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3 profundos poemas existencialistas para ler e refletir

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Confira a nossa seleção de poemas existencialistas em português!

O existencialismo é característico, entre outras coisas, por inserir a realidade íntima do indivíduo (com suas angústias e singularidades) no centro da investigação filosófica.

O existencialista sofre e digladia-se para responder a mais importante das perguntas: qual o sentido de sua existência?

Assim, embora o início de tal corrente filosófica seja frequentemente datado do final do século XIX, tais reflexões e angústias já haviam estado presentes em espíritos de outrora, que as expressaram na literatura.

Como era de se esperar, o existencialismo não se limitou ao terreno da filosofia, influenciando e invadindo outras áreas, como a poesia, nesta através de versos extremamente potentes e expressivos.

Sendo assim, preparamos uma seleção com 3 poemas existencialistas em português, para que você reflita com abordagens de grandes poetas para questões fundamentais do existencialismo.

Boa leitura!

Poemas existencialistas

Elogio da morte, de Antero de Quental

Morrer é ser iniciado.
Antologia Grega.

I

Altas horas da noite, o Inconsciente
Sacode-me com força, e acordo em susto.
Como se o esmagassem de repente,
Assim me para o coração robusto.

Não que de larvas me povoe a mente
Esse vácuo noturno, mudo e augusto,
Ou forceje a razão por que afugente
Algum remorso, com que encara a custo…

Nem fantasmas noturnos visionários,
Nem desfilar de espectros mortuários,
Nem dentro de mim terror de Deus ou Sorte…

Nada! o fundo dum poço, úmido e morno,
Um muro de silêncio e treva em torno,
E ao longe os passos sepulcrais da Morte.

II

Na floresta dos sonhos, dia a dia,
Se interna meu dorido pensamento.
Nas regiões do vago esquecimento
Me conduz, passo a passo, a fantasia.

Atravesso, no escuro, a névoa fria
Dum mundo estranho, que povoa o vento,
E meu queixoso e incerto sentimento
Só das visões da noite se confia.

Que místicos desejos me enlouquecem?
Do Nirvana os abismos aparecem,
A meus olhos, na muda imensidade!

Nesta viagem pelo ermo espaço,
Só busco o teu encontro e o teu abraço,
Morte! irmã do Amor e da Verdade!

III

Eu não sei quem tu és — mas não procuro
(Tal é minha confiança) devassá-lo.
Basta sentir-te ao pé de mim, no escuro,
Entre as formas da noite, com quem falo.

Através do silêncio frio e obscuro
Teus passos vou seguindo, e, sem abalo,
No cairel dos abismos do Futuro
Me inclino à tua voz, para sondá-lo.

Por ti me engolfo no noturno mundo
Das visões da região inominada,
A ver se fixo o teu olhar profundo…

Fixá-lo, compreendê-lo, basta uma hora,
Funérea Beatriz de mão gelada…
Mas única Beatriz consoladora!

IV

Longo tempo ignorei (mas que cegueira
Me trazia este espírito enublado!)
Quem fosses tu, que andavas a meu lado,
Noite e dia, impassível companheira…

Muitas vezes, é certo, na canseira,
No tédio extremo dum viver magoado,
Para ti levantei o olhar turbado,
Invocando-te, amiga derradeira…

Mas não te amava então nem conhecia:
Meu pensamento inerte nada lia
Sobre essa muda fronte, austera e calma.

Luz íntima, afinal, alumiou-me…
Filha do mesmo pai, já sei teu nome,
Morte, irmã coeterna da minha alma!

V

Que nome te darei, austera imagem,
Que avisto já num ângulo da estrada,
Quando me desmaiava a alma prostrada
Do cansaço e do tédio da viagem?

Em teus olhos vê a turba uma voragem,
Cobre o rosto e recua apavorada…
Mas eu confio em ti, sombra velada,
E cuido perceber tua linguagem…

Mais claros vejo, a cada passo, escritos,
Filha da noite, os lemas do Ideal,
Nos teus olhos profundos sempre fitos…

Dormirei no teu seio inalterável,
Na comunhão da paz universal,
Morte libertadora e inviolável!

VI

Só quem teme o Não-ser é que se assusta
Com teu vasto silêncio mortuário,
Noite sem fim, espaço solitário,
Noite da Morte, tenebrosa e augusta…

Eu não: minh’alma humilde mas robusta
Entra crente em teu átrio funerário:
Para os mais és um vácuo cinerário,
A mim sorri-me a tua face adusta.

A mim seduz-me a paz santa e inefável
E o silêncio sem par do Inalterável,
Que envolve o eterno amor no eterno luto.

Talvez seja pecado procurar-te,
Mas não sonhar contigo e adorar-te,
Não-ser, que és o Ser único absoluto.

Sonho. Não sei quem sou neste momento, de Fernando Pessoa

Sonho. Não sei quem sou neste momento.
Durmo sentindo-me. Na hora calma
Meu pensamento esquece o pensamento,
Minha alma não tem alma.

Se existo é um erro eu o saber. Se acordo
Parece que erro. Sinto que não sei.
Nada quero nem tenho nem recordo.
Não tenho ser nem lei.

Lapso da consciência entre ilusões,
Fantasmas me limitam e me contêm.
Dorme insciente de alheios corações,
Coração de ninguém.

Os olhos meus dali dependurados, de Agostinho da Cruz

Os olhos meus dali dependurados,
Pergunto ao mar, às ondas, aos penedos
Como, quando, por quem foram criados?

Respondem-me em segredo, mil segredos,
Cujas letras primeiras vou cortando
Nos pés de outros mais verdes arvoredos.

Assi com cousas mudas conversando,
Com mais quietação delas aprendo,
Que de outras, que ensinar querem falando.

Se pelejo, se grito, se contendo
Com armas, com razões com argumentos,
Elas só com calar ficam vencendo.

Ferido de tamanhos sentimentos
Fico fora de mim, fico corrido
De ver sobre que fiz meus fundamentos.

Conclusão

Ficamos por aqui!

Esperamos que tenha gostado de nossa seleção de poemas existencialistas.

Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de ver a nossa coletânea de poemas sobre força.

Um abraço e até a próxima!

Como citar este conteúdo COMO FAZER UM POEMA. 3 profundos poemas existencialistas para ler e refletir. [S.I.] 2023. Disponível em: https://comofazerumpoema.com/poemas-existencialistas-poesia-poetas/. Acesso em: 25 out. 2024.