Confira a nossa seleção de poemas sobre árvores em português!
A natureza é fonte inesgotável de inspiração para poetas de todos os séculos.
Variando da beleza à força, da placidez à intempestividade, a natureza e os fenômenos naturais sempre impressionaram o homem e lhe inspiraram sentimentos os mais diversos.
Tal é o caso das árvores que, se o mais das vezes limitam-se a compor o cenário descrito pelos versos, não raro aparecem como motivadoras e intensificadoras da inspiração poética.
Sendo assim, preparamos uma seleção com 7 poemas sobre árvores para que você possa apreciar alguns exemplos em versos de grandes poetas portugueses.
Boa leitura!
Poemas sobre árvores
Debaixo do tamarindo, de Augusto dos Anjos
No tempo de meu Pai, sob estes galhos,
Como uma vela fúnebre de cera,
Chorei bilhões de vezes com a canseira
De inexorabilíssimos trabalhos!Hoje, esta árvore, de amplos agasalhos,
Guarda, como uma caixa derradeira,
O passado da Flora Brasileira
E a paleontologia dos Carvalhos!Quando pararem todos os relógios
De minha vida, e a voz dos necrológios
Gritar nos noticiários que eu morri,Voltando à pátria da homogeneidade,
Abraçada com a própria Eternidade
A minha sombra há de ficar aqui!
Fogem as neves frias, de Camões
Fogem as neves frias
Dos altos montes quando reverdecem
As árvores sombrias;
As verdes ervas crescem,
E o prado ameno de mil cores tecem.Zéfiro brando espira;
Suas setas Amor afia agora;
Progne triste suspira,
E Filomela chora:
O céu da fresca terra se namora.Já a linda Citereia
Vem, do coro das Ninfas rodeada;
A branca Pasiteia
Despida e delicada,
Com as duas irmãs acompanhada.Enquanto as oficinas
Dos Ciclopes Vulcano está queimando,
Vão colhendo boninas
As Ninfas, e cantando,
A terra co’o ligeiro pé tocando.Desce do áspero monte
Diana, já cansada da espessura,
Buscando a clara fonte,
Onde por sorte dura
Perdeu Acteon a natural figura.Assi se vai passando
A verde Primavera e o seco Estio;
O Outono vem entrando;
E logo o Inverno frio,
Que também passará por certo fio.Ir-se-á embranquecendo
Com a frígida neve o seco monte;
E Júpiter chovendo
Turbará a clara fonte:
Temerá o marinheiro a Orionte.Porque, enfim, tudo passa;
Não sabe o Tempo ter firmeza em nada;
E a nossa vida escassa
Foge tão apressada,
Que quando se começa é acabada.Que se fez dos Troianos
Heitor temido, Eneias piedoso?
Consumiram-te os anos,
Ó Cresso tão famoso,
Sem te valer teu ouro precioso.Todo o contentamento
Crias qu’estava em ter tesouro ufano!
Oh falso pensamento!
Que à custa de teu dano
Do sábio Solon creste o desengano.O bem que aqui se alcança,
Não dura por passante, nem por forte:
Que a bem-aventurança
Durável, de outra sorte
Se há de alcançar na vida para a morte.Porque, enfim, nada basta
Contra o terrível fim da noite eterna;
Nem pode a deusa oasta
Tornar à luz superna
Hipólito da escura sombra averna.Nem Teseu esforçado,
Ou com manha, ou com força valerosa,
Livrar pode o ousado
Pirítoo da espantosa
Prisão leteia escura e tenebrosa.
Árvore, de Manoel de Barros
Um passarinho pediu a meu irmão para ser a sua árvore.
Meu irmão aceitou de ser a árvore daquele passarinho.
No estágio de ser essa árvore, meu irmão aprendeu de sol, de céu e de lua
mais do que na escola.
No estágio de ser árvore meu irmão aprendeu para santo mais do que os
padres lhes ensinavam no internato.
Aprendeu com a natureza o perfume de Deus.
Seu olho no estágio de ser árvore aprendeu melhor o azul.
E descobriu que uma casca vazia de cigarra esquecida no tronco das árvores
só presta para poesia.
No estágio de ser árvore meu irmão descobriu que as árvores são vaidosas.
Que justamente aquela árvore na qual meu irmão se transformara, envaidecia-
se quando era nomeada para o entardecer dos pássaros.
E tinha ciúmes da brancura que os lírios deixavam nos brejos. Meu irmão
agradeceu a Deus aquela permanência em árvore porque fez amizade com
muitas borboletas.
Certeza, de Miguel Torga
Sereno, o parque espera
Mostra os braços cortados,
E sonha a Primavera
Com seus olhos gelados.É um mundo que há-de vir
Naquela fé dormente;
Um sonho que há-de abrir
Em ninhos e sementes.Basta que um novo Sol
Desça do velho céu,
E diga ao rouxinol
Que a vida não morreu.
Antes de nós, de Ricardo Reis (Fernando Pessoa)
Antes de nós nos mesmos arvoredos
Passou o vento, quando havia vento,
E as folhas não falavam
De outro modo do que hoje.Passamos e agitamo-nos debalde.
Não fazemos mais ruído no que existe
Do que as folhas das árvores
Ou os passos do vento.Tentemos pois com abandono assíduo
Entregar nosso esforço à Natureza
E não querer mais vida
Que a das árvores verdes.Inutilmente parecemos grandes.
Salvo nós nada pelo mundo fora
Nos saúda a grandeza
Nem sem querer nos serve.Se aqui, à beira-mar, o meu indício
Na areia o mar com ondas três o apaga,
Que fará na alta praia
Em que o mar é o Tempo?
Velhas árvores, de Olavo Bilac
Olha estas velhas árvores, mais belas
Do que as árvores novas, mais amigas:
Tanto mais belas quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das procelas…O homem, a fera, e o insecto, à sombra delas
Vivem, livres de fomes e fadigas;
E em seus galhos abrigam-se as cantigas
E os amores das aves tagarelas.Não choremos, amigo, a mocidade!
Envelheçamos rindo! envelheçamos
Como as árvores fortes envelhecem:Na glória da alegria e da bondade,
Agasalhando os pássaros nos ramos,
Dando sombra e consolo aos que padecem!
Lago encantado, de Augusto dos Anjos
Vamos, meu desgraçado tamarindo,
Por esta grande noite abandonada…
As árvores da terra estão dormindo
E a mãe da lua já cantou na estrada!Quantos laboratórios subterrâneos
E heterogêneos mecanismos vários
E ruínas grandes e montões de estrago
E decomposições de muitos crânios
Não foram, porventura, necessários
Para formar as águas deste lago!Às suas atrações ninguém resiste:
Este é o lago de todos os Destinos.
O luar o beija. O círculo dos matos
Abrange-o, e ele é mais triste e ele é mais triste
Do que a porta fatal dos Mogrebinos
Que levou Cristo à casa de Pilatos!Rola no mundo um canto de saudade!
Tamarindo de minha mocidade,
Vamos nele saber nossos destinos?!…
Conclusão
Ficamos por aqui!
Esperamos que tenha gostado de nossa seleção de poemas sobre árvores.
Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de ver a nossa coletânea de poemas de Manoel de Barros.
Um abraço e até a próxima!