Confira a nossa seleção de poemas de António Feliciano de Castilho, um dos nomes mais importantes da poesia em língua portuguesa!
António Feliciano de Castilho, escritor e poeta português, é uma das maiores autoridades quando o assunto é poesia em língua portuguesa.
Seu prestígio deve-se, sobretudo, por sua versão portuguesa do Fausto, de Goethe, e seu célebre Tratado de metrificação, que foi a primeira obra do estilo em português e é, até hoje, o modelo mais amplamente aceito por poetas de língua portuguesa.
Como escritor, Castilho é muito lembrado, também, por envolver-se na polêmica vulgarmente chamada de Questão Coimbrã.
De tudo isso tiramos a imagem de um intelectual polivalente e o mérito do mestre é ainda maior quando tomamos conhecimento de que, em criança, Castilho enfrentou severos problemas de saúde, perdendo quase completamente a visão devido a um ataque de sarampo.
É isso mesmo: Castilho, desde criança, tornou-se incapaz de ler e escrever, e teve de estudar escutando a leitura de textos, assim como ditar sua obra literária.
Sendo assim, preparamos uma lista com 2 poemas de António Feliciano de Castilho, para que você conheça um pouco mais da obra deste grande intelectual.
Boa leitura!
Poemas de António Feliciano de Castilho
Os Treze Anos
(Cantilena)
Já tenho treze anos,
que os fiz por Janeiro:
Madrinha, casai-me
com Pedro Gaiteiro.Já sou mulherzinha,
já trago sombreiro,
já bailo ao domingo
com as mais no terreiro.Já não sou Anita,
como era primeiro;
sou a Senhora Ana,
que mora no outeiro.Nos serões já canto,
nas feiras já feiro,
já não me dá beijos
qualquer passageiro.Quando levo as patas,
e as deito ao ribeiro,
olho tudo à roda,
de cima do outeiro.E só se não vejo
ninguém pelo arneiro,
me banho co’as patas
Ao pé do salgueiro.Miro-me nas águas,
rostinho trigueiro,
que mata de amores
a muito vaqueiro.Miro-me, olhos pretos
e um riso fagueiro,
que diz a cantiga
que são cativeiro.Em tudo, madrinha,
já por derradeiro
me vejo mui outra
da que era primeiro.O meu gibão largo,
de arminho e cordeiro,
já o dei à neta
do Brás cabaneiro,dizendo-lhe: «Toma
gibão, domingueiro,
de ilhoses de prata,
de arminho e cordeiro.A mim já me aperta,
e a ti te é laceiro;
tu brincas co’as outras
e eu danço em terreiro».Já sou mulherzinha,
já trago sombreiro,
já tenho treze anos,
que os fiz por Janeiro.Já não sou Anita,
sou a Ana do outeiro;
Madrinha, casai-me
com Pedro Gaiteiro.Não quero o sargento,
que é muito guerreiro,
de barbas mui feras
e olhar sobranceiro.O mineiro é velho,
não quero o mineiro:
Mais valem treze anos
que todo o dinheiro.Tão-pouco me agrado
do pobre moleiro,
que vive na azenha
como um prisioneiro.Marido pretendo
de humor galhofeiro,
que viva por festas,
que brilhe em terreiro.Que em ele assomando
co’o tamborileiro,
logo se alvorote
o lugar inteiro.Que todos acorram
por vê-lo primeiro,
e todas perguntem
se ainda é solteiro.E eu sempre com ele,
romeira e romeiro,
vivendo de bodas,
bailando ao pandeiro.Ai, vida de gostos!
Ai, céu verdadeiro!
Ai, páscoa florida,
que dura ano inteiro!Da parte, madrinha,
de Deus vos requeiro:
Casai-me hoje mesmo
com Pedro Gaiteiro.
Cântico da Noite
Sumiu-se o sol esplêndido
Nas vagas rumorosas!
Em trevas o crepúsculo
Foi desfolhando as rosas!
Pela ampla terra alargar-se
Calada solidão!
Parece o mundo um túmulo
Sob estrelado manto!
Alabastrina lâmpada,
Lá sobe a lua! Entanto
Gemidos d’aves lúgubres
Soando a espaços vão!
Hora dos melancólicos,
Saudosos devaneios!
Hora que aos gostos íntimos
Abres os castos seios!
Infunde em nossos ânimos
Inspiração da fé!
De noite, se um revérbero
De Deus nos alumia,
Destila-se de lágrimas
A prece, a profecia!
A alma elevada em êxtase
Terrena já não é!
Antes que o sono tácito
Olhos nos cerre, e os sonhos
Nos tomem no seu vórtice,
Já rindo, e já medonhos,
Hora dos céus, conserva-me
No extinto e no porvir.
Onde os que amei? sumiram-se.
Onde o que eu fui? deixou-me.
Deles, só vãs memórias;
De mim, só resta um nome:
No abismo do pretérito
Desfez-se choro e rúy
Desfez-se! e quantas lágrimas
Brotaram de alegrias! Desfez-se!
e quantos júbilos
Nasceram de agonias!
Teu curso, ó Providência,
Quem no previu jamais?
Que horas dest’hora tácita
Me irão desabrochando?
Quantos nos fêz cadáveres
Num leito o sono brando!
Vir-me-ão co’a aurora próxima
As saudações, os ais?
Se o penso, tremo, aterro-me;
Porém, se ao Pai Supremo
Remonto o meu espírito,
Exulto; já não tremo,
A alma lhe dou; reclino-me
No sono sem pavor. Chama-me?
Ascendo à pátria; Poupa-me?
Aspiro a ela.
Servir-te! ou ver-te e amarmo-nos!
Que sorte, ó Deus, tão bela!
Vem, cerra as minhas pálpebras,
Virgem do casto amor!
Conclusão
Ficamos por aqui!
Esperamos que você tenha gostado de nossa seleção de poemas de António Feliciano de Castilho.
Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de ver a nossa coletânea de Alexandre Herculano.
Um abraço e até a próxima!