Confira a nossa seleção de poemas de fim de ano e Ano-Novo em português!
Para muitos o fim de ano, que congrega o Natal e o Ano-Novo, é a melhor época do ano.
Sem dúvida, é esta uma época muito inspiradora, e para além das festividades tradicionais, é uma época que nos faz pensar.
Difícil alguém que não experimente este clima que paira no ar sempre neste período, esta sensação de que estamos deixando um ano para trás, com seus bons e maus momentos, seus sucessos e fracassos, para enfim entrarmos num novo ano que nos guarda novas surpresas e novas oportunidades.
Assim, é natural que poetas de todos os tempos tenham sido estimulados pelas mesmíssimas reflexões que experimentamos hoje.
Dito isso, preparamos uma seleção com 8 poemas de fim de ano e Ano-Novo para que você possa apreciar diferentes abordagens para este tema.
Boa leitura!
Poemas de fim de ano e Ano-Novo
Esperança, de Mário Quintana
Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
Atira-se
E
— ó delicioso voo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,
Outra vez criança…
E em torno dela indagará o povo:
— Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá
(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:
— O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA…
- Confira nossa análise completa de Esperança, de Mário Quintana.
Consoada, de Manuel Bandeira
Quando a Indesejada das gentes chegar
(Não sei se dura ou caroável),
Talvez eu tenha medo.
Talvez sorria, ou diga:
— Alô, iniludível!
O meu dia foi bom, pode a noite descer.
(A noite com os seus sortilégios.)
Encontrará lavrado o campo, a casa limpa,
À mesa posta,
Com cada coisa em seu lugar.
- Confira nossa análise completa de Consoada, de Manuel Bandeira.
Renova-te, de Cecília Meireles
Renasce em ti mesmo.
Multiplica os teus olhos, para verem mais.
Multiplica os teus braços, para semeares tudo.
Destrói os olhos que tiverem visto.
Cria outros, para as visões novas.
Destrói os braços que tiverem semeado,
Para se esquecerem de colher.
Sê sempre o mesmo.
Sempre outro.
Mas sempre alto.
Sempre longe.
E dentro de tudo.
Sísifo, de Miguel Torga
Recomeça…
Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças…
Ano Novo, de Ferreira Gullar
Meia-noite. Fim
de um ano, início
de outro. Olho o céu:
nenhum indício.Olho o céu:
o abismo vence o
olhar. O mesmo
espantoso silêncio
da Via-Láctea feito
um ectoplasma
sobre a minha cabeça
nada ali indica
que um ano novo começa.E não começa
nem no céu nem no chão
do planeta:
começa no coração.Começa como a esperança
de vida melhor
que entre os astros
não se escuta
nem se vê
nem pode haver:
que isso é coisa de homem
esse bicho
estelar
que sonha
(e luta).
O ano passado, de Carlos Drummond de Andrade
O ano passado não passou,
continua incessantemente.
Em vão marco novos encontros.
Todos são encontros passados.As ruas, sempre do ano passado,
e as pessoas, também as mesmas,
com iguais gestos e falas.
O céu tem exatamente
sabidos tons de amanhecer,
de sol pleno, de descambar
como no repetidíssimo ano passado.Embora sepultos, os mortos do ano passado
sepultam-se todos os dias.
Escuto os medos, conto as libélulas,
mastigo o pão do ano passado.E será sempre assim daqui por diante.
Não consigo evacuar
o ano passado.
Natal, de José Régio
Mais uma vez, cá vimos
Festejar o teu novo nascimento,
Nós, que, parece, nos desiludimos
Do teu advento!Cada vez o teu Reino é menos deste mundo!
Mas vimos, com as mãos cheias dos nossos pomos,
Festejar-te, — do fundo
Da miséria que somos.Os que à chegada
Te vimos esperar com palmas, frutos, hinos,
Somos — não uma vez, mas cada —
Teus assassinos.À tua mesa nos sentamos:
Teu sangue e corpo é que nos mata a sede e a fome;
Mas por trinta moedas te entregamos;
E por temor, negamos o teu nome.Sob escárnios e ultrajes,
Ao vulgo te exibimos, que te aclame;
Te rojamos nas lajes;
Te cravejamos numa cruz infane.Depois, a mesma cruz, a erguemos,
Como um farol de salvação,
Sobre as cidades em que ferve extremos
A nossa corrupção.Os que em leilão a arrematamos
Como sagrada peça única,
Somos os que jogamos,
Para comércio, a tua túnica.Tais somos, os que, por costume,
Vimos, mais uma vez,
Aquecer-nos ao lume
Que do teu frio e solidão nos dês.Como é que ainda tens a infinita paciência
De voltar, — e te esqueces
De que a nossa indigência
Recusa Tudo que lhe ofereces?Mas, se um ano tu deixas de nascer,
Se de vez se nos cala a tua voz,
Se enfim por nós desistes de morrer,
Jesus recém-nascido!, o que será de nós?!
E por vezes as noites duram meses, de David Mourão-Ferreira
E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos. E por vezesencontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezesao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramosE por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se evolam tantos anos.
Conclusão
Ficamos por aqui!
Esperamos que tenha gostado de nossa seleção de poemas de fim de ano e Ano-Novo.
Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de ver a nossa coletânea de poemas sobre o futuro.
Um abraço e até a próxima!