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7 inspirados poemas sobre desejo em português

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Confira a nossa seleção de poemas sobre desejo em português feitos por grandes artistas!

Desejo, como nos mostra o dicionário, é palavra que possui diferentes conotações.

Esse sentimento, ou impulso, é manifestação frequente na natureza humana e quase sempre influencia-lhe o agir.

Seja na forma de objetivos e propósitos, seja na ambição de poder ou atração sexual, é praticamente impossível conhecer algum ser humano que nunca tenha experimentado uma manifestação do desejo em si mesmo.

Na literatura, os poemas sobre desejo quase sempre configuram uma confissão do poeta que, sentindo pulsá-lo, transforma em arte esse forte impulso de nossa natureza.

Geralmente, esse tipo de poema é muito potente e faz-nos sentir pelas palavras a sensação experimentada pelo autor.

Dito isso, preparamos uma seleção com 7 poemas sobre desejo em português para que você aprecie a criação de grandes artistas da língua sobre esse tema.

Boa leitura!

Poemas sobre desejo

Entre tremor e desejo, de Sá de Miranda

Entre tremor e desejo,
Vã esperança e vã dor,
Entre amor e desamor,
Meu triste coração vejo.

Nestes extremos cativo
Ando sem fazer mudança,
E já vivi d’esperança
E agora vivo de choro vivo.

Contra mi mesmo pelejo,
Vem de uma dor outra dor
E de um desejo maior
Nasce outro mor desejo.

Pede o desejo, dama, que vos veja, de Luís de Camões

Pede o desejo, Dama, que vos veja:
Não entende o que pede; está enganado.
É este amor tão fino e tão delgado,
Que quem o tem não sabe o que deseja.

Não há cousa, a qual natural seja,
Que não queira perpétuo o seu estado.
Não quer logo o desejo o desejado,
Só por que nunca falte onde sobeja.

Mas este puro afecto em mim se dana:
Que, como a grave pedra tem por arte
O centro desejar da natureza,

Assim meu pensamento, pela parte
Que vai tomar de mim, terrestre e humana,
Foi, Senhora, pedir esta baixeza.

Desejo, de Soares de Passos

Oh! quem nos teus braços pudera ditoso
No mundo viver,
Do mundo esquecido no lânguido gozo
D’infindo prazer.

Sentir os teus olhos serenos, em calma,
Falando d’além,
D’além! duma vida que sonha minha alma,
Que a terra não tem.

Eu dera este mundo, com tudo o que encerra
Por tal galardão:
Tesouros, e glórias, os tronos da terra,
Que valem, que são?

A sede que eu tenho não morre apagada
Com tal aridez:
Pudesse eu ganhá-los, e iria seu nada
Depor a teus pés.

E só desejando mais doce vitória,
Dizer-te: eis aqui
Meu ceptro e ciência, tesouros e glória:
Ganhei-os por ti.

A vida, essa mesma daria contente,
Sem pena, sem dor,
Se um dia embalasses, um dia somente,
Meu sonho d’amor.

Isenta do laço que ao mundo nos prende,
A vida que vale?
A vida é só vida se o amor nela acende
Seu doce fanal.

Aos mundos que eu sonho pudesse eu contigo,
Voando, subir;
Depois que importava? depois no jazigo
Sorrira ao cair.

Calmaria, de Miguel Torga

Nada!
Horas e horas neste ponto morto
Onde caiu agora a minha vida…
Nem um desejo, ao menos!
Só instintos pequenos:
Apetite de cama e de comida!

Nem sequer ler um livro
Ou conversar comigo, discutir…
Nada!
Neutro, morno, a dormir
Com a carne acordada.

Ideal, de Antero de Quental

Aquela, que eu adoro, não é feita
De lírios nem de rosas purpurinas,
Não tem as formas languidas, divinas
Da antiga Vênus de cintura estreita…

Não é a Circe, cuja mão suspeita
Compõe filtros mortais entre ruínas,
Nem a Amazona, que se agarra ás crinas
D’um corcel e combate satisfeita…

A mim mesmo pergunto, e não atino
Com o nome que dê a essa visão,
Que ora amostra ora esconde o meu destino…

É como uma miragem, que entrevejo,
Ideal, que nasceu na solidão,
Nuvem, sonho impalpável do Desejo…

Desejos vãos, de Florbela Espanca

Eu queria ser o Mar de altivo porte
Que ri e canta, a vastidão imensa!
Eu queria ser a Pedra que não pensa,
A pedra do caminho, rude e forte!

Eu queria ser o Sol, a luz imensa,
O bem do que é humilde e não tem sorte!
Eu queria ser a árvore tosca e densa
Que ri do mundo vão e até a morte!

Mas o Mar também chora de tristeza …
As árvores também, como quem reza,
Abrem, aos Céus, os braços, como um crente!

E o Sol altivo e forte, ao fim de um dia,
Tem lágrimas de sangue na agonia!
E as Pedras … essas … pisa-as toda a gente! …

O andaime, de Fernando Pessoa

O tempo que eu hei sonhado
Quantos anos foi de vida!
Ah, quanto do meu passado
Foi só a vida mentida
De um futuro imaginado!

Aqui à beira do rio
Sossego sem ter razão.
Este seu correr vazio
Figura, anônimo e frio,
A vida vivida em vão.

A ‘sp’rança que pouco alcança!
Que desejo vale o ensejo?
E uma bola de criança
Sobre mais que minha ‘s’prança,
Rola mais que o meu desejo.

Ondas do rio, tão leves
Que não sois ondas sequer,
Horas, dias, anos, breves
Passam — verduras ou neves
Que o mesmo sol faz morrer.

Gastei tudo que não tinha.
Sou mais velho do que sou.
A ilusão, que me mantinha,
Só no palco era rainha:
Despiu-se, e o reino acabou.

Leve som das águas lentas,
Gulosas da margem ida,
Que lembranças sonolentas
De esperanças nevoentas!
Que sonhos o sonho e a vida!

Que fiz de mim? Encontrei-me
Quando estava já perdido.
Impaciente deixei-me
Como a um louco que teime
No que lhe foi desmentido.

Som morto das águas mansas
Que correm por ter que ser,
Leva não só lembranças —
Mortas, porque hão de morrer.

Sou já o morto futuro.
Só um sonho me liga a mim —
O sonho atrasado e obscuro
Do que eu devera ser — muro
Do meu deserto jardim.

Ondas passadas, levai-me
Para o alvido do mar!
Ao que não serei legai-me,
Que cerquei com um andaime
A casa por fabricar.

Conclusão

Ficamos por aqui!

Esperamos que tenha gostado de nossa seleção de poemas sobre desejo.

Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de ver a nossa coletânea de poemas tristes.

Um abraço e até a próxima!

Como citar este conteúdo COMO FAZER UM POEMA. 7 inspirados poemas sobre desejo em português. [S.I.] 2021. Disponível em: https://comofazerumpoema.com/poemas-sobre-desejo-em-portugues-poesia/. Acesso em: 26 out. 2024.