Confira a nossa seleção de poemas sobre a juventude feitos por ótimos artistas da língua portuguesa!
A juventude, como nos diz a psicóloga Cleusa Sakamoto, “é uma fase do ciclo vital humano caracterizada por elevada vitalidade, associada a muitos planos pessoais e desejos”.
Muitos julgam-na a melhor fase da vida, por ser ela geralmente a mais ativa e agitada, onde boa parte dos eventos marcantes de uma trajetória acontecem.
Na literatura, como não poderia ser diferente, a juventude já foi abordada em seus mais variados aspectos, e poemas sobre a juventude existem desde os que a analisam, até os que simplesmente realçam-lhe uma característica pronunciada.
Para citar um exemplo corriqueiro, são muitos os poetas que realçaram a beleza e a graça que a juventude geralmente dota jovens, mas os exemplos não param por aí.
Sendo assim, preparamos uma seleção de poemas sobre a juventude feitos por ótimos artistas da língua portuguesa para que você possa apreciá-los e, quem sabe, inspirar-se para construir os seus próprios.
Boa leitura!
Poemas sobre a juventude
Vossa formosa juventude, de Ricardo Reis (Fernando Pessoa)
Vossa formosa juventude leda,
Vossa felicidade pensativa,
Vosso modo de olhar a quem vos olha,
Vosso não conhecer-vos —Tudo quanto vós sois, que vos semelha
À vida universal que vos esquece
Dá carinho de amor a quem vos ama
Por serdes não lembrandoQuanta igual mocidade a eterna praia
De Cronos, pai injusto da justiça,
Ondas, quebrou, deixando à só memória
Um branco som de ‘spuma.
Os treze anos, de António Feliciano de Castilho
(Cantilena)
Já tenho treze anos,
que os fiz por Janeiro:
Madrinha, casai-me
com Pedro Gaiteiro.Já sou mulherzinha,
já trago sombreiro,
já bailo ao domingo
com as mais no terreiro.Já não sou Anita,
como era primeiro;
sou a Senhora Ana,
que mora no outeiro.Nos serões já canto,
nas feiras já feiro,
já não me dá beijos
qualquer passageiro.Quando levo as patas,
e as deito ao ribeiro,
olho tudo à roda,
de cima do outeiro.E só se não vejo
ninguém pelo arneiro,
me banho co’as patas
Ao pé do salgueiro.Miro-me nas águas,
rostinho trigueiro,
que mata de amores
a muito vaqueiro.Miro-me, olhos pretos
e um riso fagueiro,
que diz a cantiga
que são cativeiro.Em tudo, madrinha,
já por derradeiro
me vejo mui outra
da que era primeiro.O meu gibão largo,
de arminho e cordeiro,
já o dei à neta
do Brás cabaneiro,dizendo-lhe: «Toma
gibão, domingueiro,
de ilhoses de prata,
de arminho e cordeiro.A mim já me aperta,
e a ti te é laceiro;
tu brincas co’as outras
e eu danço em terreiro».Já sou mulherzinha,
já trago sombreiro,
já tenho treze anos,
que os fiz por Janeiro.Já não sou Anita,
sou a Ana do outeiro;
Madrinha, casai-me
com Pedro Gaiteiro.Não quero o sargento,
que é muito guerreiro,
de barbas mui feras
e olhar sobranceiro.O mineiro é velho,
não quero o mineiro:
Mais valem treze anos
que todo o dinheiro.Tão-pouco me agrado
do pobre moleiro,
que vive na azenha
como um prisioneiro.Marido pretendo
de humor galhofeiro,
que viva por festas,
que brilhe em terreiro.Que em ele assomando
co’o tamborileiro,
logo se alvorote
o lugar inteiro.Que todos acorram
por vê-lo primeiro,
e todas perguntem
se ainda é solteiro.E eu sempre com ele,
romeira e romeiro,
vivendo de bodas,
bailando ao pandeiro.Ai, vida de gostos!
Ai, céu verdadeiro!
Ai, páscoa florida,
que dura ano inteiro!Da parte, madrinha,
de Deus vos requeiro:
Casai-me hoje mesmo
com Pedro Gaiteiro.
Juventude, de Pedro Homem de Mello
Lembras-te, Carlos, quando, ao fim do dia,
Felizes, ambos, íamos nadar
E em nossa boca a espuma persistia
Em dar ao Sol o nome do Luar?Tudo era fácil, melodioso e longo.
Aqui e além, um súbito ditongo
Ecoava em nós certa canção pagã.Contudo o azul do mar não tinha fundo
E o mundo continuava a ser o mundo
Banhado pela aragem da manhã!…
Menina e moça, de Machado de Assis
Está naquela idade inquieta e duvidosa,
Que não é dia claro e é já o alvorecer;
Entreaberto botão, entrefechada rosa,
Um pouco de menina e um pouco de mulher.Às vezes recatada, outras estouvadinha,
Casa no mesmo gesto a loucura e o pudor;
Tem coisas de criança e modos de mocinha,
Estuda o catecismo e lê versos de amor.Outras vezes valsando, o seio lhe palpita,
De cansaço talvez, talvez de comoção.
Quando a boca vermelha os lábios abre e agita,
Não sei se pede um beijo ou faz uma oração.Outras vezes beijando a boneca enfeitada,
Olha furtivamente o primo que sorri;
E se corre parece, à brisa enamorada,
Abrir asas de um anjo e tranças de uma huri.Quando a sala atravessa, é raro que não lance
Os olhos para o espelho; e raro que ao deitar
Não leia, um quarto de hora, as folhas de um romance
Em que a dama conjugue o eterno verbo amar.Tem na alcova em que dorme, e descansa de dia,
A cama da boneca ao pé do toucador;
Quando sonha, repete, em santa companhia,
Os livros do colégio e o nome de um doutor.Alegra-se em ouvindo os compassos da orquestra;
E quando entra num baile, é já dama do tom;
Compensa-lhe a modista os enfados da mestra;
Tem respeito a Geslin, mas adora a Dazon.Dos cuidados da vida o mais tristonho e acerbo
Para ela é o estudo, excetuando talvez
A lição de sintaxe em que combina o verbo
To love, mas sorrindo ao professor de inglês.Quantas vezes, porém, fitando o olhar no espaço,
Parece acompanhar uma etérea visão;
Quantas cruzando ao seio o delicado braço
Comprime as pulsações do inquieto coração!Ah! se nesse momento alucinado, fores
Cair-lhes aos pés, confiar-lhe uma esperança vã,
Hás de vê-la zombar dos teus tristes amores,
Rir da tua aventura e contá-la à mamã.É que esta criatura, adorável, divina,
Nem se pode explicar, nem se pode entender:
Procura-se a mulher e encontra-se a menina,
Quer-se ver a menina e encontra-se a mulher!
Conclusão
Ficamos por aqui!
Esperamos que tenha gostado de nossa seleção de poemas sobre a juventude.
Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de ver nossa coletânea de poemas sobre a velhice.
Um abraço e até a próxima!