Confira a nossa seleção de poemas de António Botto, poeta português conhecido por Canções.
António Botto foi um polêmico poeta, contista e dramaturgo português, que ficou conhecido pela obra Canções, e que teve uma biografia repleta de eventos marcantes.
Sua poesia escandalizou pelo teor sugestivo e explícito na abordagem da homossexualidade, o que lhe causou grandes problemas.
Em Portugal, acabou demitido e condenado ao ostracismo. Radicou-se no Brasil, aos 50 anos, e enfrentou tempos ainda mais difíceis. Morreu atropelado.
António Botto foi amigo de Fernando Pessoa, e são estas as palavras deste sobre a poesia daquele:
A elegância espontânea do seu pensamento, a dolência latente de sua emoção asseguram-lhe facilmente, conjugando-se, a mestria nesta espécie de lirismo […]
Distingue-se pela simplicidade perversa e pela preocupação estética destituída de preocupações. Foge da complicação com o mesmo ardor com que se esconde da intenção directa. É em verdade singular que se seja simples para dizer exactamente outra coisa, e se vá buscar as palavras mais naturais para por meio delas ter entendimentos secretos.
Certo é que o que António Botto escreve, em verso ou em prosa, há que ser lido sempre com a intenção posta em o que não está lá escrito
Dito isso, preparamos uma seleção com 6 poemas de António Botto, para que você possa conhecer um pouco mais da obra deste poeta português.
Boa leitura!
Poemas de António Botto
Quanto, quanto me queres?
Quanto, quanto me queres? – perguntaste
Olhando para mim mas distraída;
E quando nos meus olhos te encontraste,
Eu vi nos teus a luz da minha vida.Nas tuas mãos, as minhas, apertaste.
Olhando para mim como vencida,
«…quanto, quanto…» – de novo murmuraste
E a tua boca deu-se-me rendida!Os nossos beijos longos e ansiosos,
Trocavam-se frementes! – Ah! ninguém
Sabe beijar melhor que os amorosos!Quanto te quero?! – Eu posso lá dizer!…
– Um grande amor só se avalia bem
Depois de se perder.
Tenho a certeza de que entre nós tudo acabou
Tenho a certeza
De que entre nós tudo acabou.
Deixá-lo!
Bendita seja a tristeza!
– Não há bem que sempre dure
E o meu bem pouco durou.Não levantes os teus braços,
Para de novo cingir
A minha carne de seda;
– Vou deixar-te… vou partir.E se um dia te lembrares,
Dos meus olhos cor de bronze
E do meu corpo franzino,
Acalma
A tua sensualidade,
Bebendo vinho e cantando
Os versos que te mandei
Naquela tarde cinzenta…Adeus!
Quem fica sofre bem sei;
Mas sofre mais quem se ausenta!…
A noite suavemente descia
A noite
Suavemente descia;
E eu nos teus braços deitado
Até sonhei que morria.E via
Goivos e cravos aos molhos;
Um Cristo crucificado;
Nos teus olhos,
Suavidade e frieza;
Damasco roxo, cinzento,
Rendas, veludos puídos,
Perfumes caros entornados,
Rumor de vento em surdina,
Incenso, rezas, brocados;
Penumbra, sinos dobrando;
Velas ardendo;
Guitarras, soluços, pragas,
E eu… devagar morrendo.O teu rosto moreninho,
Eu achei-o mais formoso,
Mas, sem lagrimas, enxuto;
E o teu corpo delgado,
O teu corpo gracioso,
Estava todo coberto de luto.Depois, ansiosamente,
Procurei a tua boca,
A tua boca sadia;
Beijamo-nos doidamente…
– Era dia!E os nossos corpos unidos,
Como corpos sem sentidos,
No chão rolaram… e assim ficaram!…
De saudades vou morrendo
De Saudades vou morrendo
E na morte vou pensando:
Meu amor, por que partiste,
Sem me dizer até quando?
Na minha boca tão linda,
Ó alegrias cantai!
Mas, quem se lembra dum louco?
– Enchei-vos d’água, meus olhos,
Enchei-vos d’água, chorai!
Quem não ama não vive
Já na minha alma se apagam
As alegrias que eu tive;
Só quem ama tem tristezas,
Mas quem não ama não vive.Andam pétalas e folhas
Bailando no ar sombrio;
E as lágrimas, dos meus olhos,
Vão correndo ao desafio.Em tudo vejo Saudades!
A terra parece morta.
– Ó vento que tudo levas,
Não venhas à minha porta!E as minhas rosas vermelhas,
As rosas, no meu jardim,
Parecem, assim caídas,
Restos de um grande festim!Meu coração desgraçado,
Bebe ainda mais licor!
– Que importa morrer amando,
Que importa morrer d’amor!E vem ouvir bem-amado
Senhor que eu nunca mais vi:
– Morro mas levo comigo
Alguma cousa de ti.
Passei o dia ouvindo o que o mar dizia
Eu ontem passei o dia
Ouvindo o que o mar dizia.Choramos, rimos, cantamos.
Falou-me do seu destino,
Do seu fado…Depois, para se alegrar,
Ergueu-se, e bailando, e rindo,
Pôs-se a cantar
Um canto molhado e lindo.O seu hálito perfuma,
E o seu perfume faz mal!Deserto de águas sem fim.
Ó sepultura da minha raça
Quando me guardas a mim?…Ele afastou-se calado;
Eu afastei-me mais triste,
Mais doente, mais cansado…Ao longe o Sol na agonia
De roxo as águas tingia.«Voz do mar, misteriosa;
Voz do amor e da verdade!
– Ó voz moribunda e doce
Da minha grande Saudade!
Voz amarga de quem fica,
Trêmula voz de quem parte…»
. . . . . . . . . . . . . . . .E os poetas a cantar
São ecos da voz do mar!
Conclusão
Ficamos por aqui!
Esperamos que você tenha gostado de nossa seleção de poemas de António Botto.
Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de ver o nosso artigo sobre rimas ricas.
Um abraço e até a próxima!