Confira a nossa seleção de poemas sobre a sociedade e reflita nos versos destes grandes poetas!
A crítica social não é exclusividade de sociólogos e filósofos. Muito pelo contrário!
Talvez as obras que dissecaram e criticaram a sociedade de forma mais contundente estão no campo da literatura.
Os exemplos são inumeráveis, e parece quase que uma exigência natural de o artista, criando-lhe a obra, esboçar juízos sobre o mundo, sobre a vida, sobre a sociedade…
Uma coisa é verdade: dificilmente será boa uma obra artística concebida unicamente para vestir conceitos e opiniões pessoais — isso não é senão falsificar a arte em prol de uma cartilha ideológica.
Por outro lado, a grande obra artística, sincera e abrangente, quase sempre exibe, no pacote, um julgamento do mundo — ainda que ambíguo e ainda que não corresponda ao que o autor realmente acredita.
Desta forma, nada mais natural que encontrarmos poemas sobre a sociedade inseridos em obras de grandes poetas.
Seja exaltando-lhe as qualidades, cantando aquilo que ela traz de bom ao homem, seja criticando-a, expondo-lhe as injustiças e debilidades, muitos poetas utilizaram-na como inspiração para a criação de poemas.
Dito isso, preparamos uma seleção com 5 ótimos poemas sobre a sociedade que dão o que pensar.
Boa leitura!
Poemas sobre a sociedade
Sociedade, de Carlos Drummond de Andrade
O homem disse para o amigo:
— Breve irei a tua casa
e levarei minha mulher.O amigo enfeitou a casa
e quando o homem chegou com a mulher,
soltou uma dúzia de foguetes.O homem comeu e bebeu.
A mulher bebeu e cantou.
Os dois dançaram.
O amigo estava muito satisfeito.Quando foi hora de sair,
o amigo disse para o homem:
— Breve irei a tua casa.
E apertou a mão dos dois.No caminho o homem resmunga:
— Ora essa, era o que faltava.
E a mulher ajunta: — Que idiota.— A casa é um ninho de pulgas.
— Reparaste o bife queimado?
O piano ruim e a comida pouca.E todas as quintas-feiras
eles voltam à casa do amigo
que ainda não pôde retribuir a visita.
O pregador de verdades, de Alberto Caeiro (Fernando Pessoa)
Ontem o pregador de verdades dele
Falou outra vez comigo.
Falou do sofrimento das classes que trabalham
(Não do das pessoas que sofrem, que é afinal quem sofre).
Falou da injustiça de uns terem dinheiro,
E de outros terem fome, que não sei se é fome de comer.
Ou se é só fome da sobremesa alheia.
Falou de tudo quanto pudesse fazê-lo zangar-se.
Poeminha sobre as reações paradoxais numa sociedade, de Millôr Fernandes
Na conversa sofisticada
a debutante, nervosa,
tem um problema bem seu:
fingir que entende tudo
ou fingir que não entendeu.
Madrugada, de Ferreira Gullar
Do fundo de meu quarto, do fundo
de meu corpo
clandestino
ouço (não vejo) ouço
crescer no osso e no músculo da noite
a noitea noite ocidental obscenamente acesa
sobre meu país dividido em classes
Idealização da humanidade futura, de Augusto dos Anjos
Rugia nos meus centros cerebrais
A multidão dos séculos futuros
— Homens que a herança de ímpetos impuros
Tornara etnicamente irracionais!Não sei que livro, em letras garrafais,
Meus olhos liam! No húmus dos monturos,
Realizavam-se os partos mais obscuros,
Dentre as genealogias animais!Como quem esmigalha protozoários
Meti todos os dedos mercenários
Na consciência daquela multidão…E, em vez de achar a luz que os Céus infama,
Somente achei moléculas de lama
E a mosca alegre da putrefação!
Conclusão
Ficamos por aqui!
Esperamos que você tenha gostado de nossa seleção de poemas sobre a sociedade.
Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de ver a nossa coletânea de poemas sobre o natal.
Um abraço e até a próxima!