Confira a nossa seleção de poemas sobre o silêncio em português!
Os artistas têm sabido como poucos valorizar o silêncio, que para muitos deles é requisito imprescindível para a criação.
Na contramão de nossa sociedade moderna, em que parece haver um verdadeiro culto ao barulho e à agitação, o silêncio — exterior e interior — permite que reflitamos na vida e criemos uma nova realidade a partir de nossa introspecção.
Se nem todos o valorizam, sábios de todas as épocas parecem tê-lo como fundamental para uma vida equilibrada; e sempre tiveram eles o cuidado de reservar no mínimo algumas horas diárias para guardarem-se das agitações do mundo e entregarem-se ao silêncio meditativo.
Dito isso, preparamos uma seleção com 8 poemas sobre o silêncio para que você possa apreciar algumas abordagens para esta temática.
Boa leitura!
Poemas sobre o silêncio
Silêncio, de David Mourão-Ferreira
Já o silêncio não é de oiro: é de cristal;
redoma de cristal este silêncio imposto.
Que lívido museu! Velado, sepulcral.
Ai de quem se atrever a mostrar bem o rosto!Um hálito de medo embaciando o vidrado
dá-nos um estranho ar de fantasmas ou fetos.
Na silente armadura, e sobre si fechado,
ninguém sonha sequer sonhar sonhos completos.Tão mal consegue o luar insinuar-se em nós
que a própria voz do mar segue o risco de um disco…
Não cessa de tocar; não cessa a sua voz.
Mas já ninguém pretende exp’rimentar-lhe o risco!
As horas pela alameda, de Fernando Pessoa
As horas pela alameda
Arrastam vestes de seda,Vestes de seda sonhada
Pela alameda alongadaSob o azular do luar…
E ouve-se no ar a expirar –A expirar mas nunca expira –
Uma flauta que delira,Que é mais a ideia de ouvi-la
Que ouvi-la quase tranquilaPelo ar a ondear e a ir…
Silêncio a tremeluzir…
Quanto é melhor calar, que ser ouvido, de Francisco Bingre
Silêncio divinal, eu te respeito!
Tu, meu Númen serás, serás meu guia
Se até ‘qui, insensato, errei a via
De Harpócrates, quebrando o são preceito,Hoje à vista do mal que tenho feito,
Em ser palreira pega em demasia,
Abraçarei a sã Filosofia
Pitagórica escola de proveito.Tenho visto que males tem nascido
Pelo muito falar: tenho sondado
Quanto é melhor calar, que ser ouvido.Minha língua vai ter férreo cadeado.
Eu a quero enfrear, arrependido
De tanto sem proveito ter falado.
O silêncio, de Augénio de Andrade
Quando a ternura
parece já do seu ofício fatigada,e o sono, a mais incerta barca,
inda demora,quando azuis irrompem
os teus olhose procuram
nos meus navegação segura,é que eu te falo das palavras
desamparadas e desertas,pelo silêncio fascinadas.
Elogio da Morte, de Antero de Quental
VI
Só quem teme o Não-ser é que se assusta
Com teu vasto silêncio mortuário,
Noite sem fim, espaço solitário,
Noite da Morte, tenebrosa e augusta…Eu não: minh’alma humilde mas robusta
Entra crente em teu átrio funerário:
Para os mais és um vácuo cinerário,
A mim sorri-me a tua face adusta.A mim seduz-me a paz santa e inefável
E o silêncio sem par do Inalterável,
Que envolve o eterno amor no eterno luto.Talvez seja pecado procurar-te,
Mas não sonhar contigo e adorar-te,
Não-ser, que és o Ser único absoluto.
O silêncio, de Saúl Dias
Peço apenas o teu silêncio,
como uma criança pede uma flor
ou um velho pedinte um bocado de pão.
Um silêncio
onde a tua alma se embrulha, friorenta,
trêmula, à aproximação das invernias.
Um silêncio com ressonâncias de antigas primaveras,
de outonos descoloridos
e da chuva a cair no negrume da noite.– Vá, motorista de táxi,
transporta-me
através das ruas da cidade inextricável,
vertiginosamente,
buzinando, buzinando,
abafando o ruído de um outro silêncio!
Via Láctea, de Olavo Bilac
XXIX
Por tanto tempo, desvairado e aflito,
Fitei naquela noite o firmamento,
Que inda hoje mesmo, quando acaso o fito,
Tudo aquilo me vem ao pensamento.Saí, no peito o derradeiro grito
Calcando a custo, sem chorar, violento…
E o céu fulgia plácido e infinito,
E havia um choro no rumor do vento…Piedoso céu, que a minha dor sentiste!
A áurea esfera da lua o ocaso entrava,
Rompendo as leves nuvens transparentes;E sobre mim, silenciosa e triste,
A Via Láctea se desenrolava
Como um jorro de lágrimas ardentes.
No claustro, de Augusto dos Anjos
Pelas do claustro salas silenciosas,
De lutulentas, úmidas arcadas,
Na vastidão silente das caladas
Abóbadas sombrias tenebrosas,Vagueiam tristemente desfiladas
De freiras e de monjas tristurosas,
Que guardam cinzas de ilusões passadas,
Que guardam pét’las de funéreas rosas.E à noute quando rezam na clausura,
No sigilo das rezas misteriosas,
Nem a sombra mais leve de ventura!Sempre as arcadas ogivais, desnudas,
E as mesmas monjas sempre tristurosas,
E as mesmas portas impassíveis, mudas!
Conclusão
Ficamos por aqui!
Esperamos que tenha gostado de nossa seleção de poemas sobre o silêncio.
Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de ver a nossa coletânea de exemplos de poesia popular brasileira.
Um abraço e até a próxima!