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4 poemas de Castro Alves para entender seu imenso sucesso

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Confira a nossa seleção de poemas de Castro Alves e entenda por que este poeta é tão aclamado!

Talvez seja Castro Alves o maior e mais retumbante exemplo de sucesso e glória literária no Brasil.

O “poeta dos escravos” ou “poeta republicano” parece ter transformado em versos a voz popular de sua geração.

Interessando-se e demonstrando vocação pela poesia ainda era jovem, quando Castro Alves, estudante da Faculdade de Direito, foi tocado pelas ideias abolicionistas, já possuía repertório suficiente para esculpi-las em arte.

Disto, o poeta evoluiu para uma poesia de cunho marcadamente social que expressou com força enorme toda a sua indignação contra os graves problemas sociais de seu tempo.

Tocando o público, que empatizou-lhe com o brado, veio o sucesso e a glória.

Ainda hoje, os poemas de Castro Alves comovem e sua importância histórica é indiscutível. Como conta-nos a Academia Brasileira de Letras, “só Castro Alves estenderia sobre o negro o manto redentor da poesia, tratando-o como herói, como ser integralmente humano”.

Sendo assim, preparamos uma seleção com 4 poemas de Castro Alves para que você sinta, com mais de um século de atraso, a vivacidade de expressão e a força das ideias do poeta.

Boa leitura!

Poemas de Castro Alves

Mocidade e morte

“E perto avisto o porto
Imenso, nebuloso, e sempre noite
Chamado – Eternidade!”
(Laurindo)

“Lasciate ogni speranza, voi ch’entrate.”
(Dante)

Oh! Eu quero viver, beber perfumes
Na flor silvestre, que embalsama os ares;
Ver minh’alma adejar pelo infinito,
Qual branca vela n’amplidão dos mares.
No seio da mulher há tanto aroma…
Nos seus beijos de fogo há tanta vida…
Árabe errante, vou dormir à tarde
À sombra fresca da palmeira erguida.

Mas uma vez responde-me sombria:
Terás o sono sob a lájea fria.

Morrer… quando este mundo é um paraíso,
E a alma um cisne de douradas plumas:
Não! o seio da amante é um lago virgem…
Quero boiar à tona das espumas.
Vem! formosa mulher – camélia pálida,
Que banharam de pranto as alvoradas.
Minh’alma é a borboleta, que espaneja
O pó das asas lúcidas, douradas…

E a mesma vez repete-me terrível,
Com gargalhar sarcástico: – impossível!

Eu sinto em mim o borbulhar do gênio.
Vejo além um futuro radiante:
Avante! – brada-me o talento n’alma
E o eco ao longe me repete – avante! –
O futuro… o futuro… no seu seio…
Entre louros e bênçãos dorme a glória!
Após – um nome do universo n’alma,
Um nome escrito no Panteon da história.

E a mesma voz repete funerária: –
Teu Panteon – a pedra mortuária!

Morrer – é ver extinto dentre as névoas
O fanal, que nas guia na tormenta:
Condenado – escutar dobres de sino,
– Voz da morte, que a morte lhe lamenta –
Ai! morrer – é trocar astros por círios,
Leito macio por esquife imundo,
Trocar os beijos da mulher – no visco
Da larva errante no sepulcro fundo.

Ver tudo findo… só na lousa um nome,
Que o viandante a perpassar consome.

E eu sei que vou morrer… dentro em meu peito
Um mal terrível me devora a vida:
Triste Ahasverus, que no fim da estrada,
Só tem por braços uma cruz erguida.
Sou o cipreste, qu’inda mesmo flórido,
Sombra de morte no ramal encerra!
Vivo – que vaga sobre o chão da morte,
Morto – entre os vivos a vagar na terra.

Do sepulcro escutando triste grito
Sempre, sempre bradando-me: maldito! –

E eu morro, ó Deus! na aurora da existência,
Quando a sede e o desejo em nós palpita…
Levei aos lábios o dourado pomo,
Mordi no fruto podre do Asfaltita.
No triclínio da vida – novo Tântalo –
O vinho do viver ante mim passa…
Sou dos convivas da legenda Hebraica,
O ’stilete de Deus quebra-me a taça.

É que até minha sombra é inexorável,
Morrer! morrer! soluça-me implacável.

Adeus, pálida amante dos meus sonhos!
Adeus, vida! Adeus, glória! amor! anelos!
Escuta, minha irmã, cuidosa enxuga
Os prantos de meu pai nos teus cabelos.
Fora louco esperar! fria rajada
Sinto que do viver me extingue a lampa…
Resta-me agora por futuro – a terra,
Por glória – nada, por amor – a campa.

Adeus! arrasta-me uma voz sombria
Já me foge a razão na noite fria!

Ode ao Dois de Julho

Era no Dois de Julho. A pugna imensa
Travara-se nos serros da Bahia…
O anjo da morte pálido cosia
Uma vasta mortalha em Pirajá.
Neste lençol tão largo, tão extenso,
Como um pedaço roto do infinito…
O mundo perguntava erguendo um grito:
“Qual dos gigantes morto rolará?!…

Debruçados do céu… a noite e os astros
Seguiam da peleja o incerto fado…
Era a tocha — o fuzil avermelhado!
Era o circo de Roma — o vasto chão!
Por palmas — o troar da artilharia!
Por feras — os canhões negros rugiam!
Por atletas — dois povos se batiam!
Enorme anfiteatro — era a amplidão!

Não! Não eram dois povos, que abalavam
Naquele instante o solo ensangüentado…
Era o porvir — em frente do passado,
A liberdade — em frente à escravidão.
Era a luta das águias — e do abutre,
A revolta do pulso — contra os ferros,
O pugilato da razão — com os erros,
O duelo da treva — e do clarão!…

No entanto a luta recrescia indômita…
As bandeiras — como águias eriçadas —
Se abismavam com as asas desdobradas
Na selva escura da fumaça atroz…
Tonto de espanto, cego de metralha
O arcanjo do triunfo vacilava…
E a glória desgrenhada acalentava
O cadáver sangrento dos heróis!…

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Mas quando a branca estrela matutina
Surgiu do espaço… e as brisas forasteiras
No verde leque das gentis palmeiras
Foram cantar os hinos do arrebol,
Lá do campo deserto da batalha
Uma voz se elevou clara e divina:
Eras tu — liberdade peregrina!
Esposa do porvir — noiva do sol!…

Eras tu que com os dedos ensopados
No sangue dos avós mortos na guerra,
Livre sagravas a Colúmbia terra,
Sagravas livre a nova geração!
Tu que erguias, subida na pirâmide,
Formada pelos mortos do Cabrito,
Um pedaço de gládio — no infinito…
Um trapo de bandeira — n’amplidão!…

Os anjos da meia-noite

Fotografias

I

Quando a insônia, qual lívido vampiro,
Como o arcanjo da guarda do Sepulcro,
Vela à noite por nós,
E banha-se em suor o travesseiro,
E além geme nas franças do pinheiro
Da brisa a longa voz…

Quando sangrenta a luz no alampadário
Estala, cresce, expira, após ressurge,
Como uma alma a penar;
E canta aos guizos rubros da loucura
A febre — a meretriz da sepultura —
A rir e a soluçar…

Quando tudo vacila e se evapora,
Muda e se anima, vive e se transforma,
Cambaleia e se esvai…
E da sala na mágica penumbra…
Um mundo em trevas rápido se obumbra…
E outro das trevas sai…

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Então… nos brancos mantos, que arregaçam
Da meia-noite os Anjos alvos passam
Em longa procissão!
E eu murmuro ao fitá-los assombrado:
São os Anjos de amor de meu passado
Que desfilando vão…

Almas, que um dia no meu peito ardente
Derramastes dos sonhos a semente,
Mulheres, que eu amei!
Anjos louros do céu! virgens serenas!
Madonas, Querubins, ou Madalenas!
Surgi! aparecei!

Vinde, fantasmas! Eu vos amo ainda;
Acorde-se a harmonia à noite infinda
Ao roto bandolim…
……………………………………………………….
E no éter, que em notas se perfuma,
As visões s’alteando uma por uma…
Vão desfilando assim!…

Saudação a Palmares

Nos altos cerros erguido
Ninho d’águias atrevido,
Salve! – País do bandido!
Salve! – Pátria do jaguar!
Verde serra onde os palmares
– Como indianos cocares –
No azul dos colúmbios ares
Desfraldam-se em mole arfar! …

Salve! Região dos valentes
Onde os ecos estridentes
Mandam aos plainos trementes
Os gritos do caçador!
E ao longe os latidos soam…
E as trompas da caça atroam…
E os corvos negros revoam
Sobre o campo abrasador! …

Palmares! a ti meu grito!
A ti, barca de granito,
Que no soçobro infinito
Abriste a vela ao trovão.
E provocaste a rajada,
Solta a flâmula agitada
Aos uivos da marujada
Nas ondas da escravidão!

De bravos soberbo estádio,
Das liberdades paládio,
Pegaste o punho do gládio,
E olhaste rindo p’ra o val:
Descei de cada horizonte…
Senhores! Eis-me de fronte!
E riste… O riso de um monte!
E a ironia… de um chacal!…

Cantem Eunucos devassos
Dos reis os marmóreos paços;
E beijem os férreos laços,
Que não ousam sacudir…
Eu canto a beleza tua,
Caçadora seminua!…
Em cuja perna flutua
Ruiva a pele de um tapir.

Crioula! o teu seio escuro
Nunca deste ao beijo impuro!
Luzidio, firme, duro,
Guardaste p’ra um nobre amor.
Negra Diana selvagem,
Que escutas sob a ramagem
As vozes – que traz a aragem
Do teu rijo caçador! …

Salve, Amazona guerreira!
Que nas rochas da clareira,
– Aos urros da cachoeira –
Sabes bater e lutar…
Salve! – nos cerros erguido –
Ninho, onde em sono atrevido,
Dorme o condor… e o bandido!…
A liberdade… e o jaguar!

Conclusão

Ficamos por aqui!

Esperamos que você tenha gostado de nossa seleção de poemas de Castro Alves.

Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de conferir a nossa coletânea de Álvares de Azevedo.

Um abraço e até a próxima!

Como citar este conteúdo COMO FAZER UM POEMA. 4 poemas de Castro Alves para entender seu imenso sucesso. [S.I.] 2021. Disponível em: https://comofazerumpoema.com/4-poemas-de-castro-alves-poesia-sucesso/. Acesso em: 3 out. 2024.