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3 bonitos poemas sobre a velhice por grandes poetas da língua portuguesa

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Confira a nossa seleção de poemas sobre a velhice feitas por grandes poetas da língua portuguesa!

A velhice, também chamada de terceira idade ou melhor idade, é a derradeira fase que experimentamos nesta vida.

Na velhice, embora não tenhamos a mesma vitalidade da juventude, geralmente experimentamos uma leveza e uma satisfação que é fruto de nossa experiência de vida.

Somente nela é possível olhar para trás e, imersos em recordações, refletirmos e enxergarmos nossa vida em conjunto.

Na literatura, há variados poemas sobre a velhice, alguns abordando seu aspecto desalentador, isto é, a suscetibilidade a doenças, dependência alheia, perda de força e debilidades inúmeras, e outros abordando seus aspectos belos, porquanto é na velhice que atingimos o ápice de nossa sabedoria e intelectualidade.

Dito isso, preparamos uma seleção com 3 poemas sobre a velhice feitos por grandes poetas da língua portuguesa, para que você possa apreciá-los.

Boa leitura!

Poemas sobre a velhice

Certa velhinha, de António Nobre

1

Além, na tapada das Quatorze Cruzes,
Que triste velhinha que vai a passar!
Não leva candeia; hoje, o céu não tem luzes…
Cautela, velhinha, não vás tropeçar!

Os ventos entoam cantigas funestas,
Relâmpagos tingem de vermelho o Azul!
Aonde irá ela, numa noite destas,
Com vento da Barra puxado do sul?

Aonde irá ela, pastores! boieiras!
Aonde irá ela, numa noite assim?
Se for um fantasma, fazei-lhe fogueiras,
Se for uma bruxa, queimai-lhe alecrim!

Contava-me aquela que a tumba já cerra,
Que Nossa Senhora, quando a chama alguém,
Escolhe estas noites pra descer à Terra,
Porque em noites destas não anda ninguém…

Além, na tapada das Quatorze Cruzes,
Que linda velhinha que vem a passar!
E que olhos aqueles que parecem luzes!
Quais velas acesas que a vêm a guiar…

Que pobre capinha que leva de rastros,
Tão velha, tão rota! Que triste viuvez!
Mas se lhe dá vento, meu Deus! tantos astros!
É o céu estrelado vestido do em vez…

Seu alvo cabelo, molhado das chuvas,
Parece uma vinha de luar em flor…
Oh cabelo em cachos, como cachos de uvas!
Só no céu há uvas com aquela cor…

A luz dos seus olhos é uma luz tamanha
Que ao redor espalha divino clarão!
Parece que chove luar na montanha…
Que noite de inverno que parece verão!

Além, na tapada das Quatorze Cruzes,
Velhinha tão alta que vem a chegar!
Parece uma Torre coada de luzes!
Ou antes a Torre de Marfim, a andar!

Não! Não é uma Torre coada de luzes,
Nem antes a Torre de Marfim, a andar,
Que pela tapada das Quatorze Cruzes,
Numa noite destas, eu vejo passar…

Também não é, ouve, minha velha ama!
Como tu contavas, a Virgem de Luz:
Digo-te ao ouvido como ela se chama,
Mas guarda segredo, que é…
– Jesus! Jesus!

2

Além, na tapada das Quatorze Cruzes,
Já não é a velhinha que vai a passar:
Um grande cortejo cheiinho de luzes,
Aninhas da Eira que vai a enterrar.

Fala dum pastor:

«Aninhas da Eira! Aninhas da Eira!
Cantai, raparigas, cantai e chorai!
Morreu, coitadinha! sorrindo, trigueira,
Como um passarinho, sem soltar um ai.

Quando era pequeno, levava-me à escola,
E quando, mais tarde, cresci e medrei,
Oh danças nas eiras, ao som da viola!
Nas danças de roda, que beijos lhe dei!

Os anos vieram, os anos passaram,
Meu fado arrastou-me, da aldeia sai:
Nunca mais meus olhos seus olhos tocaram,
Perdi-a de todo, nunca mais a vi…

E além, na tapada das Quatorze Cruzes,
Numa noite destas com vento a ventar,
Ó meu Deus! é ela que vai entre luzes!
Ó meu Deus! é a Aninhas que vai a enterrar!

Olá! bons senhores, vestidos de preto,
Deixai a defunta, que a levarei eu!
O suor alagava-vos, eu levo o carreto…
O caixão de Aninhas é também o meu!

Tenho os relâmpagos, deixai-me sem velas
A rezar por ela, sob o temporal!
Cai-me no peito, cravai-mas, procelas!
Cruzes da tapada, em forma de punhal!»

Mas os bons senhores, de preto vestidos,
Cigarros acesos, e velas na mão,
Lá passam ao vento, com sete sentidos,
Com medo que, ás vezes, não seja um ladrão…

«Mãos das ventanias! mãos das ventanias!
Tirai-lhes a Aninhas e levai-a a Deus!
Com suas mãozinhas, agora tão frias,
Irá na viagem a dizer-me adeus…

Ó vento que passas! corcel de rajada!
Assenta-nos ambos no mesmo selim:
Quero ir mais ela na longa jornada…
Quero ir com Aninhas pelo céu sem fim!

Ó Leste, que trazes as rolas, ás costas,
Quais rolas, leva-nos aos pés do Senhor!
Quero ir como ela, assim de mãos postas…
Quero ir com Aninhas para onde ela for!

Ó Norte dos Marços! ó Sul das procelas,
Levai-nos quais brigues, como azas, levai!
Levai-nos como águias, levai-nos quais velas…
Quero ir com Aninhas para onde ela vai!»

3

Além, na tapada das Quatorze Cruzes,
Que triste velhinha que vai a passar!
E que olhos aqueles que parecem luzes…
Aonde irá ela? Quem irá buscar?

Os velhos, de Carlos Drummond de Andrade

Todos nasceram velhos — desconfio.
Em casas mais velhas que a velhice,
em ruas que existiram sempre — sempre
assim como estão hoje
e não deixarão nunca de estar:
soturnas e paradas e indeléveis
mesmo no desmoronar do Juízo Final.
Os mais velhos têm 100, 200 anos
e lá se perde a conta.
Os mais novos dos novos,
não menos de 50 — enorm’idade.
Nenhum olha para mim.
A velhice o proíbe. Quem autorizou
existirem meninos neste largo municipal?
Quem infringiu a lei da eternidade
que não permite recomeçar a vida?
Ignoram-me. Não sou. Tenho vontade
de ser também um velho desde sempre.
Assim conversarão
comigo sobre coisas
seladas em cofre de subentendidos
a conversa infindável de monossílabos, resmungos,
tosse conclusiva.
Nem me vêem passar. Não me dão confiança.
Confiança! Confiança!
Dádiva impensável
nos semblantes fechados,
nos felpudos redingotes,
nos chapéus autoritários,
nas barbas de milênios.
Sigo, seco e só, atravessando
a floresta de velhos.

Como se morre de velhice, de Cecília Meireles

Como se morre de velhice
ou de acidente ou de doença,
morro, Senhor, de indiferença.

Da indiferença deste mundo
onde o que se sente e se pensa
não tem eco, na ausência imensa.

Na ausência, areia movediça
onde se escreve igual sentença
para o que é vencido e o que vença.

Salva-me, Senhor, do horizonte
sem estímulo ou recompensa
onde o amor equivale à ofensa.

De boca amarga e de alma triste
sinto a minha própria presença
num céu de loucura suspensa.

(Já não se morre de velhice
nem de acidente nem de doença,
mas, Senhor, só de indiferença.)

Conclusão

Ficamos por aqui!

Esperamos que tenha gostado de nossa seleção de poemas sobre a velhice.

Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de ver a nossa coletânea de poemas sobre amizade.

Um abraço e até a próxima!

Como citar este conteúdo COMO FAZER UM POEMA. 3 bonitos poemas sobre a velhice por grandes poetas da língua portuguesa. [S.I.] 2021. Disponível em: https://comofazerumpoema.com/poemas-sobre-a-velhice-grandes-poetas-poesia/. Acesso em: 25 out. 2024.