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8 ótimos poemas sobre o vento em português!

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Confira a nossa seleção de poemas sobre o vento em português!

Sem sombra de dúvida, o vento é um dos fenômenos naturais mais interessantes e inspiradores que se tem notícia.

Suas inúmeras variações de intensidade provocam-nos igual número de variações sensoriais.

Uma brisa leve, quando toca nossa face, produz em nós sensações agradáveis, que podem variar desde um gostoso relaxamento até um sentimento de liberdade e alegria.

Em contrapartida, uma borrasca pode nos assustar e suscitar em nós grande temor e outros sentimentos negativos.

Naturalmente, ninguém melhor que os poetas exploraram estas características tão interessantes do vento, e usaram-no de inspiração seja para criar uma atmosfera específica, seja como expressão do próprio sentimento manifesto pelos versos.

Sendo assim, preparamos uma seleção com 8 poemas sobre o vento em português para que você possa notar as muitas possibilidades de se trabalhar poeticamente este fenômeno natural.

Boa leitura!

Poemas sobre o vento

Canção da donzela finlandesa, de Almeida Garrett

Oh! se o meu Bem me volver,
Se quem dantes via, eu vejo
Traga ele a boca a escorrer
De lobo em sangue, lha beijo;
E a mão vou-lha apertar,
Cobras lha andem a enroscar.
Ah! se o vento alma tivera,
Língua o ar da primavera,
Fora a sua voz bastante:
Novas levara e trouxera
Entre um e outro amante.
Desprezo finos guisados,
Deixo ao cura os assados;
Só quero amar, ser constante
A quem o verão me deu
E o inverno afez a ser meu.

Idílio, de Antero de Quental

Quando nós vamos ambos, de mãos dadas,
Colher nos vales lírios e boninas,
E galgamos dum fôlego as colinas
Dos rocios da noite inda orvalhadas;

Ou, vendo o mar, das ermas cumeadas,
Contemplamos as nuvens vespertinas,
Que parecem fantásticas ruínas
Ao longe, no horizonte, amontoadas:

Quantas vezes, de súbito, emudeces!
Não sei que luz no teu olhar flutua;
Sinto tremer-te a mão, e empalideces…

O vento e o mar murmuram orações,
E a poesia das cousas se insinua
Lenta e amorosa em nossos corações.

Discurso, de Cecília Meireles

E aqui estou, cantando.

Um poeta é sempre irmão do vento e da água:
deixa seu ritmo por onde passa.

Venho de longe e vou para longe:
mas procurei pelo chão os sinais do meu caminho
e não vi nada, porque as ervas cresceram e as serpentes andaram.

Também procurei no céu a indicação de uma trajetória,
mas houve sempre muitas nuvens.
E suicidaram-se os operários de Babel.

Pois aqui estou, cantando.

Se eu nem sei onde estou,
como posso esperar que algum ouvido me escute?

Ah! se eu nem sei quem sou,
como posso esperar que venha alguém gostar de mim?

Sopra demais o vento, de Fernando Pessoa

Sopra demais o vento
Para eu poder descansar…
Há no meu pensamento
Qualquer coisa que vai parar…

Talvez esta coisa da alma
Que acha real a vida…
Talvez esta coisa calma
Que me faz a alma vivida…

Sopra um vento excessivo…
Tenho medo de pensar…
O meu mistério eu avivo
Se me perco a meditar.

Vento que passa e esquece,
Poeira que se ergue e cai…
Ai de mim se eu pudesse
Saber o que em mim vai!…

Música, de Cecília Meireles

Noite perdida,
Não te lamento:
embarco a vida

no pensamento,
busco a alvorada
do sonho isento,

puro e sem nada,
— rosa encarnada,
intacta, ao vento.

Noite perdida,
noite encontrada,
morta, vivida,

e ressuscitada…
(Asa da lua
quase parada,

mostra-me a sua
sombra escondida,
que continua

a minha vida
num chão profundo!
— raiz prendida

a um outro mundo.)
Rosa encarnada
do sonho isento,

muda alvorada
que o pensamento
deixa confiada

ao tempo lento..
Minha partida,
minha chegada,

é tudo vento…

Ai da alvorada!
Noite perdida,
noite encontrada…

O romper d’alva, de Gonçalves Dias

Quand ta corde n’aurait qu’un son,
Harpe fidèle, chante encore
Le Dieu que ma jeunesse adore.
Car c’est un hymne que son nom.
— Lamartine

Do vento o rijo sopro as mansas ondas
Varreu do imenso pego, — e o mar rugindo
As nuvens se elevou com fúria insana;
Enoveladas vagas se arrojaram

Ao céu co’a branca espuma!
Raivando em vão se encontram soluçando
Na base d’erma rocha descalvada;
Em vão de fúrias crescem, que se quebra
A força enorme do impotente orgulho
Na rocha altiva ou na arenosa praia. _
Da tormenta o furor lhe acende os brios,
Da tormenta o furor lh’enfreia as iras,
Que em teimosos gemidos se descerram,
Da quieta noite despertando os ecos
Além, no vale humilde, onde não chega
Seu sanhudo gemer, que o dia abafa.

Mas a brisa sussurrando
A face do céu varreu,
Tristes nuvens espalhando,
Que a noite em ondas verteu.

Além, atrás da montanha,
Branda luz se patenteia,
Que d’alma a dor afugenta,
Se dentro sentida anseia.

Branda luz, que afaga a vista,
De que se ama o céu tingir,
Quando entre o azul transparente
Parece alegre sorrir;

Como és linda! — Como dobras
Da vida a força e do amor!
— Que tão bem luz dentro d’alma
Teu luzir encantador!

No teu ameno silêncio
A tormenta se perdeu,
E do mar a forte vida
Nos abismos se escondeu!

Porque assim de novo agora
Que o vento o não vem toldar,
Parece que vai queixoso
Mansamente a soluçar?

Porque as ramas do arvoredo,
Bem como as ondas do mar,
Sem correr sopro de vento,
Começam de murmurar?

Sobre o tapiz d’alva relva,
— Rocio da madrugada —
Destila gotas de orvalho
A verde folha inclinada.

Renascida a natureza
Parece sentir amor;
Mais brilhante, mais viçosa
O cálix levanta a flor.

Por entre as ramas ocultas,
Docemente a gorjear,
Acordam trinando as aves,
Alegres, no seu trinar.

O arvoredo nessa língua
Que diz, por que assim sussurra?
Que diz o cantar das aves?
Que diz o mar que murmura?

— Dizem um nome sublime,
O nome do que é Senhor,
Um nome que os anjos dizem,
O nome do Criador.

Tão bem eu, Senhor, direi
Teu nome — do coração,
E ajuntarei o meu hino
Ao hino da criação.

Quando a dor meu peito acanha,
Quando me rala a aflição.
Quando nem tenho na terra
Mesquinha consolação;

Tu, Senhor, do peso insano
Livras meu peito arquejante,
Secas-me o pranto que os olhos
Vertendo estão abundante.

Tu pacificas minha alma,
Quando se rasga com pena,
Como a noite que se esconde
Na luz da manhã serena.

Tu és a luz do universo,
Tu és o ser criador,
Tu és o amor, és a vida,
Tu és meu Deus, meu Senhor.

Direi nas sombras da noite,
Direi ao romper da aurora:
— Tu és o Deus do universo,
O Deus que minha alma adora.

Tão bem eu, Senhor, direi
Teu nome — do coração,
E ajuntarei o meu hino
Ao hino da criação.

Cantiga, de Cecília Meireles

Ai! A manhã primorosa
do pensamento…
Minha vida é uma pobre rosa
ao vento.

Passam arroios de cores
sobre a paisagem.
Mas tu eras a flor das flores,
Imagem!

Vinde ver asas e ramos,
na luz sonora!
Ninguém sabe para onde vamos
agora.

Os jardins têm vida e morte,
noite e dia…
Quem conhecesse a sua sorte,
morria.

E é nisto que se resume
o sofrimento:
cai a flor, — e deixa o perfume
no vento!

Fúria nas trevas o vento, de Fernando Pessoa

Fúria nas trevas o vento
Num grande som de alongar,
Não há no meu pensamento
Senão não poder parar.

Parece que a alma tem
Treva onde sopre a crescer
Uma loucura que vem
De querer compreender.

Raiva nas trevas o vento
Sem se poder libertar.
Estou preso ao meu pensamento
Como o vento preso ao ar.

Conclusão

Ficamos por aqui!

Esperamos que tenha gostado de nossa seleção de poemas sobre o vento.

Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de ver a nossa coletânea de poemas de motivação.

Um abraço e até a próxima!

Como citar este conteúdo COMO FAZER UM POEMA. 8 ótimos poemas sobre o vento em português!. [S.I.] 2023. Disponível em: https://comofazerumpoema.com/otimos-poemas-sobre-o-vento-portugues-poesia/. Acesso em: 25 out. 2024.