Confira a nossa seleção de poemas de Filinto de Almeida, luso-brasileiro membro e fundador da Academia Brasileira de Letras!
Filinto de Almeida, nascido no Porto, em 1857, ficou órfão de pai muito cedo e, aos dez anos, mudou-se para o Brasil, fixando-se no Rio de Janeiro, onde permaneceria até o restante de sua vida.
Como homem de letras, Filinto teve atuação destacada no jornalismo, onde colaborou com diversos periódicos cariocas, e na poesia, publicando algumas obras de mérito.
Filinto, porém, também atuou na política, elegendo-se deputado, e escreveu um romance em colaboração com sua esposa.
Dito isso, preparamos uma seleção com 4 poemas de Filinto de Almeida, para que você possa conhecer um pouco da obra desse poeta brasileiro.
Boa leitura!
Poemas de Filinto de Almeida
Balada
A Rodolfo Amoedo
Por noite velha, no castelo,
Vasto solar de meus avós,
Foi que eu ouvi, num ritornelo,
Do pajem loiro a doce voz.
Corri à ogiva para vê-lo,
Vitrais de par em par abri,
E ao ver brilhar o meu cabelo
Ele sorriu-me, e eu lhe sorri.Venceu-me logo um vivo anelo,
Queimou-me logo um fogo atroz;
E toda a longa noite velo,
Pensando em vê-lo e ouvi-lo a sós.
Triste, sentada no escabelo,
Só com a aurora adormeci…
Sonho… e no sonho, haveis de crê-lo?
Inda o meu pajem me sorri.Seguindo a amá-lo, com desvelo,
Por noite velha um ano após,
Termina enfim o meu flagelo,
Felizes fomos ambos nós…
Como isto foi, nem sei dizê-lo!
No colo seu desfaleci…
E alta manhã, no seu murzelo,
O pajem foge… e inda sorri.Dias depois, do pajem belo,
Junto ao solar onde eu o ouvi,
Ao golpe horrível do cutelo,
Rola a cabeça e inda sorri!…
A raiva de Nise
Ao que eu te digo de carinho e enleio
Respondes irritada e desdenhosa?!
Enfim, o espinho é natural na rosa
E ama a serpe esconder-se em morno seio.No meio de um mirtal em flor, no meio
De uma seara próvida e viçosa,
Às vezes surge planta venenosa
E sapos coaxam no mais claro veio.Vênus, a doce e branda, contam poetas,
De onde em onde também se encoleriza;
Nas flores mesmo há cóleras secretas.Raiva, pois, meu amor pisa e repisa,
Não me arreceio do furor que afetas:
Que é o vendaval? a cólera da brisa.
Funesta
Se passas junto a mim, eu sinto as vagas
Do fundo oceano da paixão, rolando,
Quebrarem-se em meu peito, como quando
Rebentam as do Mar nas duras fragas.Da luz do teu olhar sereno e brando
Toda a minh’alma docemente alagas;
Se por acaso ris-te e se me afagas,
Semiânime julgo-me tombando!Tens sobre mim a ação misteriosa
Que sobre o aço tem o ímã! Cismo
Que já me empolga a força deliciosa!Sou presa desse eterno magnetismo!
E quando tu me fitas silenciosa,
Sinto que vou rolar num fundo abismo!
A bordo
Tu vais! No alto mar, por sob um céu de anil,
Lúcido e transparente, infindo e imaculado.
Volve aqui para nós o semblante magoado,
Lança um último olhar às costas do Brasil.Quando a brisa marinha, indolente e sutil,
A face te oscular num beijo prolongado,
Lembra-te então de mim, do pobre desterrado,
Desta ingênua paixão, tão simples e infantil!Quando vires voar os albatrozes brancos,
Com as asas rasgando os píncaros e os flancos
Das montanhas azuis do oceano sem fim,Deixa então a tua alma atravessar o espaço…
Que ela venha poisar no meu febril regaço
E chore o teu amor lembrando-se de mim.
Conclusão
Ficamos por aqui!
Esperamos que você tenha gostado de nossa seleção de poemas de Filinto de Almeida.
Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de ver a nossa coletânea de Luís Murat.
Um abraço e até a próxima!