Confira a nossa seleção de poemas sobre o universo em português!
Universo é uma palavra que comporta significados diversos.
Substantivamente, porém, é ela o mais das vezes empregada para representar a totalidade das coisas que existem.
Se fizermos um exercício imaginativo e tentarmos visualizar, em mente, o universo, logo notaremos sua imensidade inconcebível, e deste tamanho inimaginável, inapreensível, que compreende uma quantidade infinita de detalhes, deriva uma força igualmente grande e potente.
É claro que, notando-a, os poetas empregariam o universo literal ou metaforicamente para dotar seus versos de expressividade.
Sendo assim, preparamos uma seleção com 5 poemas sobre o universo para que você possa apreciar alguns usos criativos desta palavra.
Boa leitura!
Poemas sobre o universo
Oitava camoniana para Fernanda, de Manuel Bandeira
De Ely e Lorita, brandos, nasce a branda
(Vede da natureza o ideal concerto!),
Bonita e sem pecado algum Fernanda,
Que alegria dos pais será decerto.
E faça quem sobre o Universo manda
O mundo para ela um céu aberto,
Onde continuamente, como um dia
De claro sol, a vida lhe sorria.
Espiritualismo, de Antero de Quental
I
Como um vento de morte e de ruína,
A Dúvida soprou sobre o Universo.
Fez-se noite de súbito, imerso
O mundo em densa e álgida neblina.Nem astro já reluz, nem ave trina,
Nem flor sorri no seu aéreo berço.
Um veneno sutil, vago, disperso,
Empeçonhou a criação divina.E, no meio da noite monstruosa,
Do silêncio glacial, que paria e estende
O seu sudário, donde a morte pende,Só uma flor humilde, misteriosa,
Como um vago protesto da existência,
Desabrocha no fundo da Consciência.II
Dorme entre os gelos, flor imaculada!
Luta, pedindo um último clarão
Aos sóis que ruem imensidão,
Arrastando uma auréola apagada…Em vão! Do abismo a boca escancarada
Chama por ti na gélida amplidão…
Sobe do poço eterno, em turbilhão,
A treva primitiva conglobada…Tu morrerás também. Um ai supremo,
Na noite universal que envolve o mundo,
Há de ecoar, e teu perfume extremoNo vácuo eterno se esvairá disperso
Como o alento final dum moribundo,
Como o último suspiro do Universo.
A voz de Deus, de Fernando Pessoa
Brilha uma voz na noute…
De dentro de Fora ouvi-a…
Ó Universo, eu sou-te…
Oh, o horror da alegria
Deste pavor, do archote
Se apagar, que me guia!Cinzas de ideia e de nome
Em mim, e a voz: Ó mundo,
Sermente em ti eu sou-me…
Mero eco de mim, me inundo
De ondas de negro lume
Em que pra Deus me afundo.
Serenata, de Cecília Meireles
Repara na canção tardia
que timidamente se eleva,
num arrulho de fonte fria.O orvalho treme sobre a treva
e o sonho da noite procura
a voz que o vento abraça e leva.Repara na canção tardia
que oferece a um mundo desfeito
sua flor de melancolia.É tão triste, mas tão perfeito,
o movimento em que murmura,
como o do coração no peito.Repara na canção tardia
que por sobre o teu nome, apenas,
desenha a sua melodia.E nessas letras tão pequenas
o universo inteiro perdura.
E o tempo suspira na alturapor eternidades serenas.
Gemidos de arte, de Augusto dos Anjos
III
Pelo acidentadíssimo caminho
Faísca o sol. Nédios, batendo a cauda,
Urram os bois. O céu lembra uma lauda
Do mais incorruptível pergaminho.Uma atmosfera má de incômoda hulha
Abafa o ambiente. O aziago ar morto a morte
Fede. O ardente calor da areia forte
Racha-me os pés como se fosse agulha.Não sei que subterrânea e atra voz rouca,
Por saibros e por cem côncavos vales,
Como pela avenida das Mappales,
Me arrasta à casa do finado Toca!Todas as tardes a esta casa venho.
Aqui, outrora, sem conchego nobre,
Viveu, sentiu e amou este homem pobre
Que carregava canas para o engenho!Nos outros tempos e nas outras eras,
Quantas flores! Agora, em vez de flores,
Os musgos, como exóticos pintores,
Pintam caretas verdes nas taperas.Na bruta dispersão de vítreos cacos,
À dura luz do sol resplandecente,
Trôpega e antiga, uma parede doente
Mostra a cara medonha dos buracos.O cupim negro broca o âmago fino
Do teto. E traça trombas de elefantes
Com as circunvoluções extravagantes
Do seu complicadíssimo intestino.O lodo obscuro trepa-se nas portas.
Amontoadas em grossos feixes rijos,
As lagartixas, dos esconderijos,
Estão olhando aquelas coisas mortas!Fico a pensar no Espírito disperso
Que, unindo a pedra ao gneiss e a árvore à criança,
Como um anel enorme de aliança,
Une todas as coisas do Universo!E assim pensando, com a cabeça em brasas
Ante a fatalidade que me oprime,
Julgo ver este Espírito sublime,
Chamando-me do sol com as suas asas!Gosto do sol ignívomo e iracundo
Como o réptil gosta quando se molha
E na atra escuridão dos ares, olha
Melancolicamente para o mundo!Essa alegria imaterializada,
Que por vezes me absorve, é o óbolo obscuro,
É o pedaço já podre de pão duro
Que o miserável recebeu na estrada!Não são os cinco mil milhões de francos
Que a Alemanha pediu a Jules Favre…
É o dinheiro coberto de azinhavre
Que o escravo ganha, trabalhando aos brancos!Seja este sol meu último consolo;
E o espírito infeliz que em mim se encarna
Se alegre ao sol, como quem raspa a sarna,
Só, com a misericórdia de um tijolo!…Tudo enfim a mesma órbita percorre
E as bocas vão beber o mesmo leite…
A lamparina quando falta o azeite
Morre, da mesma forma que o homem morre.Súbito, arrebentando a horrenda calma,
Grito, e se grito é para que meu grito
Seja a revelação deste Infinito
Que eu trago encarcerado da minh’alma!Sol brasileiro! queima-me os destroços!
Quero assistir, aqui, sem pai que me ame,
De pé, à luz da consciência infame,
À carbonização dos próprios ossos!
Conclusão
Ficamos por aqui!
Esperamos que tenha gostado de nossa seleção de poemas sobre o universo.
Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de ver a nossa coletânea de poemas sobre sabedoria.
Um abraço e até a próxima!