Confira a nossa seleção de poemas sobre o sono em português!
O sono é um sentimento, ou um estado um tanto ambíguo que está presente em nossa vida.
Ao mesmo tempo em que experimentamos um certo prazer quando estamos sonolentos, perdemos algumas de nossas capacidades, como a concentração, e somos como que impelidos a dormir para restaurar-nos a energia.
Na poesia, porém, o sono ganha vida e torna-se um elemento imaginativo muito interessante, posto que, a depender de como seja abordado, pode nos evocar uma variada gama de sensações.
Dito isso, preparamos uma lista com 3 poemas sobre o sono em português para que você possa apreciar abordagens diferentes sobre este estado tão familiar.
Boa leitura!
Poemas sobre o sono
Entre o sono e o sonho, de Fernando Pessoa
Entre o sono e o sonho,
Entre mim e o que em mim
É o quem eu me suponho,
Corre um rio sem fim.Passou por outras margens,
Diversas mais além,
Naquelas várias viagens
Que todo o rio tem.Chegou onde hoje habito
A casa que hoje sou.
Passa, se eu me medito;
Se desperto, passou.E quem me sinto e morre
No que me liga a mim
Dorme onde o rio corre —
Esse rio sem fim.
O sono de João, de António Nobre
O João dorme… (Ó Maria,
Dize aquela cotovia
Que fale mais devagar:
Não vá o João, acordar…)Tem só um palmo de altura
E nem meio de largura:
Para o amigo orangotango
O João seria… um morango!
Podia engoli-lo um leão
Quando nasce! As pombas são
Um poucochinho maiores…
Mas os astros são menores!O João dorme… Que regalo!
Deixai-lo dormir, deixai-lo!
Calai-vos, águas do moinho!
Ó mar! fala mais baixinho…
E tu, Mãe! e tu, Maria!
Pede àquela cotovia
Que fale mais devagar:
Não vá o João, acordar…O João dorme… Inocente!
Dorme, dorme eternamente,
Teu calmo sono profundo!
Não acordes para o mundo,
Pode afogar-te a maré:
Tu mal sabes o que isto é…Ó Mãe! canta-lhe a canção,
Os versos do teu irmão:
«Na Vida que a Dor povoa,
Há só uma coisa boa,
Que é dormir, dormir, dormir…
Tudo vai sem se sentir.»Deixa-o dormir, até ser
Um velhinho… até morrer!E tu vê-lo-ás crescendo
A teu lado (estou-o vendo
João! Que rapaz tão lindo!)
Mas sempre, sempre dormindo…Depois, um dia virá
Que (dormindo) passará
Do berço, onde agora dorme,
Para outro, grande, enorme:
E as pombas que eram maiores
Que João… ficarão menores!Mas para isso, ó Maria!
Dize àquela cotovia
Que falle mais devagar:
Não vá o João, acordar…E os anos irão passando.
Depois, já velhinho, quando
(Serás velhinha também)
Perder a cor que, hoje, tem,
Perder as cores vermelhas
E for cheiinho de engelhas:
Morrerá sem o sentir,
Isto é deixa de dormir…
Acorda e regressa ao seio
De Deus, que é donde ele veio…Mas para isso, ó Maria!
Pede àquela cotovia
Que fale mais devagar:Não vá o João, acordar…
O sono que desce sobre mim, de Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)
O sono que desce sobre mim,
O sono mental que desce fisicamente sobre mim,
O sono universal que desce individualmente sobre mim —
Esse sono
Parecerá aos outros o sono de dormir,
O sono da vontade de dormir,
O sono de ser sono.Mas é mais, mais de dentro, mais de cima:
É o sono da soma de todas as desilusões,
É o sono da síntese de todas as desesperanças,
É o sono de haver mundo comigo lá dentro
Sem que eu houvesse contribuído em nada para isso.O sono que desce sobre mim
É contudo como todos os sonos.
O cansaço tem ao menos brandura,
O abatimento tem ao menos sossego,
A rendição é ao menos o fim do esforço,
O fim é ao menos o já não haver que esperar.Há um som de abrir uma janela,
Viro indiferente a cabeça para a esquerda
Por sobre o ombro que a sente,
Olho pela janela entreaberta:
A rapariga do segundo andar de defronte
Debruça-se com os olhos azuis à procura de alguém.
De quem?,
Pergunta a minha indiferença.
E tudo isso é sono.Meu Deus, tanto sono!…
Conclusão
Ficamos por aqui!
Esperamos que tenha gostado de nossa seleção de poemas sobre o sono.
Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de ver a nossa coletânea de poemas sobre virtude.
Um abraço e até a próxima!