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5 poemas de Álvares de Azevedo para lamentar sua morte prematura

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Veja a nossa seleção de poemas de Álvares de Azevedo e lamente, como nós, sua morte prematura.

Álvares de Azevedo foi um grande talento da literatura brasileira que, lamentavelmente, faleceu com somente 20 anos, em 1852.

Deixou-nos, porém, uma obra poética que impressiona, posto produzida por alguém tão jovem, e que nos faz imaginar quão brilhante lhe era a perspectiva artística.

Os poemas de Álvares de Azevedo evidenciam domínio da técnica poética e demonstram grande repertório criativo.

O poeta sabe expressar-se emotivamente, pintando cenários com perícia e enchendo os versos de musicalidade.

Dito isso, preparamos uma seleção com 5 poemas de Álvares de Azevedo para que você possa entrar em contato com a obra deste talento brasileiro.

Boa leitura!

Poemas de Álvares de Azevedo

Soneto

Pálida, à luz da lâmpada sombria,
Sobre o leito de flores reclinada,
Como a lua por noite embalsamada,
Entre as nuvens do amor ela dormia!

Era a virgem do mar, na escuma fria
Pela maré das águas embalada!
Era um anjo entre nuvens d’alvorada
Que em sonhos se banhava e se esquecia!

Era mais bela! o seio palpitando…
Negros olhos as pálpebras abrindo…
Formas nuas no leito resvalando…

Não te rias de mim, meu anjo lindo!
Por ti as noites eu velei chorando,
Por ti nos sonhos morrerei sorrindo!

Lembrança de morrer

“No more! o never more!”
(Shelley)

Quando em meu peito rebentar-se a fibra
Que o espírito enlaça à dor vivente,
Não derramem por mim nem uma lágrima
Em pálpebra demente.

E nem desfolhem na matéria impura
A flor do vale que adormece ao vento:
Não quero que uma nota de alegria
Se cale por meu triste passamento.

Eu deixo a vida como deixa o tédio
Do deserto, o poento caminheiro –
Como as horas de um longo pesadelo
Que se desfaz ao dobre de um sineiro;

Como um desterro de minh’alma errante,
Onde fogo insensato a consumia:
Só levo uma saudade – é desses tempos
Que amorosa ilusão embelecia.

Só levo uma saudade – é dessas sombras
Que eu sentia velar nas noites minhas…
De ti, ó minha mãe, pobre coitada
Que por minha tristeza te definhas!

De meu pai… de meus únicos amigos,
Poucos – bem poucos – e que não zombavam
Quando, em noites de febre endoudecido,
Minhas pálidas crenças duvidavam.

Se uma lágrima as pálpebras me inunda,
Se um suspiro nos seios treme ainda
É pela virgem que sonhei… que nunca
Aos lábios me encostou a face linda!

Só tu à mocidade sonhadora
Do pálido poeta deste flores…
Se viveu, foi por ti! e de esperança
De na vida gozar de teus amores.

Beijarei a verdade santa e nua,
Verei cristalizar-se o sonho amigo…
Ó minha Virgem dos errantes sonhos,
Filha do céu, eu vou amar contigo!

Descansem o meu leito solitário
Na floresta dos homens esquecida,
À sombra de uma cruz, e escrevam nela:
– Foi poeta – sonhou – e amou na vida. —

Sombras do vale, noites da montanha
Que minha alma cantou e amava tanto,
Protegei o meu corpo abandonado,
E no silêncio derramai-lhe canto!

Mas quando preludia ave d’aurora
E quando à meia-noite o céu repousa,
Arvoredos do bosque, abri os ramos…
Deixai a lua prantear-me a lousa!

Pedro Ivo

“Tristes coroas, sob as quais às vezes
Está gravada uma inscrição d’infâmia!”
(Alexandre Herculano)

Perdoai-lhe, Senhor! ele era um bravo !
Fazia as faces descorar do escravo
Quando ao sol da batalha a fronte erguia,
E o corcel gotejante de suor
Entre sangue e cadáveres corria!
O gênio das pelejas parecia…
Perdoai-lhe, Senhor!

Onde mais vivo em peito mais valente
Num coração mais livre o sangue ardente
Ao fervor desta América bulhava?
Era ura leão sangrento que rugia:
Da guerra nos clarins se embriagava —
E vossa gente — pálida recuava
Quando ele aparecia!

Era filho do povo — o sangue ardente
Às faces lhe assomava incandescente
Quando cismava do Brasil na sina…
Ontem — era o estrangeiro que zombava ,
Amanhã — era a lâmina assassina,
No cadafalso a vil carnificina
Que em sangue jubilava!

Era medonho o rubro pesadelo
Mas nas frontes venais do gênio o selo.
Gravaria o anátema da história!
Dos filhos da nação a rubra espada
No sangue impuro da facção inglória
Lavaria dos livres na vitória
A mancha profanada!

A fronte envolta em folhas de loureiro
Não a escondemos, não!… Era um guerreiro!
Despiu por uma ideia a sua espada!
Alma cheia de fogo e mocidade,
Que ante a fúria dos reis não se acobarda
Sonhava nesta geração bastarda
Glórias… e liberdade!

Tinha sede de vida e de futuro;
Da liberdade ao sol curvou-se puro
E beijou-lhe a bandeira sublimada:
Amou-a como a Deus, e mais que a vida
Perdão para essa fronte laureada!
Não lanceis à matilha ensanguentada
A águia nunca vencida!

Perdoai-lhe, Senhor! Quando na história
Vedes os reis se coroar de glória
Não é quando no sangue os tronos lavam
E envoltos no seu manto prostituto
Olvidam-se das glórias que sonhavam!
Para esses — maldição! que o leito cavam
Em lodaçal corrupto!

Nem sangue de Ratcliffs o fogo apaga
Que as frontes populares embriaga,
Nem do herói a cabeça decepada
Imunda, envolta em pó, no chão da praça,
Contraída, amarela, ensanguentada,
Assusta a multidão que ardente brada
E tronos despedaça!

O cadáver sem bênçãos, insepulto,
Lançado aos corvos do ervaçal inculto,
A fronte varonil do fuzilado
Ao sono imperial co’os lábios frios
Podem passar no escárnio desbotado —
Ensanguentar-te a seda ao cortinado
E rir-te aos calafrios !

Não escuteis essa facção impia
Que vos repete a sua rebeldia…
Como o verme no chão da tumba escura
Convulsa-se da treva no mistério :
Como o vento do inferno em água impura
Com a boca maldita vos murmura:
“Morra! salvai o império!”

Sim, o império salvai! mas não com sangue!
Vede — a pátria debruça o peito exangue
Onde essa turba corvejou , cevou-se!
Nas glórias, no passado eles cuspiram!
Vede — a pátria ao Bretão ajoelhou-se,
Beijou-lhe os pés, no lodo mergulhou-se!
Eles a prostituíram!

Malditos! do presente na ruína
Como torpe, despida Messalina
Aos apertos infames do estrangeiro
Traficam dessa mãe que os embalou!
Almas descridas do sonhar primeiro
Venderiam o beijo derradeiro
Da virgem que os amou!

Perdoai-lhe, Senhor! nunca vencido,
Se em ferros o lançaram foi traído!
Como o Árabe além no seu deserto,
Como o cervo no páramo das relvas
Ninguém os trilhos lhe seguira ao perto
No murmúrio das selvas !

Perdão ! por vosso pai! que era valente,
Que se batia ao sol co’a face ardente,
Rei — e bravo também! e cavaleiro!
Que da espada na guerra a luz sabia
E ao troar dos canhões intumescia
O peito de guerreiro!

Perdão, por vossa mãe! por vossa glória!
Pelo vosso porvir e nossa história!
Não mancheis vossos louros do futuro!
Nem lisonjeiro incenso a nódoa exime!
Lava-se o poluir de um leito impuro —
Lava-se a palidez do vício escuro —
Mas não lava-se um crime!

Meu sonho

Eu:

Cavaleiro das armas escuras,
Onde vais pelas trevas impuras
Com a espada sanguenta na mão?
Por que brilham teus olhos ardentes
E gemidos nos lábios frementes
Vertem fogo do teu coração?

Cavaleiro, quem és? o remorso?
Do corcel te debruças no dorso…
E galopas do vale através…
Oh! da estrada acordando as poeiras
Não escutas gritar as caveiras
E morder-te o fantasma nos pés?

Onde vais pelas trevas impuras,
Cavaleiro das armas escuras,
Macilento qual morto na tumba?…
Tu escutas… Na longa montanha
Um tropel teu galope acompanha?
E um clamor de vingança retumba?

Cavaleiro, quem és? – que mistério,
Quem te força da morte no império
Pela noite assombrada a vagar?

O fantasma:

Sou o sonho de tua esperança,
Tua febre que nunca descansa,
O delírio que te há de matar!…

Se eu morresse amanhã

Se eu morresse amanhã, viria ao menos
Fechar meus olhos minha triste irmã;
Minha mãe de saudades morreria
Se eu morresse amanhã!

Quanta glória pressinto em meu futuro!
Que aurora de porvir e que manhã!
Eu perdera chorando essas coroas
Se eu morresse amanhã!

Que sol! que céu azul! que doce n’alva
Acorda a natureza mais louçã!
Não me batera tanto amor no peito
Se eu morresse amanhã!

Mas essa dor da vida que devora
A ânsia de glória, o dolorido afã…
A dor no peito emudecera ao menos
Se eu morresse amanhã!

Conclusão

Ficamos por aqui!

Esperamos que tenha gostado de nossos selecionados poemas de Álvares de Azevedo.

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Um abraço e até a próxima!

Como citar este conteúdo COMO FAZER UM POEMA. 5 poemas de Álvares de Azevedo para lamentar sua morte prematura. [S.I.] 2021. Disponível em: https://comofazerumpoema.com/5-poemas-de-alvares-de-azevedo-poesia-morte/. Acesso em: 26 out. 2024.