Avançar para o conteúdo

Elegia: o que é, tipos, características e exemplos

curso fundamentos da criação poética curso como escrever um livro de poesia

Saiba o que é elegia na poesia, quais seus tipos, suas características e veja exemplos de elegias em português!

A elegia é um dos tipos de composição poética mais autênticos e, desde a Grécia, vem sendo explorada por poetas.

Inicialmente sendo mais associada à forma que ao conteúdo, hoje a palavra elegia significa, para nós, uma canção de lamento, uma composição triste.

Dito isso, preparamos esse texto para que você saiba o que é elegia na poesia, quais seus tipos, suas características, e veja exemplos de elegias em português.

Boa leitura!

O que é elegia?

O dicionário Houaiss dá-nos três definições de elegia:

  1. literatura.
    poema composto de versos hexâmetros e pentâmetros alternados.
  2. literatura.
    poema lírico de tom ger. terno e triste.
  3. música.
    canção de lamento; nênia.

Vemos, pois, que nas acepções referentes à literatura, temos basicamente dois sentidos para a palavra.

No primeiro deles, elegia refere-se a um poema que alterna hexâmetros e pentâmetros; tal combinação é conhecida como dístico elegíaco, e era muito comum na antiguidade greco-romana.

Na segunda acepção, elegia é sinônimo de um canto “geralmente terno e triste”, e é este o sentido que a palavra elegia tem, hoje, para nós.

Uma elegia, portanto, pode ser resumida como uma composição melancólica, e por isso sua temática está geralmente relacionada à morte, ao amor não correspondido ou a outros acontecimentos tristes.

A evolução no sentido da palavra elegia

Como dissemos, elegia, para os gregos, referia-se à forma de um poema; aliás, era costume entre os gregos o classificar poemas primariamente pela forma.

Quando confrontada com a epopeia, que apresentava um número fixo de pés em seus versos, a elegia diferia por alternar hexâmetros e pentâmetros.

A elegia era comumente recitada em locais públicos, o mais das vezes pelo próprio autor que a compôs, e era geralmente acompanhada de um único instrumento musical (o mais comum era a flauta).

Embora tenha sido o dístico elegíaco utilizado em versos dos mais diferentes gêneros, desde a antiguidade houve forte associação entre eles e os acontecimentos lutuosos, e foram eles muito utilizados para cantos fúnebres e lamentos de morte.

Em tempos modernos, podemos dizer como dizem Olavo Bilac e Guimarães Passos, em seu Tratado de versificação:

No moderno sentido da palavra, elegia é uma composição melancólica, destinada a exprimir sentimentos e pensamentos tristes. Com esta significação, já a elegia era empregada pelos hebreus. Na Bíblia, o adeus da filha de Jefté às suas companheiras, as lamentações de Davi junto de Gelboé, e todo o livro de Jó são verdadeiras elegias.

Vemos, pois, que foi um tanto natural que a palavra elegia tomasse o sentido que tem hoje para nós.

Tipos de elegia

De acordo com sua temática, a elegia pode ser classificada em:

  • marcial, guerreira ou heroica, se aborda temas marciais e o heroísmo guerreiro;
  • amorosa ou erótica, se aborda o amor, o sofrimento amoroso e assuntos similares;
  • moral ou filosófica, se faz uma reflexão filosófica ou moral;
  • gnômica ou moralista, quando inspira a elevação moral do homem;
  • fúnebre, quando se resume a um lamento de morte ou a um canto funéreo;
  • religiosa, quando aborda temáticas relacionadas à religião.

Características da elegia

Como pertence a elegia ao gênero lírico, a primeira característica que nela destacamos é a subjetividade.

Ad Curso de Poesia

A elegia, portanto, não se destina a narrar fatos objetivos, mas expressar sentimentos, emoções e pensamentos experimentados pelo eu lírico.

Em segundo lugar, destacamos na elegia o fortíssimo apelo sentimental quase sempre presente, qualidade decorrente das temáticas abordadas, que frequentemente envolvem morte, perda e dor.

Finalmente, citamos a principal marca da elegia: trata-se de uma composição melancólica, que aborda pensamentos e sentimentos tristes.

A elegia é a composição poética por excelência destinada ao pranto, ao lamento e a acontecimentos fúnebres.

Exemplos de elegias

Estâncias, de Gonçalves Dias

I

O nosso índio errante vaga;
Mas por onde quer que vá,
Os ossos dos seus carrega;
Por isso onde quer que chega
Da vida n’amplo deserto,
Como que a pátria tem perto,
Nunca dos seus longe está!

II

Tem para si que a poeira
Daquele que choram morto,
Quando a alma já descansa
Da eternidade no porto,
Nenhures está melhor
Do que na urna grosseira
Que a cada momento enxergam,
Que de instante a instante regam
Com seu prantear de amor!

III

Ando como ele incessante,
Forasteiro, vago, errante,
Sem próprio abrigo, sem lar,
Sem ter uma voz amiga
Que em minha aflição me diga
Dessas palavras que fazem
A dor no peito abrandar!

______________

E sei que morreste, filha!
Sei que a dor de te perder
Em quanto eu for vivo, nunca.
Nunca se há de esvaecer!
Mas qual teu jazigo? e onde
Jazem teus restos mortais?…
Esse lugar que te esconde.
Não vi: — não verei jamais!

IV

Não sei se aí nasce a relva,
Se algum arbusto s’enflora
A cada nova estação;
Se a cada nascer da aurora
O orvalho lágrimas chora
Sobre esse humilde torrão!
Se aí nasce o triste goivo,
Ou só espinhos e abrolhos,
Ou se também de alguns olhos
Recebes pia oblação.

V

Sei que o pranto, que se verte
Longe do morto, não basta:
É pranto que a dor não gasta,
Que nenhum alivio traz!
Sei que ao partir-me da vida,
Minha alma andará perdida
Para saber onde estás!

VI

Irei beijar teu sepulcro.
Chorar meu último adeus.
Depois, remontando aos céus.
Direi a Deus: “Aqui estou!”
Tu, dentre o coro dos anjos,
— Dos Serafins resplendentes —
Então — as asas candentes,
Que a vida não maculou,
— Desprega! — e meiga, humilhada,
Ao trono do Eterno vai,
E na linguagem dos anjos,
Dize a Jesus: “É meu pai!”

VII

Ele humanou-se! — quis ser
Filho também de mulher;
Mas d’homem, não; porque os céus
Não tem espaço bastante
Para um homem — pai de Deus!

VIII

Bem sabe ele quanta glória
Sente o pai, que um anjo tem!
Julgará que, pois perdida
Teve uma filha na vida,
Não a perca lá também!

À morte de Gonçalves Dias, de Machado de Assis

“Morto, é morto o cantor dos meus guerreiros!
Virgens da mata, suspirai comigo!

A grande água o levou como invejosa.
Nenhum pé trilhará seu derradeiro
Fúnebre leito; ele repousa eterno
Em sítio onde nem olhos de valentes,
Nem mãos de virgens poderão tocar-lhes
Os frios restos. Sabiá da pátria
De longe o chamará saudoso e meigo,
Sem que ele venha repetir-lhe o canto.
Morto, é morto o cantor de meus guerreiros!
Virgens da mata, suspirai comigo!

Ele houvera do Ibarque o dom supremo
De modular nas vozes a ternura,
A cólera, o valor, tristeza e mágoa,
E repetir aos namorados ecos
Quanto vive e reluz no pensamento.
Sobre a margem das águas escondidas,
Virgem nenhuma suspirou mais terna,
Nem mais válida a voz ergueu na taba,
Suas nobres ações cantando aos ventos,
O guerreiro tamoio. Doce e forte,
Brotava-lhe do peito a alma divina.
Morto, é morto o cantor dos meus guerreiros!
Virgens da mata, suspirai comigo!

Coema, a doce amada de Itajuba,
Coema não morreu; a folha agreste
Pode em ramas ornar-lhe a sepultura,
E triste o vento suspirar-lhe em torno:

Ela perdura, a virgem dos Timbiras,
Ela vive entre nós. Airosa e linda,
Sua nobre figura adorna as festas
E enflora os sonhos dos valentes. Ele,

O famoso cantor quebrou da morte
O eterno jugo; e a filha da floresta
Há de a história guardar das velhas tabas
Inda depois das últimas ruínas.
Morto, é morto o cantor dos meus guerreiros!
Virgens da mata, suspirai comigo!

O piaga, que foge a estranhos olhos,
E vive e morre na floresta escura,
Repita o nome do cantor; nas águas,
Que o rio leva ao mar, mande-lhe ao menos
Uma sentida lágrima, arrancada
Do coração que ele tocara outrora,
Quando o ouviu palpitar sereno e puro,
E na voz celebrou de eternos carmes…
Morto, é morto o cantor dos meus guerreiros!
Virgens da mata, suspirai comigo!”

Elegia 1938, de Carlos Drummond de Andrade

Trabalhas sem alegria para um mundo caduco,
onde as formas e as ações não encerram nenhum exemplo.
Praticas laboriosamente os gestos universais,
sentes calor e frio, falta de dinheiro, fome e desejo sexual.

Heróis enchem os parques da cidade em que te arrastas,
e preconizam a virtude, a renúncia, o sangue-frio, a concepção.
À noite, se neblina, abrem guarda-chuvas de bronze
ou se recolhem aos volumes de sinistras bibliotecas.

Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra
e sabes que, dormindo, os problemas te dispensam de morrer.
Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquina
e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras.

Caminhas entre mortos e com eles conversas
sobre coisas do tempo futuro e negócios do espírito.
A literatura estragou tuas melhores horas de amor.
Ao telefone perdeste muito, muitíssimo tempo de semear.

Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrota
e adiar para outro século a felicidade coletiva.
Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição
porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan.

Elegia de verão, de Manuel Bandeira

O sol é grande. Ó coisas
Todas vãs, todas mudaves!
(Como esse “mudaves”,
Que hoje é “mudáveis”
E já não rima com “aves”.)

O sol é grande. Zinem as cigarras
Em Laranjeiras.
Zinem as cigarras: zino, zino, zino…
Como se fossem as mesmas
Que eu ouvi menino.

Ó verões de antigamente!
Quando o Largo do Boticário
Ainda poderia ser tombado.
Carambolas ácidas, quentes de mormaço;
Água morna das caixas-d’água vermelhas de ferrugem;
Saibro cintilante…

O sol é grande. Mas, ó cigarras que zinis,
Não sois as mesmas que eu ouvi menino.
Sois outras, não me interessais…
Deem-me as cigarras que eu ouvi menino.

Conclusão

Ficamos por aqui!

Esperamos que você tenha gostado de nosso texto e aprendido o que é elegia e quais são suas principais características.

Loading

Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de ver o que escrevemos sobre a ode.

Um abraço e até a próxima!