Confira a nossa seleção de poemas sobre pensamento em português!
O pensamento é uma das atividades mais estimulantes que podemos experimentar nesta vida.
Através dele refletimos sobre nós mesmos, exploramos possibilidades, ideias, conceitos e emoções, moldamos a visão de mundo que influenciará diretamente em nossa conduta e, além de tudo isso, criamos um mundo particularmente nosso.
Naturalmente, é através do pensamento que se cria a arte; aliás, é através do pensamento que se cria tudo, posto que toda criação humana, para existir concretamente, precisa ter antes existido como ideia na mente de seu criador.
Sendo assim, é natural que poetas estejam muito bem familiarizados com o pensamento, tendo-lhe dedicado alguns de seus versos.
Dito isso, preparamos uma seleção com 6 poemas sobre pensamento para que você possa apreciar algumas abordagens para esta temática.
Boa leitura!
Poemas sobre pensamento
Dizes-me: tu és mais alguma coisa, de Alberto Caeiro (Fernando Pessoa)
Dizes-me: tu és mais alguma coisa
Que uma pedra ou uma planta.
Dizes-me: sentes, pensas e sabes
Que pensas e sentes.
Então as pedras escrevem versos?
Então as plantas têm ideias sobre o mundo?Sim: há diferença.
Mas não é a diferença que encontras;
Porque o ter consciência não me obriga a ter teorias sobre as coisas:
Só me obriga a ser consciente.Se sou mais que uma pedra ou uma planta? Não sei.
Sou diferente. Não sei o que é mais ou menos.Ter consciência é mais que ter cor?
Pode ser e pode não ser.
Sei que é diferente apenas.
Ninguém pode provar que é mais que só diferente.Sei que a pedra é a real, e que a planta existe.
Sei isto porque elas existem.Sei isto porque os meus sentidos mo mostram.
Sei que sou real também.
Sei isto porque os meus sentidos mo mostram,
Embora com menos clareza que me mostram a pedra e a planta.
Não sei mais nada.Sim, escrevo versos, e a pedra não escreve versos.
Sim, faço ideias sobre o mundo, e a planta nenhumas.
Mas é que as pedras não são poetas, são pedras;
E as plantas são plantas só, e não pensadores.
Tanto posso dizer que sou superior a elas por isto,
Como que sou inferior.
Mas não digo isso: digo da pedra, “é uma pedra”,
Digo da planta, “é uma planta”,
Digo de mim, “sou eu”.
E não digo mais nada. Que mais há a dizer?
Angústia, de Florbela Espanca
Tortura do pensar! Triste lamento!
Quem nos dera calar a tua voz!
Quem nos dera cá dentro, muito a sós,
Estrangular a hidra num momento!E não se quer pensar! … e o pensamento
Sempre a morder-nos bem, dentro de nós …
Querer apagar no céu – ó sonho atroz! –
O brilho duma estrela, com o vento! …E não se apaga, não … nada se apaga!
Vem sempre rastejando como a vaga …
Vem sempre perguntando: “O que te resta? …”Ah! não ser mais que o vago, o infinito!
Ser pedaço de gelo, ser granito,
Ser rugido de tigre na floresta!
Floriram por engano as rosas bravas, de Camilo Pessanha
Floriram por engano as rosas bravas
No inverno: veio o vento desfolhá-las…
Em que cismas, meu bem? Porque me calas
As vozes com que há pouco me enganavas?Castelos doidos! Tão cedo caístes!…
Onde vamos, alheio o pensamento,
De mãos dadas? Teus olhos, que um momento
Perscrutaram nos meus, como vão tristes!E sobre nós cai nupcial a neve,
Surda, em triunfo, pétalas, de leve
Juncando o chão, na acrópole de gelos…Em redor do teu vulto é como um véu!
Quem as esparze — quanta flor! — do céu,
Sobre nós dois, sobre os nossos cabelos?
Escavação, de Mário de Sá-Carneiro
Numa ânsia de ter alguma cousa,
Divago por mim mesmo a procurar,
Desço-me todo, em vão, sem nada achar,
E a minh’alma perdida não repousa.Nada tendo, decido-me a criar:
Brando a espada: sou luz harmoniosa
E chama genial que tudo ousa
Unicamente à força de sonhar…Mas a vitória fulva esvai-se logo…
E cinzas, cinzas só, em vez do fogo…
– Onde existo que não existo em mim?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Um cemitério falso sem ossadas,
Noites d’amor sem bocas esmagadas –
Tudo outro espasmo que princípio ou fim…
Voz interior, de Antero de Quental
A João de Deus
Embebido num sonho doloroso,
Que atravessam fantásticos clarões,
Tropeçando num povo de visões,
Se agita meu pensar tumultuoso…Com um bramir de mar tempestuoso
Que até aos céus arroja os seus cachões,
Através duma luz de exalações,
Rodeia-me o Universo monstruoso…Um ai sem termo, um trágico gemido
Ecoa sem cessar ao meu ouvido,
Com horrível, monótono vaivém…Só no meu coração, que sondo e meço,
Não sei que voz, que eu mesmo desconheço,
Em segredo protesta e afirma o Bem!
Inania verba, de Olavo Bilac
Ah! quem há de exprimir, alma impotente e escrava,
O que a boca não diz, o que a mão não escreve?
– Ardes, sangras, pregada a’ tua cruz, e, em breve,
Olhas, desfeito em lodo, o que te deslumbrava…O Pensamento ferve, e é um turbilhão de lava:
A Forma, fria e espessa, é um sepulcro de neve…
E a Palavra pesada abafa a Ideia leve,
Que, perfume e dano, refulgia e voava.Quem o molde achará para a expressão de tudo?
Ai! quem há de dizer as ânsias infinitas
Do sonho? e o céu que foge à mão que se levanta?E a ira muda? e o asco mudo? e o desespero mudo?
E as palavras de fé que nunca foram ditas?
E as confissões de amor que morrem na garganta?!
Conclusão
Ficamos por aqui!
Esperamos que tenha gostado de nossa seleção de poemas sobre pensamento.
Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de ver a nossa coletânea de poemas sobre o silêncio.
Um abraço e até a próxima!