Confira a nossa seleção de poemas sobre oração em português!
A oração é um dos temas mais interessantes e profundos presentes na psicologia humana.
Uma oração resume-se numa tentativa humana de comunicar-se com o divino; portanto ela representa, no mínimo, essa tentativa de contato, esse desejo de estabelecer um elo entre com o universo ou com uma força maior.
Desde há muitos séculos é disseminada a crença de que se obtém resultados tangíveis neste esforço mental concentrado e emocionado representado pela oração.
Naturalmente, inúmeros poetas partilharam desta crença e fizeram poemas sobre oração ou mesmo orações em forma de versos.
Dito isso, preparamos uma seleção com 6 poemas sobre oração para que você possa apreciar algumas abordagens poéticas para este tema tão interessante.
Boa leitura!
Poemas sobre oração
Da oração, de Agostinho da Cruz
Doce quietação de quem vos ama,
Em serviços, Senhor, que tanto quanto
Amado sois, tão longe o fim de tanto,
Subindo mais, e mais, mais se derrama:Ardendo por arder em viva chama
De amor do vosso amor, a voz levanto;
Sinto, suspiro, choro, colho, e planto
Ao som doutra suave que me chama.Onde se vai, Senhor, quem vos ofende?
Donde levais, Deus meu, a quem vos segue?
Onde fugir se pode uma de duas?Morto por quem o mata que pretende,
Ou que extremos de amor há que nos negue
Quem culpas nossas chama ofensas suas?
Oração a Nossa Senhora da Boa Morte, de Manuel Bandeira
Fiz tantos versos a Teresinha…
Versos tão tristes, nunca se viu!
Pedi-lhe coisas. O que eu pedia
Era tão pouco! Não era glória…
Nem era amores… Nem foi dinheiro…
Pedia apenas mais alegria:
Santa Teresa nunca me ouviu!Para outras santas voltei os olhos.
Porém as santas são impassíveis
Como as mulheres que me enganaram.
Desenganei-me das outras santas
(Pedi a muitas, rezei a tantas)
Até que um dia me apresentaram
A Santa Rita dos Impossíveis.Fui despachado de mãos vazias!
Dei volta ao mundo, tentei a sorte.
Nem alegrias mais peço agora,
Que eu sei o avesso das alegrias.
Tudo que viesse, viria tarde!
O que na vida procurei sempre,
– Meus impossíveis de Santa Rita, –
Dar-me-eis um dia, não é verdade?
Nossa Senhora da Boa Morte!
Oração à Luz, de Guerra Junqueiro
Claro mistério
Do azul etéreo!
Sonho sidéreo!
Luz!Da terra dorida
Alento e guarida!
Fermento da vida,
Luz!Eucaristia santa,
Vinho e pão que alevanta
Homem, rochedo e planta…
Luz!Virgem ígnea das sete cores,
Toda abrasada de esplendores,
Mãe dos heróis e mãe das flores,
Luz!Fiat harmônico e jucundo,
Verbo diáfano e profundo,
Alma do sol, corpo do mundo,
Luz!Luz-esperança, luz rútila da aurora,
Vida vibrando na ampliação sonora,
Vida cantando pela vida fora,
Luz!Luz que nos dás o pão, ó luz amada!
Luz que nos dás o sangue, ó luz dourada!
Luz que nos dás o olhar, luz encantada!
Bendita sejas, luz, bendita sejas!Sejas bendita em nós, ó fonte de harmonia!
Sejas bendita em nós, ó urna de alegria!
Bendito seja o filho teu, o alvor do dia!
Perpetuamente, ó luz, ó mãe, bendita sejas!(…)
N. R., de Augusto dos Anjos
Quando, na radiosíssima viagem,
Pela poeira telúrica passeia,
A íntima e própria ânsia afetiva ateia
Nos emocionalismos de um selvagem.Olha-a do alto, invejosa, a Lua Cheia,
O milagre de luz de sua imagem
Deixa, como lembrança da passagem,
Uma sequência de astros sobre a areia.Treme, no abalo inteiro dos neurônios,
O coração de todos os Petrônios,
Com as sístoles e as diástoles ansiosas,Quando ela balbucia, de mansinho,
Como o cisne encantado do caminho,
A oração específica das rosas!
A vila maldita, cidade de Deus, de Gonçalves Dias
VII
E aqueles que inda sãos e imunes eram,
Os que a peste enjeitou,
Que fome e sede e privações sofreram…
A espada decepou.E a donzela tremeu, da mãe nos braços
Não salva ainda,
Que incitava os prazeres do soldado
A face linda.E o fido amante, que de a ver tão bela
Sentiu prazer,
Sente martírios porque a vê formosa
No seu morrer.Coisa alguma escapou! — Já tudo é cinzas
Tudo destruição:
A coluna, o palácio, a casa, o templo,
O templo da oração!Meninos, homens e mulheres, — todos
Já rojam sobre o pó;
Mas o Deus, o Deus bom já está vingado.
Por ela já sente dó.E a vila d’outrora mais ruidosa,
Lá ressurgiu cidade;
Porque o Deus da justiça, o das armadas,
O Deus é de bondade.
A uma senhora que estava rezando por umas contas, de Camões
Peço-vos que me digais
As orações, que rezastes,
Se são pelos que matastes,
Se por vós, que assi matais.
Se são por vós, são perdidas;
Que qual será a oração
Que seja satisfação,
Senhora, de tantas vidas?Que se vedes quantos vêm
A só vida vos pedir,
Como vos há Deus de ouvir,
Se vós não ouvis ninguém?
Não podeis ser perdoada
Com mãos a matar tão prontas;
Que, se numa trazeis contas,
Na outra trazeis espada.Se dizeis que encomendando
Os que matastes andais,
Se rezais por quem matais,
Para que matais, rezando?
Que, se na força do orar,
Levantais as mãos aos céus,
Não as ergueis para Deus,
Erguei-las para matar.E quando os olhos cerrais
Toda enlevada na fé,
Cerram-se os de quem vos vê
Para nunca verem mais.
Pois se assi forem tratados
Os que vos veem quando orais,
Essas horas que rezais
São as horas dos finados.Pois logo, se sois servida
Que tantos mortos não sejam,
Não rezeis onde vos vejam,
Ou vede para dar vida.
Ou, se quereis escusar
Estes males que causastes,
Ressuscitai quem matastes:
Não tereis por quem rezar.
Conclusão
Ficamos por aqui!
Esperamos que tenha gostado de nossa seleção de poemas sobre oração.
Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de ver a nossa seleção de poemas sobre paciência.
Um abraço e até a próxima!