Avançar para o conteúdo

5 comoventes poemas sobre solidão para ler e empatizar

curso fundamentos da criação poética curso como escrever um livro de poesia

Confira a nossa lista de poemas sobre solidão e empatize com grandes poetas familiarizados com esse sentimento!

A solidão é um sentimento muito comum e, às vezes, até necessário entre artistas de todas as espécies.

Isso porque a arte brota justamente de momentos onde, só consigo mesmo, o artista aplica-se a transformar em arte aquilo que sente ou pensa.

A solidão, portanto, possui como que duas faces: a primeira, essa face positiva que possibilita ao artista, no silêncio, exercer a sua potencialidade criadora; a segunda, em contrapartida, é a que faz com que o artista sinta-se desamparado e, muitas vezes, é geradora de melancolia ou tristeza.

Seja como for, o que não deixa dúvidas é que este sentimento já motivou muitos e muitos poetas, e é frequente encontrarmos poemas sobre solidão entremeando grandes obras poéticas.

Estejam eles abordando uma ou outra face da solidão, a verdade é que esse tema costuma gerar versos comoventes.

Por isso, preparamos uma seleção com 5 poemas sobre solidão para que você possa ler e empatizar com o sentimento expresso pelo poeta.

Boa leitura!

Poemas sobre solidão

Ausência, de Teixeira de Pascoaes

Lúgubre solidão! Ó noite triste!
Como sinto que falta a tua Imagem
A tudo quanto para mim existe!

Tua bendita e efêmera passagem
No mundo, deu ao mundo em que viveste,
À nossa boa e maternal Paisagem,

Um espírito novo mais celeste;
Nova Forma a abraçou e nova Cor
Beijou, sorrindo, o seu perfil agreste!

E ei-la agora tão triste e sem verdor!
Depois da tua morte, regressou
Ao seu velhinho estado anterior.

E esta saudosa casa, onde brilhou
Tua voz num instante sempiterno,
Em negra, íntima noite se ocultou.

Quando chego à janela, vejo o inverno;
E, à luz da lua, as sombras do arvoredo
Lembram as sombras pálidas do Inferno.

Dos recantos escuros, em segredo,
Nascem Visões saudosas, diluídos
Traços da tua Imagem, arremedo

Que a Sombra faz, em gestos doloridos,
Do teu Vulto de sol a amanhecer…
A Sombra quer mostrar-se aos meus sentidos…

Mas eu que vejo? A luz escurecer;
O imperfeito, o indeciso que, em nós, deixa
A amargura de olhar e de não ver…

A voz da minha dor, da minha queixa,
Em vão, por ti, na fria noite clama!
Dir-se-á que o céu e a terra, tudo fecha

Os ouvidos de pedra! Mas quem ama,
Embora no silêncio mais profundo,
Grita por seu amor: é voz de chama!

E eu grito! E encontro apenas sobre o mundo,
Para onde quer que eu olhe, aqui, além,
A tua Ausência trágica! E no fundo

De mim próprio que vejo? Acaso alguém?
Só vejo a tua Ausência, a Desventura
Que fez da noite a imagem de tua Mãe!

A tua Ausência é tudo o que murmura,
E mostra a face triste à luz da aurora,
E se espraia na terra em sombra escura…

Quem traz o outono ao meu jardim agora?
Quem muda em cinza o fogo do meu lar?
E quem soluça em mim? Quem é que chora?

É a tua Ausência, Amor, que vem turbar
Esta alegria etérea, nuvem, asa
De Anjo que, ás vezes, passa em nosso olhar!

O Sol é a tua Ausência que se abrasa,
A Lua é tua Ausência enfraquecida…
Da tua Ausência é feita a minha vida
E os meus versos também e a minha casa.

Só! — Ao ermita sozinho na montanha, de Antero de Quental

Só! — Ao ermita sozinho na montanha
Visita-o Deus e dá-lhe confiança:
No mar, o nauta, que o tufão balança,
Espera um sopro amigo que o céu tenha…

Só! — Mas quem se assentou em riba estranha,
Longe dos seus, lá tem inda a lembrança:
E Deus deixa-lhe ao menos a esperança
Ao que á noite soluça em erma penha…

Só! — Não o é quem na dor, quem nos cansaços,
Tem um laço que o prenda a este fadário.
Uma crença, um desejo… e inda um cuidado…

Mas cruzar, com desdém, inertes braços,
Mas passar, entre turbas, solitário,
Isto é ser só, é ser abandonado!

Estás só, de Ricardo Reis (Fernando Pessoa)

Estás só. Ninguém o sabe. Cala e finge.
Mas finge sem fingimento.
Nada ‘speres que em ti já não exista,
Cada um consigo é triste.
Tens sol se há sol, ramos se ramos buscas,
Sorte se a sorte é dada.

Desperdício, de Carlos Drummond de Andrade

Solidão, não te mereço,
pois que te consumo em vão.
Sabendo-te embora o preço,
calco teu ouro no chão.

Hino à Solidão, de António Feijó

Diz-se que a solidão torna a vida um deserto;
Mas quem sabe viver com a sua alma nunca
Se encontra só; a Alma é um mundo, um mundo aberto
Cujo átrio, a nossos pés, de pétalas se junca.

Mundo vasto que mil existências povoam:
Imagens, concepções, formas do sentimento,
— Sonhos puros que nele em beleza revoam
E ficam a brilhar, sóis do seu firmamento.

Dia a dia, hora a hora, o Pensamento lavra
Esse fecundo chão onde se esconde e medra
A semente que vai germinar na Palavra,
Cantar no Som, flores na Cor, sorrir na Pedra!

Basta que certa luz de seus raios aqueça
A semente que jaz na sua leiva escondida,
Para que ela, a sorrir, desabroche e floresça,
De perfumes enchendo as estradas da Vida.

Sei que embora essa luz nem para todos tenha
O mesmo brilho, o mesmo impulso criador,
Da Glória, sempre vã, todo o asceta desdenha,
Vivendo como um deus no seu mundo interior.

E que mundo sublime, esse em que ele se agita!
Mundo que de si mesmo e em si mesmo criou,
E em cuja criação o seu sangue palpita,
Que não há deus estranho aos orbes que formou.

Nem lutas, nem paixões: ideais serenidades
Em que o Tempo se esvai sob o encanto da Hora…
O passado e o porvir são ânsias e saudades:
Só no instante que passa a plenitude mora.

Sombra crepuscular, que a Noite não atinge,
Nem a Aurora desfaz: rosicler e luar,
Meia tinta em que a Alma abre os lábios de Esfinge,
E o seu mistério ensina a quem sabe escutar.

Mas então, inundando essa penumbra doce,
De não sei que sublime esplendor sideral,
Como se a emanação dum ser divino fosse,
Deixa no nosso olhar um reflexo imortal.

Na vertigem que a vida exalta e desvaria,
Para alguém para ouvir um coração que bate
No seio mais formoso, o olhar que se extasia
Vê o mundo que nele em ânsias se debate?

É só na solidão que a alma se revela,
Como uma flor nocturna as pétalas abrindo,
A uma luz, que é talvez o clarão duma estrela,
Talvez o olhar de Deus, de astro em astro caindo…

E dessa luz, a flor sem forma, há pouco obscura,
Recebe o seu quinhão de graça e de pureza,
Como das mãos do artista, animando a escultura,
O mármore recebe a sua alma — a Beleza.

Se sofrer é pensar, na paz do isolamento,
Como dum cálix cheio o líquido extravasa,
A Dor, que a Alma empolgou, transborda em pensamento,
E a pouco e pouco extingue o fogo em que se abrasa.

Como a montanha de oiro, a Alma, em seu mistério,
À superfície nunca o seu teor revela;
Só depois de sondado e fundido o minério
Se conhece a riqueza acumulada nela.

Corações que a Existência em tumulto arrebata!
Esse oiro só se extrai do minério candente,
No silêncio, na paz, na quietação abstracta,
Das estrelas do céu sob o olhar indulgente…

Conclusão

Ficamos por aqui!

Esperamos que tenha gostado de nossa seleção de poemas sobre solidão.

Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de ver a nossa coletânea de poemas sobre a morte.

Um abraço e até a próxima!

Como citar este conteúdo COMO FAZER UM POEMA. 5 comoventes poemas sobre solidão para ler e empatizar. [S.I.] 2021. Disponível em: https://comofazerumpoema.com/comoventes-poemas-sobre-solidao-poesia-so/. Acesso em: 26 out. 2024.