Avançar para o conteúdo

6 poemas antigos que permanecem atualíssimos em nossos dias

curso fundamentos da criação poética curso como escrever um livro de poesia

Confira a nossa seleção de poemas antigos em português!

Toda época, bem sabemos, tem suas características e peculiaridades, e é justamente por isso que, voltando-nos ao passado, conseguimos observar tendências e temáticas comuns a muitos autores coevos.

É identificando-as que conseguimos compreender, em suma, as chamadas “escolas literárias”.

Ocorre, contudo, haver, na experiência humana, temáticas atemporais, e é por isso que conseguimos ler e compreender Homero, Dante, Camões e muitos outros autores temporalmente distantes de nós: porque somos, como eles, humanos, e é desta humanidade compartilhada que surge a possibilidade de compreensão.

Sendo assim, é de se concluir que muitos poemas antigos podem, sem dificuldade, ser lidos e apreciados por nós, séculos após sua composição.

Pensando nisto, preparamos uma seleção com 6 poemas antigos que venceram a barreira do tempo e permanecem atualíssimos em nossos dias.

Boa leitura!

Poemas antigos atualíssimos

Busque Amor novas artes, novo engenho, de Camões

Busque Amor novas artes, novo engenho,
Para matar-me, e novas esquivanças;
Que não pode tirar-me as esperanças,
Que mal me tirará o que eu não tenho.

Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes nem mudanças,
Andando em bravo mar, perdido o lenho.

Mas, conquanto não pode haver desgosto
Onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê.

Que dias há que n’alma me tem posto
Um não sei quê, que nasce não sei onde,
Vem não sei como, e dói não sei por quê.

Efeitos contrários do amor, de Gregório de Matos

Ó que cansado trago o sofrimento,
Ó que injusta pensão da humana vida,
Que dando-me o tormento sem medida,
Me encurta o desafogo de um contento!

Nasceu para oficina do tormento
Minha alma, a seus desgostos tão unida,
Que por manter-se em posse de afligida
Me concede os pesares de alimento.

Em mim não são as lágrimas bastantes
Contra incêndios, que ardentes me maltratam,
Nem estes contra aqueles são possantes:

Contrários contra mim em paz se tratam,
E estão em ódio meu tão conspirantes,
Que só por me matarem não se matam.

Deus, Infinito ser, de Francisco Bingre

Deus, Infinito ser, nunca criado,
Sem princípio, nem fim, na Majestade
Que no trono da Eterna Divindade
Tens o Mundo num dedo dependurado:

Tu estavas em Ti, não foste nado,
O teu Ser era a tua Imensidade,
Tu tiveste por berço a Eternidade,
Tu, sem tempo, em Ti mesmo eras gerado!

Tu és um fogo que arde sem matéria,
Tu és perpétua luz, que não desmaia
Fulgindo, sem cessar, na sala etérea!

Tu és um mar de amor, que não tem praia,
Trovão assustador da esfera aérea,
Rei dum Reino Imortal, que não tem raia!…

Para cantar de Amor tenros cuidados, de Cláudio Manuel da Costa

Para cantar de Amor tenros cuidados,
Tomo entre vós, ó montes, o instrumento,
Ouvi pois o meu fúnebre lamento;
Se é que de compaixão sois animados:

Já vós vistes que aos ecos magoados
Do Trácio Orfeu parava o mesmo vento;
Da lira de Anfião ao doce acento
Se viram os rochedos abalados.

Bem sei, que de outros Gênios o destino,
Para cingir de Apolo a verde rama,
Lhes influiu na lira estro divino;

O canto, pois, que a minha voz derrama,
Porque ao menos o entoa um Peregrino,
Se faz digno entre vós também de fama.

A negra fúria Ciúme, de Bocage

Morre a luz, abafa os ares
Horrendo, espesso negrume,
Apenas surge do Averno
A negra fúria Ciúme.

Sobre um sólio cor da noite
Jaz dos Infernos o Nume,
E a seus pés tragando brasas
A negra fúria Ciúme.

Crespas víboras penteia,
Dos olhos dardeja lume,
Respira veneno e peste
A negra fúria Ciúme.

Arrancando à Morte a fouce
De buído, ervado gume,
Vem retalhar corações
A negra fúria Ciúme.

Ao cruel sócio de Amor
Escapar ninguém presume,
Porque a tudo as garras lança
A negra fúria Ciúme.

Todos os males do Inferno
Em si guarda, em si resume
O mais horrível dos monstros,
A negra fúria Ciúme.

Amor inda é mais suave,
Que das rosas o perfume,
Mas envenena-lhe as graças
A negra fúria Ciúme.

Nas asas de Amor voamos
Do prazer ao áureo cume,
Porém de lá nos arroja
A negra fúria Ciúme.

Do férreo cálix da Morte
Prova o funesto azedume
Aquele a quem ferve n’alma
A negra fúria Ciúme.

Do escuro seio dos fados
Saltam males em cardume:
O pior é o que eu sofro,
A negra fúria Ciúme.

Dos imutáveis destinos
Se lê no idoso volume
Quantos estragos tem feito
A negra fúria Ciúme.

Amor inda brilha menos
Do que sutil vagalume,
Por entre as sombras que espalha
A negra fúria Ciúme.

Vendo-a sorrir, de Guerra Junqueiro

(A minha filha)

Filha, quando sorris, iluminas a casa
Dum celeste esplendor.
A alegria é na infância o que na ave é asa
E perfume na flor.

Ó doirada alegria, ó virgindade santa
Do sorriso infantil!
Quando o teu lábio ri, filha, a minha alma canta
Todo o poema de Abril.

Ao ver esse sorriso, ó filha, se concentro
Em ti o meu olhar,
Engolfa-se-me o céu azul pela alma dentro
Com pombas a voar.

Sou o Sol que agoniza, e tu, meu anjo loiro,
És o Sol que se eleva.
Inunda-me de luz, sorri, polvilha de oiro
O meu manto de treva!

Conclusão

Ficamos por aqui!

Esperamos que tenha gostado de nossa seleção de poemas antigos.

Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de ver a nossa coletânea de poemas sobre professores.

Um abraço e até a próxima!

Como citar este conteúdo COMO FAZER UM POEMA. 6 poemas antigos que permanecem atualíssimos em nossos dias. [S.I.] 2023. Disponível em: https://comofazerumpoema.com/poemas-antigos-e-atuais-poesia-portugues/. Acesso em: 14 mai. 2024.