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3 poemas sobre a manhã para ler e se inspirar!

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Confira a nossa seleção de poemas sobre a manhã em português!

O simbolismo da manhã é fortíssimo, e tal não poderia passar despercebido por poetas.

As manhãs representam a iluminação completa de um céu que se encontrava escuro, representam o início de um novo dia, com novas surpresas e novas oportunidades.

Frequentemente, também é pela manhã que acordamos, ou seja, que saímos de um estado inconsciente para recomeçar nossa vida de onde paramos no dia anterior.

Por tudo isso, é natural que a manhã, em suas múltiplas significações, tenha servido de inspiração para poetas de todas as épocas.

Sendo assim, preparamos uma seleção com 3 poemas sobre a manhã para que você possa apreciar diferentes abordagens para este tema.

Boa leitura!

Poemas sobre a manhã

Estrela da manhã, de Manuel Bandeira

Eu quero a estrela da manhã
Onde está a estrela da manhã?
Meus amigos meus inimigos
Procurem a estrela da manhã

Ela desapareceu ia nua
Desapareceu com quem?
Procurem por toda parte

Digam que sou um homem sem orgulho
Um homem que aceita tudo
Que me importa?
Eu quero a estrela da manhã

Três dias e três noites
Fui assassino e suicida
Ladrão, pulha, falsário

Virgem malsexuada
Atribuladora dos aflitos
Girafa de duas cabeças
Pecai por todos pecai com todos

Pecai com os malandros
Pecai com os sargentos
Pecai com os fuzileiros navais
Pecai de todas as maneiras
Com os gregos e com os troianos
Com o padre e com o sacristão
Com o leproso de Pouso Alto
Depois comigo

Te esperarei com mafuás novenas cavalhadas comerei terra e direi coisas de uma
ternura tão simples
Que tu desfalecerás

Procurem por toda parte
Pura ou degradada até a última baixeza
Eu quero a estrela da manhã.

Mar. Manhã, de Fernando Pessoa

Suavemente grande avança
Cheia de sol a onda do mar;
Pausadamente se balança,
E desce como a descansar.

Tão lenta e longa que parece
De uma criança de Titã
O glauco seio que adormece,
Arfando à brisa da manhã.

Parece ser um ente apenas
Este correr da onda do mar,
Como uma cobra que em serenas
Dobras se alongue a colear.

Unido e vasto e interminável
No são sossego azul do sol,
Arfa com um mover-se estável
O oceano ébrio de arrebol.

E a minha sensação é nula,
Quer de prazer, quer de pesar…
Ébria de alheia a mim ondula
Na onda lúcida do mar.

Hino da manhã, de Antero de Quental

Tu, casta e alegre luz da madrugada,
Sobe, cresce no céu, pura e vibrante,
E enche de força o coração triunfante
Dos que ainda esperam, luz imaculada!

Mas a mim pões-me tu tristeza imensa
No desolado coração. Mais quero
A noite negra, irmã do desespero,
A noite solitária, imóvel, densa,

O vácuo mudo, onde astro não palpita,
Nem ave canta, nem sussurra o vento,
E adormece o próprio pensamento,
Do que a luz matinal… a luz bendita!

Porque a noite é a imagem do Não-Ser,
Imagem do repouso inalterável
E do esquecimento inviolável,
Que anseia o mundo, farto de sofrer…

Porque nas trevas sonda, fixo e absorto,
O nada universal o pensamento,
E despreza o viver e o seu tormento.
E olvida, como quem está já morto…

E, interrogando intrépido o Destino,
Como réu o renega e o condena,
E virando-se, fita em paz serena
O vácuo augusto, plácido e divino…

Porque a noite é a imagem da Verdade,
Que está além das cousas transitórias.
Das paixões e das formas ilusórias,
Onde somente há dor e falsidade…

Mas tu, radiante luz, luz gloriosa,
De que és símbolo tu? do eterno engano,
Que envolve o mundo e o coração humano
Em rede de mil malhas, misteriosa!

Símbolo, sim, da universal traição,
Duma promessa sempre renovada
E sempre e eternamente perjurada,
Tu, mãe da Vida e mãe da Ilusão…

Outros estendam para ti as mãos,
Suplicantes, com fé, com esperança…
Ponham outros seu bem, sua confiança
Nas promessas e a luz dos dias vãos…

Eu não! Ao ver-te, penso: Que agonia
E que tortura ainda não provada
Hoje me ensinará esta alvorada?
E digo: Porque nasce mais um dia?

Antes tu nunca fosses, luz formosa!
Antes nunca existisses! e o Universo
Ficasse inerte e eternamente imerso
Do possível na névoa duvidosa!

O que trazes ao mundo em cada aurora?
O sentimento só, só a consciência,
Duma eterna, incurável impotência,
Do insaciável desejo, que o devora!

De que são feitos os mais belos dias?
De combates, de queixas, de terrores!
De que são feitos? de ilusões, de dores,
De misérias, de mágoas, de agonias!

O sol, inexorável semeador,
Sem jamais se cansar, percorre o espaço,
E em borbotões lhe jorram do regaço
As sementes inúmeras da Dor!

Oh! como cresce, sob a luz ardente,
A seara maldita! como treme
Sob os ventos da vida e como geme
Num sussurro monótono e plangente!

E cresce e alastra, em ondas voluptuosas,
Em ondas de cruel fecundidade,
Com a força e a subtil tenacidade
Invencível das plantas venenosas!

De podridões antigas se alimenta,
Da antiga podridão do chão fatal…
Uma fragrância mórbida, mortal
Lhe ressuma da seiva peçonhenta…

E é esse aroma lânguido e profundo,
Feito de seduções vagas, magnéticas,
De ardor carnal e de atrações poéticas,
É esse aroma que envenena o mundo!

Como um clarim soando pelos montes,
A aurora acorda, plácida e inflexível,
As misérias da terra: e a hoste horrível,
Enchendo de clamor e horizontes.

Torva, cega, colérica, faminta,
Surge mais uma vez e arma-se à pressa
Para o bruto combate, que não cessa,
Onde é vencida sempre e nunca extinta!

Quantos erguem nesta hora, com esforço,
Para a luz matinal as armas novas,
Pedindo a luta e as formidáveis provas,
Alegres e cruéis e sem remorso,

Que esta tarde há de ver, no duro chão
Caídos e sangrentos, vomitando
Contra o céu, com o sangue miserando,
Uma extrema e importante imprecação!

Quantos também, de pé, mas esquecidos,
Há de a noite encontrar, sós e encostados
A algum marco, chorando aniquilados
As lágrimas caladas dos vencidos!

E porque? para que? para que os chamas,
Serena luz, ó luz inexorável,
À vida incerta e à luta inexpiável,
Com as falsas visões, com que os inflamas?

Para serem o brinco dum só dia
Na mão indiferente do Destino…
Clarão de fogo-fátuo repentino,
Cruzando entre o nascer e a agonia…

Para serem, no páramo enfadonho,
À luz de astros malignos e enganosos,
Como um bando de espectros lastimosos,
Como sombras correndo atrás dum sonho…

Oh! não! luz gloriosa e triunfante!
Sacode embora o encanto e as seduções,
Sobre mim, do teu manto de ilusões:
A meus olhos, és triste e vacilante…

A meus olhos, és baça e lutuosa
E amarga ao coração, ó luz do dia,
Como tocha esquecida que alumia
Vagamente uma cripta monstruosa…

Surges em vão, e em vão, por toda a parte,
Me envolves, me penetras, com amor…
Causas-me espanto a mim, causas-me horror,
E não te posso amar — não quero amar-te!

Símbolo da Mentira universal,
Da aparência das cousas fugitivas,
Que esconde, nas moventes perspetivas,
Sob o eterno sorriso o eterno Mal,

Símbolo da Ilusão, que do infinito
Fez surgir o Universo, já marcado
Para a dor, para o mal, para o pecado,
Símbolo da existência, sê maldito!

Conclusão

Ficamos por aqui!

Esperamos que tenha gostado de nossa seleção de poemas sobre a manhã.

Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de ver a nossa coletânea de poemas sobre independência.

Um abraço e até a próxima!

Como citar este conteúdo COMO FAZER UM POEMA. 3 poemas sobre a manhã para ler e se inspirar!. [S.I.] 2023. Disponível em: https://comofazerumpoema.com/poemas-sobre-a-manha-poesia-portugues/. Acesso em: 5 set. 2024.