio de água por que ele discorria.*
O curso de um rio, seu discurso-rio,
chega raramente a se reatar de vez;
um rio precisa de muito fio de água
para refazer o fio antigo que o fez.
Salvo a grandiloquência de uma cheia
lhe impondo interina outra linguagem,
um rio precisa de muita água em fios
para que todos os poços se enfrasem:
se reatando, de um para outro poço,
em frases curtas, então frase e frase,
até a sentença-rio do discurso único
em que se tem voz a seca ele combate.
Falando com o Mondego estando saudoso, de Francisco de Vasconcelos Coutinho
Como é, Mondego, igual ao nascimento
O meu choro ao que a ti te desempenha;
Pois se o teu pranto nasce duma penha,
De um penhasco se causa o meu lamento.Tu do mal, que padeço, estás isento,
Porque abrandas chorado a tosca brenha,
Mas Fillis mais que serra me desdenha,
Quando as ruas correntes acrescento.Se pois a serra dura tanto zela
O teu chorar, que o áspero desterra,
E o meu pranto endurece a Fillis bela;Por teres mais alivio, ou menos guerra
Chora tu, pois na serra tens estrela,
Eu não, que sem estrela amo uma serra.
O Tejo, de Almeida Garrett
Nessas margens risonhas do Tejo
Não há som que não cante de amor;
Em suas ondas azuis o lampejo
Das estrelas, no albor, se espelhou.Essa terra produz a violeta
Ao primeiro sorrir da manhã,
Vago Zéfiro a flor indiscreta,
Sussurrando, lascivo beijou.É loquaz este bosque sombrio,
Cheio ainda do canto dos bardos;
Aqui é Tempe, aqui o Ménalo frio,
E o Meandro que os cisnes produz.Oiço uns ecos de mágica lira
Pela noite ir ao longo da praia…
Quem é esse tão fero que aí gira
E do dia desdenha da luz?É Catão — só a este não doma
Quem a terra fez muda a seu mando;
É Catão — a infâmia de Roma
Na sua frente jamais não pesou.Como geme alva pomba ferida,
Assim Mérope geme e lamenta;
Soam trompas guerreira alarida,
E a alegria ao seu peito voltou.Nas cumeadas de Hermínio nevosas,
Que dos hórridos gelos se c’roam,
Vê a aurora coberta de rosas
De beleza em que pompa surgiu!Na hástea débil as tenras florinhas
Vão o puro rocio bebendo,
Cada gota do céu, nas ervinhas,
Rica pérola ardente luziu.Mas o Gênio do monte, que horrendo
Entre as sombras impera da noite,
Bate as asas, já foge e fremendo
No profundo do mar mergulhouRepentino lá surge um guerreiro,
Torvo o cenho, a armadura de ferro…
É Viriato… a seus pés — o primeiro! —
Calca as Águias que o mundo adorou.Da caverna que os ossos lhe encerra
Surde a voz… Inclinai as cabeças
Ante o livre que impávido à terra
— Ou morrer — ou salvá-la jurou…Emudece a harpa. — O nome adorado
Da sua Júlia as Dríades cantem!
Sobre a fronte ao poeta sagrado
Febo próprio os seus loiros poisou.
A um poeta exilado, de Gonçalves Dias
Tão bem vaguei, Cantor, por clima estranho,
Vi novos vales, novas serranias,
Vi novos astros sobre mim luzindo;
E eu só! E eu triste!Ao sereno Mondego, ao Doiro, ao Tejo
Pedi inspirações, — e o Doiro e o Tejo
Do mísero proscrito repetiram
Sentidos carmes.Repetiu-mos o plácido Mondego;
Talvez em mais de um peito se gravaram,
Em mais de uns meigos lábios murmurados,
Talvez soaram.Os filhos de Minerva, novos cisnes,
Que a fonte dos amores meigos cria,
E alguns de Lísia sonoros vates,
Sisudos mestres;Ouvindo aquele canto agreste e rudo
Do selvagem guerreiro, — e a voz do piaga
Rugindo, como o vento na floresta,
Prenhe d’augúrios;Benignos me olharam, e aos meus ensaios
Talvez sorriram; porém mais prendeu-me,
Quem sofrendo como eu, chorou comigo,
Quem me deu lágrimas!Eu pois, que nesta vida hei aprendido
Só cantar e sofrer, não vejo embalde
Ao canto a dor unida, — e os repassados
Versos de pranto.Do triste poleá choro a desdita,
Choro e digo entre mim: “Pobre Canário
Que fado mau cegou, por que soltasse
Mais doce canto;Pobre Orfeu, nestes tempos mal nascido,
Atrás dum bem sonhado pelo mundo
A vagar com lira — um bem que os homens
Não podem dar-te!Se quer esta lembrança a dor te abrande:
A vida é breve, e o teu cantar semelha
Vagido fraco de menino enfermo,
Que Deus escuta.
Conclusão
Ficamos por aqui!
Esperamos que tenha gostado de nossa seleção de poemas sobre rios.
Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de ver a nossa coletânea de poemas sobre viagem.
Um abraço e até a próxima!