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8 poemas sobre o medo em português!

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Confira a nossa seleção de poemas sobre o medo em português!

O medo é um sentimento complexo ao qual todos nós estamos sujeitos.

Muitas vezes, é ele motivado pelo temor da perda de algo que nos é importante, e nem sempre aquilo que nos ameaça é real, podendo se resumir a uma criação de nossa imaginação.

Seja como for, o medo geralmente desencadeia uma forte reação em nós, podendo paralisar-nos ou nos impelir a uma ação intempestiva.

Naturalmente, por ter essa característica tão forte e incontrolável, este sentimento já serviu de inspiração para muitos poetas ao longo do tempo.

Sendo assim, preparamos uma seleção com 8 poemas sobre o medo para que você possa apreciar diferentes abordagens para este sentimento.

Boa leitura!

Poemas sobre o medo

O medo, de Manuel António Pina

Ninguém me roubará algumas coisas,
nem acerca de elas saberei transigir;
um pequeno morto morre eternamente
em qualquer sítio de tudo isto.

É a sua morte que eu vivo eternamente
quem quer que eu seja e ele seja.
As minhas palavras voltam eternamente a essa morte
como, imóvel, ao coração de um fruto.

Serei capaz
de não ter medo de nada,
nem de algumas palavras juntas?

Criança, de Cecília Meireles

Cabecinha boa de menino triste,
de menino triste que sofre sozinho,
que sozinho sofre, — e resiste.

Cabecinha boa de menino ausente,
que de sofrer tanto se fez pensativo,
e não sabe mais o que sente…

Cabecinha boa de menino mudo
que não teve nada, que não pediu nada,
pelo medo de perder tudo.

Cabecinha boa de menino santo
que do alto se inclina sobre a água do mundo
para mirar seu desencanto.

Para ver passar numa onda lenta e fria
a estrela perdida da felicidade
que soube que não possuiria.

A noite do Noivado, de Raimundo Correia

Tout est lumière, tout est joie !
(Victor Hugo)

Que noite! a brisa, amor, bafeja-te na espalda
Essa madeixa loura!
Suspiras sacudindo a cândida grinalda,
Que virgindade doura!

Não vês? a lua cheia espanca, virgem pura,
Com raios a vidraça!
Não ouves lá por fora as falas, que murmura
O vento que esvoaça?

Não sentes? quanto aroma expande-se nos ares
Do laranjal, das flores!…
Que noite! Que poesia! e que febris sonhares
De místicos amores!

Desfaleces! tens medo… Oh! pálida criança
Deslumbra-te o teu fado!
Teu coração palpita e vês tua esperança..
A noite do Noivado!

In extremis, de Olavo Bilac

Nunca morrer assim! Nunca morrer num dia
Assim! de um sol assim!
Tu, desgrenhada e fria,
Fria! postos nos meus os teus olhos molhados,
E apertando nos teus os meus dedos gelados…

E um dia assim! de um sol assim! E assim a esfera
Toda azul, no esplendor do fim da primavera!
Asas, tontas de luz, cortando o firmamento!
Ninhos cantando! Em flor a terra toda! O vento
Despencando os rosais, sacudindo o arvoredo…

E, aqui dentro, o silêncio… E este espanto e este medo!
Nós dois… e, entre nós dois, implacável e forte,
A arredar-me de ti, cada vez mais, a morte…

Eu, com o frio a crescer no coração, – tão cheio
De ti, até no horror do derradeiro anseio!
Tu, vendo retorcer-se amarguradamente,
A boca que beijava a tua boca ardente,
A boca que foi tua!

E eu morrendo! e eu morrendo
Vendo-te, e vendo o sol, e vendo o céu, e vendo
Tão bela palpitar nos teus olhos, querida,
A delícia da vida! a delícia da vida!

Desesperança, de Manuel Bandeira

Esta manhã tem a tristeza de um crepúsculo.
Como dói um pesar em cada pensamento!
Ah, que penosa lassidão em cada músculo…

O silêncio é tão largo, é tão longo, é tão lento
Que dá medo… O ar, parado, incomoda, angustia…
Dir-se-ia que anda no ar um mau pressentimento.

Assim deverá ser a natureza um dia,
Quando a vida acabar e, astro apagado, a Terra
Rodar sobre si mesma estéril e vazia.

O demônio sutil das nevroses enterra
A sua agulha de aço em meu crânio doído.
Ouço a morte chamar-me e esse apelo me aterra…

Minha respiração se faz como um gemido.
Já não entendo a vida, e se mais a aprofundo,
Mais a descompreendo e não lhe acho sentido.

Por onde alongue o meu olhar de moribundo,
Tudo a meus olhos toma um doloroso aspeto:
E erro assim repelido e estrangeiro no mundo.

Vejo nele a feição fria de um desafeto.
Temo a monotonia e apreendo a mudança.
Sinto que a minha vida é sem fim, sem objeto…

– Ah, como dói viver quando falta a esperança!

Aparição, de Antero de Quental

Um dia, meu amor, (e talvez cedo,
Que já sinto estalar-me o coração!)
Recordarás com dor e compaixão
As ternas juras que te fiz a medo…

Então, da casta alcova no segredo,
Da lamparina ao trêmulo clarão,
Ante ti surgirei, espectro vão,
Larva fugida ao sepulcral degredo…

E tu, meu anjo ao ver-me, entre gemidos
E aflitos ais, estenderás os braços
Tentando segurar-te aos meus vestidos…

⎯ “Ouve! espera!” ⎯ Mas eu, sem te escutar,
Fugirei, como um sonho, aos teus abraços
E como fumo sumir-me-ei no ar!

Da resistência, de Lara de Lemos

Cantarei versos de pedras.

Não quero palavras débeis
para falar do combate.
Só peço palavras duras,
uma linguagem que queime.

Pretendo a verdade pura:
a faca que dilacere,
o tiro que nos perfure,
o raio que nos arrase.

Prefiro o punhal ou foice
às palavras arredias.
Não darei a outra face.

Percam para sempre, de Raul de Carvalho

Percam para sempre as tuas mãos o jeito de pedir.
Esqueça para sempre a tua boca
O que disse a rezar.
E os teus olhos nunca mais, nunca mais saibam chorar
Porque é inútil.

Faz como os outros fizeram
Quando chegou o momento
De perder o medo à morte
Por ter muito amor à vida.

Conclusão

Ficamos por aqui!

Esperamos que tenha gostado de nossa seleção de poemas sobre o medo.

Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de ver a nossa coletânea de poemas sobre a manhã.

Um abraço e até a próxima!

Como citar este conteúdo COMO FAZER UM POEMA. 8 poemas sobre o medo em português!. [S.I.] 2023. Disponível em: https://comofazerumpoema.com/poemas-sobre-o-medo-portugues-poesia/. Acesso em: 5 set. 2024.