Confira a nossa seleção de poemas sobre momentos especiais em português!
Que define um momento especial? Difícil responder… O que sabemos é ter vários deles gravados em nossa memória.
Às vezes, parece-nos a vida correr fútil e irrelevante, como um amontoado de momentos que se seguem inutilmente e não nos oferece sentido algum.
Porém, há instantes que nos surpreendem, e cuja lembrança carregamos por toda a nossa vida.
Dito isso, preparamos uma seleção com 5 poemas sobre momentos especiais os mais variados, todos eles escritos por grandes poetas da língua portuguesa, para que você possa apreciar.
Boa leitura!
Poemas sobre momentos especiais
Foi um momento, de Fernando Pessoa
Foi um momento
O em que pousaste
Sobre o meu (braço,)
Num movimento
Mais de cansaço
Que pensamento.
A tua mão
E a retiraste.
Senti ou não?Não sei. Mas lembro
E sinto ainda
Qualquer memória
Fixa e corpórea
Onde pousaste
A mão que teve
Qualquer sentido
Incompreendido,
Mas tão de leve!…Tudo isto é nada,
Mas numa estrada
Como é a vida
Há uma coisa
Incompreendida…Sei eu se quando
A tua mão
Senti pousando
Sobre o meu braço,
E um pouco, um pouco,
No coração,
Não houve um ritmo
Novo no espaço?Como se tu,
Sem o querer,
Em mim tocasses
Para dizer
Qualquer mistério,
Súbito e etéreo,
Que nem soubesses
Que tinha ser.Assim a brisa
Nos ramos diz
Sem o saber
Uma imprecisa
Coisa feliz.
O álbum, de Almeida Garrett
Minha Júlia, um conselho de amigo;
Deixa em branco este livro gentil:
Uma só das memórias da vida
Vale a pena guardar, entre mil.E essa n’alma em silêncio gravada
Pelas mãos do mistério há-de ser;
Que não tem língua humana palavras,
Não tem letra que a possa escrever.Por mais belo e variado que seja
De uma vida o tecido matiz ,
Um só fio da tela bordada,
Um só fio há-de ser o feliz.Tudo o mais é ilusão, é mentira,
Brilho falso que um tempo seduz,
Que se apaga, que morre, que é nada
Quando o sol verdadeiro reluz.De que serve guardar monumentos
Dos enganos que a esp’rança forjou?
Vãos reflexos de um sol que tardava
Ou vãs sombras de um sol que passou!Crê-me, Júlia: mil vezes na vida
Eu coa minha ventura sonhei;
E uma só, dentre tantas, o juro,
Uma só com verdade a encontrei.Essa entrou-me pela alma tão firme,
Tão segura por dentro a fechou,
Que o passado fugiu da memória,
Do porvir nem desejo ficou.Toma pois, Júlia bela, o conselho:
Deixa em branco este livro gentil,
Que as memórias da vida são nada,
E uma só se conserva entre mil.
E o mar gemeu a funda melopeia, de Augusto dos Anjos
E o mar gemeu a funda melopeia
À luz feral que a tarde morta instila,
Triste como um soluço de Dalila,
Fria como um crepúsc’lo da Judeia.Já Vésper, no Alto, e lânguida, cintila!
Naquela hora morria para a Ideia
A minha branca e desgraçada Deia,
Qual rosa branca que ao tufão vacila.E o mar chamou-a para o fundo abismo!
E o céu chamou-a para o Misticismo.
Nesse momento a Lua vinha calmaE céu e mar num desespero mudo
Não viram que num halo de veludo
À alma de Deia se evolava est’alma.
Momento num café, de Manuel Bandeira
Quando o enterro passou
Os homens que se achavam no café
Tiraram o chapéu maquinalmente
Saudavam o morto distraídos
Estavam todos voltados para a vida
Absortos na vida
Confiantes na vida.Um no entanto se descobriu num gesto largo e demorado
Olhando o esquife longamente
Este sabia que a vida é uma agitação feroz e sem finalidade
Que a vida é traição
E saudava a matéria que passava
Liberta para sempre da alma extinta.
A fada negra, de Antero de Quental
Uma velha de olhar mudo e frio,
De olhos sem cor, de lábios glaciais,
Tomou-me nos seus braços sepulcrais.
Tomou-me sobre o seio ermo e vazio.E beijou-me em silêncio, longamente,
Longamente me uniu à face fria…
Oh! como a minha alma se estorcia
Sob os seus beijos, dolorosamente!Onde os lábios pousou, a carne logo
Mirrou-se e encaneceu-se-me o cabelo,
Meus ossos confrangeram-se. O gelo
Do seu bafo secava mais que o fogo.Com seu olhar sem cor, que me fitava,
A Fada negra me coalhou o sangue.
Dentro em meu coração inerte e exangue
Um silêncio de morte se engolfava.E volvendo em redor olhos absortos,
O mundo pareceu-me uma visão,
Um grande mar de névoa, de ilusão,
E a luz do sol como um luar de mortos…Como o espectro dum mundo já defunto,
Um farrapo de mundo, nevoento,
Ruína aérea que sacode o vento,
Sem cor, sem consistência, sem conjunto…E quanto adora quem adora o mundo,
Brilho e ventura, esperar, sorrir,
Eu vi tudo oscilar, pender, cair,
Inerte e já da cor dum moribundo.Dentro em meu coração, nesse momento,
Fez-se um buraco enorme — e nesse abismo
Senti ruir não sei que cataclismo,
Como um universal desabamento…Razão! velha de olhar agudo e cru
E de hálito mortal mais do que a peste!
Pelo beijo de gelo que me deste,
Fada negra, bendita sejas tu!Bendita sejas tu pela agonia
E o luto funeral daquela hora
Em que eu vi baquear quanto se adora,
Vi de que noite é feita a luz do dia!Pelo pranto e as torturas benfazejas
Do desengano… pela paz austera
Dum morto coração, que nada espera,
Nem deseja também… bendita sejas!
Conclusão
Ficamos por aqui!
Esperamos que tenha gostado de nossa seleção de poemas sobre momentos especiais.
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Um abraço e até a próxima!