Avançar para o conteúdo

6 poemas de Saúl Dias, poeta e artista plástico português

curso fundamentos da criação poética curso como escrever um livro de poesia

Confira a nossa seleção de poemas de Saúl Dias, poeta e artista plástico modernista português.

Saúl Dias foi um poeta e artista plástico português geralmente associado à segunda geração de pintores modernistas de Portugal.

Seu nome verdadeiro era Júlio Maria dos Reis Pereira, sendo Saúl Dias o pseudônimo que adotou como poeta — como pintor, assinava simplesmente Julio.

Talvez a maior marca deste artista foi a colaboração com a revista Presença, uma das mais conceituadas revistas literárias portuguesas do século XX, onde era um dos principais colaboradores.

Outro fato interessante sobre Saúl Dias — ou Julio — é que este poeta era irmão do também poeta José Régio, já citado diversas vezes neste site.

Sendo assim, preparamos uma seleção com 6 poemas de Saúl Dias para que você possa conhecer um pouco mais da obra deste poeta.

Boa leitura!

Poemas de Saúl Dias

Sofro de não te ver

Sofro
de não te ver,
de perder
os teus gestos
leves, lestos,
a tua fala
que o sorriso embala,
a tua alma
límpida, tão calma…

Sofro
de te perder,
durante dias que parecem meses,
durante meses que parecem anos…

Quem vem regar o meu jardim de enganos,
tratar das árvores de tenrinhos ramos?

Envelhecer

É bom envelhecer!

Sentir cair o tempo,
magro fio de areia,
numa ampulheta inexistente!

Passam casais jovens
abraçados!…

As árvores
balançam novos ramos!…

E o fio de areia
a cair, a cair, a cair…

Todos os dias

Todos os dias
nascem pequeninas nuvens,
róseas umas,
aniladas outras,
nacaradas espumas…

Todos os dias
nascem rosas,
também róseas
ou cor de chá, de veludo…

Todos os dias
nascem violetas,
as eleitas
dos pobres corações…

Todos os dias
nascem risos, canções…

Todos os dias
os pássaros acordam
nos seus ninhos de lãs…

Todos os dias
nascem novos dias,
nascem novas manhãs…

Música

A doce, iriada melodia,
roxa sombra na tarde escarlate,
chorosa, ouço-a; bate
e verte quentura na minha alma fria.

Quantos anos galgaram lépidos,
furtivos, maldosos, sobre a minha cabeça!
E não há tempo que, úmido, arrefeça
a toada suave de tons tépidos…

Remédio para as minhas feridas,
para os nervos pacífico brometo,
quando eu seguir no caixão preto,
entre velas e ladainhas,

meus ouvidos tapados a algodão
hão-de ouvi-la, tal como nessa tarde,
tão discreta, suave e sem alarde,
sobrepondo-se ao cantochão…

Já foste rico e forte e soberano

Já foste rico e forte e soberano,
Já deste leis a mundos e nações,
Heroico Portugal, que o grão Camões
Cantou, como o não pôde um ser humano!

Zombando do furor do mar insano,
Os teus nautas, em fracos galeões,
Descobriram longínquas regiões,
Perdidas na amplidão do vasto oceano.

Hoje vejo-te triste e abatido,
E quem sabe se choras, ou então,
Relembras com saudade o tempo ido?

Mas a queda fatal não temas, não.
Porque o teu povo, outrora tão temido,
Ainda tem ardor no coração.

A minha hora

Que horas são? O meu relógio está parado,
Há quanto tempo!…
Que pena o meu relógio estar parado
E eu não poder marcar esta hora extraordinária!
Hora em que o sonho ascende, lento, muito lento,
Hora som de violino a expirar… Hora vária,
Hora sombra alongada de convento…

Hora feita de nostalgia
Dos degredados…
Hora dos abandonados
E dos que o tédio abate sem cessar…
Hora dos que nunca tiveram alegria,
Hora dos que cismam noite e dia,
Hora dos que morrem sem amar…

Hora em que os doentes de corpo e alma,
Pedem ao Senhor para os sarar…
Hora de febre e de calma,
Hora em que morre o sol e nasce o luar…
Hora em que os pinheiros pela encosta acima,
São monges a rezar…

Hora irmã da caridade
Que dá remédio aos que o não têm…
Hora saudade…
Hora dos Pedro Sem…
Hora dos que choram por não ter vivido,
Hora dos que vivem a chorar alguém…

Hora dos que têm um sonho águia mas… ai!
Águia sem asas para voar…
Hora dos que não têm mãe nem pai
E dos que não têm um berço pra embalar…
Hora dos que passam por este mundo,
De olhos fechados, a sonhar…

Hora de sonhos… A minha hora
– ‘Stertor’s de sol, vagidos de luar –
Mas… ai! a lua lá vem agora…
– Senhora lua, minha senhora,
Mais um minuto para a minha hora,
Mais um minuto para sonhar…

Conclusão

Ficamos por aqui!

Esperamos que você tenha gostado de nossa seleção de poemas de Saúl Dias.

Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de ver a nossa coletânea de poemas de Jorge de Sena.

Um abraço e até a próxima!

Como citar este conteúdo COMO FAZER UM POEMA. 6 poemas de Saúl Dias, poeta e artista plástico português. [S.I.] 2022. Disponível em: https://comofazerumpoema.com/poemas-de-saul-dias-poeta-artista-plastico/. Acesso em: 25 out. 2024.