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8 poemas de Adelino Fontoura, jornalista e poeta maranhense

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Confira a nossa seleção de poemas de Adelino Fontoura, patrono da cadeira número 1 da Academia Brasileira de Letras!

Adelino Fontoura, maranhense, ator, jornalista e poeta, foi o escolhido por Luís Murat como patrono da cadeira número 1 de nossa Academia Brasileira de Letras.

Esse poeta, ainda hoje, é pouco conhecido entre os brasileiros, e um dos principais motivos é que, em vida, Adelino Fontoura não publicou um volume organizado que reunisse suas composições — especialmente, devido à sua morte precoce aos 25 anos, em Lisboa.

Uma obra dispersa, é verdade, mas com poemas dignos de nossa apreciação.

Pensando nisso, reunimos uma seleção de 8 poemas de Adelino Fontoura, para que você possa conhecer e avaliar a qualidade deste poeta.

Boa leitura!

Poemas de Adelino Fontoura

Despedida

Pois que é chegada finalmente a hora
Do triste afastamento e da provança,
Venho dizer-te adeus, gentil criança,
Venho dizer-te adeus, pois vou-me embora.

Morreu em mim a última esperança,
Bem como um sonho bom que se evapora;
Não sei que dor maior que resta agora
Sofrer, nem que maior desesperança.

Não sei, ó sorte mísera e nefasta,
Que assim me arrancas do seu lar querido,
Que assim me roubas sua imagem casta.

Bem vês que eu tenho o coração partido,
E teu peito, inda assim, não desengasta
Um soluço, uma lágrima, um gemido.

Celeste

É tão divina a angélica aparência
E a graça que ilumina o rosto dela,
Que eu concebera o tipo de inocência
Nessa criança imaculada e bela.

Peregrina do céu, pálida estrela,
Exilada na etérea transparência,
Sua origem não pode ser aquela
Da nossa triste e mísera existência.

Tem a celeste e ingênua formosura
E a luminosa auréola sacrossanta
De uma visão do céu, cândida e pura.

E quando os olhos para o céu levanta,
Inundados de mística doçura,
Nem parece mulher – parece santa.

Atração e repulsão

Eu nada mais sonhava nem queria
Que de ti não viesse, ou não falasse;
E como a ti te amei, que alguém te amasse,
Coisa incrível até me parecia.

Uma estrela mais lúcida eu não via
Que nesta vida os passos me guiasse,
E tinha fé, cuidando que encontrasse,
Após tanta amargura, uma alegria.

Mas tão cedo extinguiste este risonho,
Este encantado e deleitoso engano,
Que o bem que achar supus, já não suponho.

Vejo, enfim, que és um peito desumano;
Se fui ter junto a ti de sonho em sonho,
Voltei de desengano em desengano

Antes de partir

Venho ensopar de lágrimas o lenço
No tristíssimo adeus de despedida;
Em breve a Pátria vou deixar perdida
Além – na curva do horizonte imenso!

Em breve sobre o mar profundo e extenso
Adejará minh’alma dolorida,
Como a gaivota errante, foragida,
Sem ter um ninho onde pousar, suspenso!

Então, senhora, hei de pensar, tristonho,
Revendo a vossa angélica bondade,
Neste ninho de amor calmo e risonho;

E triste, sobre a triste imensidade,
Como quem despertou de um ledo sonho,
Hei de chorar o pranto da saudade.

Vácuo

Não sei se pode haver padecimento
Mais profundo, mais íntimo e que tanto
Nos ponha na alma a dor que gera o pranto,
Do que um longo e tristonho isolamento.

Não ter um bem sequer no pensamento,
Nem o calor de um lar, nem o encanto
De um amor de mulher suave e santo,
É viver sem nenhum contentamento.

Bem sei que é bom sofrer, e me parece
Que esta vida sem dor nada seria,
E que é por isso até que se padece.

Mas esta solidão contínua e fria
Chega a ser tão cruel, que a não merece
Um coração que a dor mereceria.

Súplica

Por mais que aspire ou queira, anele ou tente
Esquecer-me de ti – jamais me esqueço,
Ó bem amado ser por quem padeço,
Por quem tanto soluço inutilmente!

Bem que eu te peça, foges de repente,
E só me fica a dor que te não peço;
E eis tudo, ó céus! eis tudo o que eu mereço,
Em paga deste amor tão puro e crente.

Se te não move, pois, um desafeto
E se te apraz ao menos consolar
A desventura amarga deste afeto,

Ilumina com teu divino olhar
Esta alma que os teus pés, anjo dileto,
Vem, banhada de lágrimas, beijar.

Borghi Mamo

Ao doce timbre harmonioso e brando
Da tua voz, ó alma enamorada,
Sinto minha alma em sonhos embalada
E como que eu também fico sonhando!

Como agitava o vento, perpassando,
A harpa eólia no salgueiro alada,
Tal me agita essa voz apaixonada
Quando, ó ave de amor, surges cantando.

Ouvir-te é como ver nascer a aurora:
Tudo inunda de luz, tudo ilumina
A tua voz angélica e sonora.

Solta, pois, a volata peregrina!
Ama, geme, soluça, canta e chora,
Celeste Aída, Malibran divina!

Ohs! e ais!

Essa mulher que tantos ohs! provoca,
Essa mulher que tantos ais! arranca,
Essa mulher quem é? Por que abre a boca
O Silvestre quando a vê? – É branca?

É morena? É francesa? É carioca?
As belezas helênicas desbanca?
O seu olhar os cérebros desloca?
O seu sorriso as lágrimas estanca?

Vamos, Raimundo, tu que viste há dias
A mágica visão, o ser terrestre,
Por quem já deste uns ais! e uns ohs! eu sinto,

Tira as garras da dúvida ao Matias,
Faze valsar o Lins, rir o Silvestre
E reler os Subsídios o Filinto.

Conclusão

Ficamos por aqui!

Esperamos que você tenha gostado de nossa seleção de poemas de Adelino Fonoutra.

Se você curtiu este conteúdo, não deixe de ver a nossa coletânea de Castro Alves.

Um abraço e até a próxima!

Como citar este conteúdo COMO FAZER UM POEMA. 8 poemas de Adelino Fontoura, jornalista e poeta maranhense. [S.I.] 2021. Disponível em: https://comofazerumpoema.com/poemas-de-adelino-fontoura-poesia-maranhense/. Acesso em: 2 out. 2024.