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7 poemas de Almeida Garrett, artista romântico português

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Confira a nossa seleção de poemas de Almeida Garrett, uma das figuras mais importantes do romantismo português!

Almeida Garrett, escritor, dramaturgo e poeta, é um dos autores que mais forte influência exerceu na língua portuguesa.

Não se limitando à arte, o poeta também dedicou-se à política, onde teve intensa atuação na luta contra o absolutismo atuando como deputado, orador, ministro e secretário de estado.

Artisticamente falando, Almeida Garrett é tido como o introdutor do romantismo em Portugal, assim como da prosa e lirismo modernos.

Um artista completo, resumi-lo-íamos bem, cuja obra estende-se por poemas, romances, contos, ensaios, biografias, peças de teatros e mais.

Dito isso, preparamos uma seleção de 7 poemas de Almeida Garrett para que você possa entrar em contato com a obra deste grande autor.

Aproveite!

Poemas de Almeida Garrett

Gozo e dor

Se estou contente, querida,
Com esta imensa ternura
De que me enche o teu amor?
Não. Ai não; falta-me a vida;
Sucumbe-me a alma à ventura:
O excesso de gozo é dor.

Dói-me alma, sim; e a tristeza
Vaga, inerte e sem motivo,
No coração me poisou.
Absorto em tua beleza,
Não sei se morro ou se vivo,
Porque a vida me parou.

É que não há ser bastante
Para este gozar sem fim
Que me inunda o coração.
Tremo dele, e delirante
Sinto que se exaure em mim
Ou a vida ou a razão.

Ignoto Deo

D.D.D

Creio em ti, Deus: a fé viva
De minha alma a ti se eleva
És: – o que és não sei. Deriva
Meu ser do teu: luz… e treva,
Em que – indistintas! – se envolve
Este espírito agitado,
De ti vem, a ti devolve.
O nada, a que foi roubado
Pelo sopro criador
Tudo o mais, o há-de tragar.
Só vive de eterno ardor
O que está sempre a aspirar
Ao infinito donde veio
Beleza és tu, luz és tu.
Verdade és tu só. Não creio
Senão em ti; o olho nu
Do homem não vê na terra
Mais que a dúvida, a incerteza,
A forma que engana e erra.
Essência! a real beleza,
O puro amor – o prazer
Que não fatiga e não gasta…
Só por ti os pode ver
O que inspirando se afasta,
Ignoto Deo, das ronceiras,
Vulgares turbas: despidos
Das coisas vãs e grosseiras
Sua alma, razão, sentidos,
A ti se dão, em ti vida,
E por ti vida têm. Eu consagrado
A teu altar, me prostro e a combatida
Existência aqui ponho, aqui votado
Fica este livro – confissão sincera
Da alma que a ti voou e em ti só spera.

Voz e aroma

A brisa vaga no prado,
Perfume nem voz não tem;
Quem canta é o ramo agitado,
O aroma é da flor que vem.

A mim, tornem-me essas flores
Que uma a uma vi murchar,
Restituam-me os verdores
Aos ramos que eu vi secar…

E em torrentes de harmonia
Minha alma se exalará,
Esta alma que muda e fria
Nem sabe se existe já.

Este inferno de amar

Este inferno de amar – como eu amo! –
Quem mo pôs aqui n’alma… quem foi?
Esta chama que alenta e consome,
Que é vida – e que a vida destrói –
Como é que se veio a atear,
Quando, ai, quando se há-de ela apagar?

Eu não sei, não me lembra: o passado,
A outra vida que dantes vivi
Era um sonho talvez… – foi um sonho –
Em paz tão serena a dormi!
Oh! que doce era aquele sonhar…
Quem me veio, ai de mim, despertar?

Só me lembra que um dia formoso
Eu passei… dava o sol tanta luz!
E os meus olhos, que vagos giravam,
Em seus olhos ardentes os pus.
Que fez ela? eu que fiz? – Não o sei;
Mas nessa hora a viver comecei…

Seus olhos

Seus olhos – se eu sei pintar
O que os meus olhos cegou
Não tinham luz de brilhar.
Era chama de queimar;
E o fogo que a ateou
Vivaz, eterno, divino,
Como facho do Destino.

Divino, eterno! – e suave
Ao mesmo tempo: mas grave
E de tão fatal poder,
Que, num só momento que a vi,
Queimar toda alma senti…
Nem ficou mais de meu ser,
Senão a cinza em que ardi.

Destino

Quem disse à estrela o caminho
Que ela há-de seguir no céu?
A fabricar o seu ninho
Como é que a ave aprendeu?
Quem diz à planta: “Floresce!”
E ao mudo verme que tece
Sua mortalha de seda
Os fios quem lhos enreda?

Ensinou alguém à abelha
Que no prado anda a zumbir
Se à flor branca ou à vermelha
O seu mel há-de ir pedir?

Que eras tu meu ser, querida,
Teus olhos a minha vida,
Teu amor todo o meu bem…
Ai! não mo disse ninguém.
Como a abelha corre ao prado,
Como no céu gira a estrela,
Como a todo o ente o seu fado
Por instinto se revela,
Eu no teu seio divino
Vim cumprir o meu destino…
Vim, que em ti só sei viver,
Só por ti posso morrer.

Não te amo

Não te amo, quero-te: o amor vem d’alma.
E eu n’alma – tenho a calma,
A calma – do jazigo.
Ai! não te amo, não.

Não te amo, quero-te: o amor é vida.
E a vida – nem sentida
A trago eu já comigo.
Ai! não te amo, não!

Ai! não te amo, não; e só te quero
De um querer bruto e fero
Que o sangue me devora,
Não chega ao coração.

Não te amo. És bela; e eu não te amo, ó bela.
Quem ama a aziaga estrela
Que lhe luz na má hora
Da sua perdição?

E quero-te, e não te amo, que é forçado,
De mau, feitiço azado
Este indigno furor.
Mas oh! não te amo, não.

E infame sou, porque te quero; e tanto
Que de mim tenho espanto,
De ti medo e terror…
Mas amar!… não te amo, não.

Conclusão

Ficamos por aqui!

Esperamos que você tenha gostado de nossa seleção de poemas de Almeida Garrett.

Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de ver a nossa coletânea de Manuel Bandeira.

Um abraço e até a próxima!

Como citar este conteúdo COMO FAZER UM POEMA. 7 poemas de Almeida Garrett, artista romântico português. [S.I.] 2021. Disponível em: https://comofazerumpoema.com/poemas-de-almeida-garrett-romantico-portugues/. Acesso em: 25 out. 2024.