Confira a nossa seleção de poemas sobre livros em português!
Muitos e muitos livros já serviram de inspiração para a criação de poemas, desde livros específicos até um livro enquanto tal.
Há, inclusive, poetas que sentem-se inspirados em bibliotecas, ou carregam sempre consigo algum livro especial para que nele busquem inspiração num momento de carência.
De tudo isso concluímos que, naturalmente, os livros exercem forte influência em poetas, seja pelo conteúdo, seja pela forma e pelo que representa.
Sendo assim, preparamos uma seleção com 6 poemas sobre livros para que você possa ler e apreciar.
Boa leitura!
Poemas sobre livros
A um livro, de Florbela Espanca
No silêncio de cinzas do meu Ser
Agita-se uma sombra de cipreste,
Sombra roubada ao livro que ando a ler,
A esse livro de mágoas que me deste.Estranho livro aquele que escreveste,
Artista da saudade e do sofrer!
Estranho livro aquele em que puseste
Tudo o que eu sinto, sem poder dizer!Leio-o, e folheio, assim, toda a minh’alma!
O livro que me deste é meu, e salma
As orações que choro e rio e canto! …Poeta igual a mim, ai que me dera
Dizer o que tu dizes! … Quem soubera
Velar a minha Dor desse teu manto! …
Há mais de meia hora, de Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)
Que estou sentado à secretária
Com o único intuito
De olhar para ela.
(Estes versos estão fora do meu ritmo.
Eu também estou fora do meu ritmo).
Tinteiro grande à frente.
Canetas com aparos novos à frente.
Mais para cá papel muito limpo.
Ao lado esquerdo um volume da «Enciclopédia Britânica».
Ao lado direito —
Ah, ao lado direito!
A faca de papel com que ontem
Não tive paciência para abrir completamente
O livro que me interessava e não lerei.Quem pudesse sintonizar tudo isto!
Agonia de um filósofo, de Augusto dos Anjos
Consulto o Phtah-Hotep. Leio o obsoleto
Rig-Veda. E, ante obras tais, me não consolo…
O Inconsciente me assombra e eu nele rolo
Com a eólica fúria do harmatã inquieto!Assisto agora à morte de um inseto!…
Ah! todos os fenômenos do solo
Parecem realizar de polo a polo
O ideal de Anaximandro de Mileto!No hierático areópago heterogêneo
Das ideias, percorro, como um gênio,
Desde a alma de Haeckel à alma cenobial!…Rasgo dos mundos o velário espesso;
E em tudo, igual a Goethe, reconheço
O império da substância universal!
Quia aeternus, de Antero de Quental
(A Joaquim de Araújo)
Não morreste, por mais que o brade à gente
Uma orgulhosa e vã filosofia…
Não se sacode assim tão facilmente
O jugo da divina tirania!Clamam em vão, e esse triunfo ingente
Com que a Razão — coitada! — se inebria,
É nova forma, apenas, mais pungente,
Da tua eterna, trágica ironia.Não, não morreste, espectro! o Pensamento
Como dantes te encara, e és o tormento
De quantos sobre os livros desfalecem.E os que folgam na orgia ímpia e devassa
Ai! quantas vezes ao erguer a taça,
Param, e estremecendo, empalidecem!
E o esplendor dos mapas, caminho abstracto para a imaginação concreta, de Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)
E o esplendor dos mapas, caminho abstracto para a imaginação concreta,
Letras e riscos irregulares abrindo para a maravilha.O que de sonho jaz nas encadernações vetustas,
Nas assinaturas complicadas (ou tão simples e esguias) dos velhos livros.
(Tinta remota e desbotada aqui presente para além da morte,
O que de negado à nossa vida quotidiana vem nas ilustrações,
O que certas gravuras de anúncios sem querer anunciam.Tudo quanto sugere, ou exprime o que não exprime.
Tudo o que diz o que não diz,
E a alma sonha, diferente e distraída.Ó enigma visível do tempo, o nada vivo em que estamos!)
Livro, se luz desejas, de António Ferreira
Livro, se luz desejas, mal te enganas.
Quanto melhor será dentro em teu muro
Quieto, e humilde estar, inda que escuro,
Onde ninguém t’impece, a ninguém danas!Sujeitas sempre ao tempo obras humanas
Coa novidade aprazem; logo em duro
Ódio e desprezo ficam: ama o seguro
Silêncio, foge ao povo, e mãos profanas.Ah! não te posso ter! deixa ir cumprindo
Primeiro tua idade; quem te move
Te defenda do tempo, e de seus danos.Dirás que a pesar meu fostes fugindo,
Reinando Sebastião, Rei de quatro anos:
Ano cinquenta e sete: eu vinte e nove.
Conclusão
Ficamos por aqui!
Esperamos que tenha gostado de nossa seleção de poemas sobre livros.
Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de ver a nossa coletânea de poemas para conquistar um coração.
Um abraço e até a próxima!