Confira a nossa seleção de poemas sobre poder feitos por poetas da língua portuguesa!
A natureza íntima do poder é objeto de variadas áreas do conhecimento, destacadamente da filosofia e da sociologia.
Em suma, o que mais intriga é que não podemos fugir das influências que aquilo comumente denominado poder exerce em nossas vidas, nas mais variadas esferas.
Podemos interpretar o poder como a capacidade de realizar a própria vontade, ou de obrigar alguém a realizá-la. Há, também, um sentido metafísico para esta célebre palavra, que pode ainda ser interpretada como potência, vigor, virtude, ou como simples infinitivo de “posso”.
De todas essas acepções, houve poetas que se aproveitaram e fizeram versos relacionando-os com elas, seja em tom de exaltação, seja em tom de lamento, visto que o poder é amiúde gerador de injustiças.
Dito isso, preparamos uma lista com 5 poemas sobre poder, para que você possa apreciar as diferentes maneiras com que esta palavra tocou e inspirou grandes artistas.
Boa leitura!
Poemas sobre poder
Se comparo poder ou ouro ou fama, de Antero de Quental
Se comparo poder ou ouro ou fama,
Venturas que em si têm oculto o dano,
Com aquele outro afeto soberano,
Que amor se diz e é luz de pura chama,Vejo que são bem como arteira dama,
Que sob honesto riso esconde o engano,
E o que as segue, como homem leviano
Que por um vão prazer deixa quem ama.Nasce do orgulho aquele estéril gozo
E a glória dele é cousa fraudulenta,
Como quem na vaidade tem a palma:Tem na paixão seu brilho mais formoso
E das paixões também some-o a tormenta…
Mas a glória do amor… essa vem d’alma!
Lendo a Ilíada, de Olavo Bilac
Ei-lo, o poema de assombros — céu cortado
De relâmpagos — onde a alma potente
De Homero vive, e vive eternizado
O espantoso poder da argiva gente.Arde Troia… De rastos passa atado
O herói ao carro do rival, e, ardente,
Bate o sol sobre um mar ilimitado
De capacetes e de sangue quente.Mais que as armas, porém, mais que a batalha
Mais que os incêndios, brilha o amor que ateia
O ódio e entre os povos a discórdia espalha:— Esse amor que ora ativa, ora asserena
A guerra, e o heroico Páris encadeia
Aos curvos seios da formosa Helena.
Cegos como as peças de ouro reluzentes, de Francisco Bingre
A Fama, a Glória, as Armas, a Nobreza,
A Ciência, o Poder e tudo quanto
Em honra e distinção, de canto a canto,
Encerra deste mundo a vã Grandeza,A Pluto, cego deus, com vil baixeza
Adoram de joelhos, como a santo:
Pois só o deus do reino atroz do espanto
Pode ser rei e Númen da riqueza.Do dossel do seu trono estão pendentes
C’roas, mitras, lauréis, brasões, tiaras,
Que o cego deus reparte às cegas gentes.Tudo of’rendar-lhe vai nas torpes aras,
Cegos co’as peças de ouro reluzentes,
A Honra, a Liberdade, as vidas caras.
O leão e o porco, de Bocage
O rei dos animais, o rugidor leão,
Com o porco engraçou, não sei por que razão.
Quis empregá-lo bem para tirar-lhe a sorna
(A quem torpe nasceu nenhum enfeite adorna):Deu-lhe alta dignidade, e rendas competentes,
Poder de despachar os brutos pretendentes,
De reprimir os maus, fazer aos bons justiça,
E assim cuidou vencer-lhe a natural preguiça;Mas em vão, porque o porco é bom só para assar,
E a sua ocupação dormir, comer, fossar.
Notando-lhe a ignorância, o desmazelo, a incúria,
Soltavam contra ele injúria sobre injúriaOs outros animais, dizendo-lhe com ira:
“Ora o que o berço dá, somente a cova o tira!”
E ele, apenas grunhindo a vilipêndios tais,
Ficava muito enxuto. Atenção nisto, ó pais!Dos filhos para o gênio olhai com madureza;
Não há poder algum que mude a natureza:
Um porco há-de ser porco, inda que o rei dos bichos
O faça cortesão pelos seus vãos caprichos.
O cometa, de Gonçalves Dias
Eis nos céus rutilando ígneo cometa!
A imensa cabeleira o espaço alastra,
E o núcleo, como um sol tingido em sangue,
Alvacento luzir verte agoireiro
Sobre a pávida terra.Poderosos do mundo, grandes, povo,
Dos lábios removei a taça ingente,
Que em vossas festas gira; eis que rutila
O sanguíneo cometa em céus infindos!…
Pobres mortais, — sois vermes!O Senhor o formou terrível, grande;
Como indócil corcel que morde o freio,
Retinha-o só a mão do Onipotente.
Ao fim lhe disse: — Vai, Senhor dos Mundos,
Senhor do espaço infindo.E qual louco temido, ardendo em fúria,
Que ao vento solta a coma desgrenhada,
E vai, néscio de si, livre de ferros,
De encontro às duras rochas, — tal progride
O cometa incansável.Se na marcha veloz encontra um mundo,
O mundo em mil pedaços se converte;
Mil centelhas de luz brilham no espaço
A esmo, como um tronco pelas vagas
Infrenes combatido.Se junto doutro mundo acaso passa,
Consigo o arrasta e leva transformado;
A cauda portentosa o enlaça e prende,
E o astro vai com ele, como argueiro
Em turbilhão levado.Como Leviatã perturba os mares,
Ele perturba o espaço; — como a lava,
Ele marcha incessante e sempre; — eterno,
Marcou-lhe largo giro a lei que o rege,
— Às vezes o infinito.Ele carece então da eternidade!
E aos homens diz — e majestoso e grande
Que jamais o verão; e passa, e longe
Se entranha em céus sem fim, como se perde
Um barco no horizonte!
Conclusão
Ficamos por aqui!
Esperamos que tenha gostado de nossa seleção de poemas sobre poder.
Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de ver a nossa coletânea de poemas sobre autoconhecimento.
Um abraço e até a próxima!