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5 ótimos poemas sobre o Sol em português

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Confira a nossa seleção de poemas sobre o Sol feitos por grandes poetas da língua portuguesa!

O Sol, maior astro de nosso Sistema Solar, é sem dúvida o astro mais cultuado pelo homem desde os primórdios.

Há uma infinidade de lendas, mitos, deuses, cultos e similares relacionados ao Sol, tido como o principal responsável por haver vida na Terra e, consequentemente, o principal responsável por nossa existência individual.

São praticamente infinitas as conotações que se pode inferir do Sol, de seu raiar pela manhã, de seu ofuscar que prenuncia tempestades ou escuridão, de sua proeminência em se localizando no centro da Via Láctea, em redor do qual orbitam diversos planetas… e por isso não são raros na literatura os poemas sobre o Sol, ou poemas em que o Sol é posto em destaque.

Na poesia, especialmente, é curioso observar como o mesmo astro pode inspirar emoções tão diferentes a depender do contexto em que é inserido pelo poeta.

Sendo assim, preparamos uma lista com 5 poemas sobre o Sol feitos por grandes poetas da língua portuguesa, para que você possa apreciar a criatividade com que este importantíssimo astro já foi abordado.

Boa leitura!

Poemas sobre o Sol

Lamento, de Antero de Quental

Um dilúvio de luz cai da montanha:
Eis o dia! eis o sol! o esposo amado!
Onde há por toda a terra um só cuidado
Que não dissipe a luz que o mundo banha?

Flor a custo medrada em erma penha,
Revolto mar ou golfo congelado,
Aonde há ser de Deus tão olvidado
Para quem paz e alívio o céu não tenha?

Deus é Pai! Pai de toda a criatura:
E a todo o ser o seu amor assiste:
De seus filhos o mal sempre é lembrado…

Ah! se Deus a seus filhos dá ventura
Nesta hora santa… e eu só posso ser triste…
Serei filho, mas filho abandonado!

Gemidos de arte, de Augusto dos Anjos

III

Pelo acidentadíssimo caminho
Faísca o sol. Nédios, batendo a cauda,
Urram os bois. O céu lembra uma lauda
Do mais incorruptível pergaminho.

Uma atmosfera má de incômoda hulha
Abafa o ambiente. O aziago ar morto a morte
Fede. O ardente calor da areia forte
Racha-me os pés como se fosse agulha.

Não sei que subterrânea e atra voz rouca,
Por saibros e por cem côncavos vales,
Como pela avenida das Mappales,
Me arrasta à casa do finado Toca!

Todas as tardes a esta casa venho.
Aqui, outrora, sem conchego nobre,
Viveu, sentiu e amou este homem pobre
Que carregava canas para o engenho!

Nos outros tempos e nas outras eras,
Quantas flores! Agora, em vez de flores,
Os musgos, como exóticos pintores,
Pintam caretas verdes nas taperas.

Na bruta dispersão de vítreos cacos,
À dura luz do sol resplandecente,
Trôpega e antiga, uma parede doente
Mostra a cara medonha dos buracos.

O cupim negro broca o âmago fino
Do teto. E traça trombas de elefantes
Com as circunvoluções extravagantes
Do seu complicadíssimo intestino.

O lodo obscuro trepa-se nas portas.
Amontoadas em grossos feixes rijos,
As lagartixas, dos esconderijos,
Estão olhando aquelas coisas mortas!

Fico a pensar no Espírito disperso
Que, unindo a pedra ao gneiss e a árvore à criança,
Como um anel enorme de aliança,
Une todas as coisas do Universo!

E assim pensando, com a cabeça em brasas
Ante a fatalidade que me oprime,
Julgo ver este Espírito sublime,
Chamando-me do sol com as suas asas!

Gosto do sol ignívomo e iracundo
Como o réptil gosta quando se molha
E na atra escuridão dos ares, olha
Melancolicamente para o mundo!

Essa alegria imaterializada,
Que por vezes me absorve, é o óbolo obscuro,
É o pedaço já podre de pão duro
Que o miserável recebeu na estrada!

Não são os cinco mil milhões de francos
Que a Alemanha pediu a Jules Favre…
É o dinheiro coberto de azinhavre
Que o escravo ganha, trabalhando aos brancos!

Seja este sol meu último consolo;
E o espírito infeliz que em mim se encarna
Se alegre ao sol, como quem raspa a sarna,
Só, com a misericórdia de um tijolo!…

Tudo enfim a mesma órbita percorre
E as bocas vão beber o mesmo leite…
A lamparina quando falta o azeite
Morre, da mesma forma que o homem morre.

Súbito, arrebentando a horrenda calma,
Grito, e se grito é para que meu grito
Seja a revelação deste Infinito
Que eu trago encarcerado da minh’alma!

Sol brasileiro! queima-me os destroços!
Quero assistir, aqui, sem pai que me ame,
De pé, à luz da consciência infame,
À carbonização dos próprios ossos!

Se penso mais que um momento, de Fernando Pessoa

Se penso mais que um momento
Na vida que eis a passar,
Sou para o meu pensamento
Um cadáver a esperar.

Dentro em breve (poucos anos
É quanto vive quem vive),
Eu, anseios e enganos,
Eu, quanto tive ou não tive,

Deixarei de ser visível
Na terra onde dá o sol,
E, ou desfeito e insensível,
Ou ébrio de outro arrebol,

Terei perdido, suponho,
Contato quente e humano
Com a terra, com o sonho,
Com mês a mês e ano a ano.

Por mais que o Sol doure a face
Dos dias, o espaço mudo
Lembra-nos que isso é disfarce
E que é a noite que é tudo.

Quando o sol encoberto vai mostrando, de Camões

Quando o sol encoberto vai mostrando
Ao mundo a luz quieta e duvidosa,
Ao longo de uma praia deleitosa
Vou na minha inimiga imaginando.

Aqui a vi os cabelos concertando;
Ali co’a mão na face, tão formosa;
Aqui falando alegre, ali cuidosa;
Agora estando queda, agora andando.

Aqui esteve sentada, ali me viu,
Erguendo aqueles olhos, tão isentos;
Comovida aqui hum pouco, ali segura.

Aqui se entristeceu, ali se riu;
E, enfim, nestes cansados pensamentos
Passo esta vida vã, que sempre dura.

Vagabundo, de Álvares de Azevedo

Eu durmo e vivo no sol como um cigano,
Fumando meu cigarro vaporoso;
Nas noites de verão namoro estrelas;
Sou pobre, sou mendigo, e sou ditoso!

Ando roto, sem bolsos nem dinheiro;
Mas tenho na viola uma riqueza:
Canto à lua de noite serenatas,
E quem vive de amor não tem pobreza.

Não invejo ninguém, nem ouço a raiva
Nas cavernas do peito, sufocante,
Quando à noite na treva em mim se entornam
Os reflexos do baile fascinante.

Namoro e sou feliz nos meus amores;
Sou garboso e rapaz… Uma criada
Abrasada de amor por um soneto
Já um beijo me deu subindo a escada…

Oito dias lá vão que ando cismando
Na donzela que ali defronte mora.
Ela ao ver-me sorri tão docemente!
Desconfio que a moça me namora!…

Tenho por meu palácio as longas ruas;
Passeio a gosto e durmo sem temores:
Quando bebo, sou rei como um poeta,
E o vinho faz sonhar com os amores.

O degrau das igrejas é meu trono,
Minha pátria é o vento que respiro,
Minha mãe é a lua macilenta,
E a preguiça a mulher por quem suspiro.

Escrevo na parede as minhas rimas,
De painéis a carvão adorno a rua;
Como as aves do céu e as flores puras
Abro meu peito ao sol e durmo à lua.

Sinto-me um coração de lazzaroni;
Sou filho do calor, odeio o frio;
Não creio no diabo nem nos santos…
Rezo à Nossa Senhora, e sou vadio!

Ora, se por aí alguma bela
Bem doirada e amante da preguiça
Quiser a nívea mão unir à minha
Há de achar-me na Sé, domingo, à Missa.

Conclusão

Ficamos por aqui!

Esperamos que tenha gostado de nossa seleção de poemas sobre o Sol.

Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de ver a nossa coletânea de poemas sobre a chuva.

Um abraço e até a próxima!

Como citar este conteúdo COMO FAZER UM POEMA. 5 ótimos poemas sobre o Sol em português. [S.I.] 2022. Disponível em: https://comofazerumpoema.com/poemas-sobre-o-sol-em-portugues-poesia/. Acesso em: 20 set. 2024.