Confira a nossa seleção de poemas engraçados para rir com poesia de qualidade!
A seriedade do mundo, com suas infinitas preocupações e responsabilidades, obriga-nos a procurar uma válvula de escape para que possamos suportá-lo.
E, salvo engano, não se tem notícia de válvula mais efetiva do que dar umas boas risadas. Não fosse por isso, o bom humor ainda contribui de forma notável para o nosso amadurecimento.
Por essas e outras, muitos poetas dedicaram-se à produção de poemas engraçados.
O grande Bocage, por exemplo, considerado por Castilho o maior versificador da língua portuguesa, produziu inúmeros poemas burlescos irreplicáveis no ambiente cavalheiresco e familiar deste site.
Mas os poemas engraçados não se resumem à expressão de obscenidades que nos suscitam o riso pelo teor escandalizante: há também a ironia, o sarcasmo, a sátira, e muitas outras possibilidades que nos podem gerar desde o esticar de lábios à sonora gargalhada.
Dito isso, preparamos uma seleção com 8 poemas engraçados para rir com poesia de qualidade.
(E, como sabemos ter excitado a sua curiosidade, o nosso poema número 4 é um aperitivo do que você poderá ler da pena de Bocage).
Boa leitura!
Poemas engraçados para rir
Perfis chaleiras, de Augusto dos Anjos
O oxigênio eficaz do ar atmosférico,
O calor e o carbono e o amplo éter são
Valem três vezes menos que este Américo
Augusto dos Anzóis Sousa Falcão…Engraçado, magríssimo, pilhérico,
Quando recita os versos do Tristão
Fica exaltado como um doente histérico
Sofrendo ataques de alucinação.Possui claudicações de peru manco,
Assina no “Croquis” Rapaz de Branco
E lembra alto brandão de espermacete…Anda escrevendo agora mesmo um poema
E há no seu corpo igual a um corpo de ema
A configuração magra de um 7.Zé do Pátio
Não lamentes, Alcino, o teu estado, de José Anselmo Correa Henriques
Não lamentes, Alcino, o teu estado,
Corno tem sido muita gente boa;
Corníssimos fidalgos tem Lisboa,
Milhões de vezes cornos têm reinado.Siqueu foi corno, e corno de um soldado:
Marco Antônio por corno perdeu a c’roa;
Anfitrião com toda a sua proa
Na Fábula não passa por honrado;Um rei Fernando foi cabrão famoso
(Segundo a antiga letra da gazeta)
E entre mil cornos expirou vaidoso;Tudo no mundo é sujeito à greta:
Não fiques mais, Alcino, duvidoso
Que isto de ser corno é tudo peta.
Soneto dramático, de Arthur de Azevedo
“O Incesto”. Drama em três atos. Ato primeiro:
Jardim. Velho castelo iluminado ao fundo.
O cavaleiro jura um casto amor profundo,
E a castelã resiste… Um fâmulo matreiroVem dizer que o barão suspeita o cavaleiro…
Ele foge, ela grita… — Apito! — Ato segundo:
Um salão do castelo. O barão, iracundo,
Sabe de tudo… Horror! Vingança! — Ato terceiro:Em casa do galã, que, sentado, trabalha,
Entra o barão armado e diz: “Morre, tirano,
Que me roubaste a honra e me roubaste o amor!”O mancebo descobre o peito. — “Uma medalha!
Quem ta deu?!” — “Minha mãe!” — “Meu filho!” Cai o pano…
À cena o autor! à cena o autor! à cena o autor!
Lá quando em mim perder a humanidade, de Bocage
Lá quando em mim perder a humanidade
Mais um daqueles, que não fazem falta,
Verbi-gratia — o teólogo, o peralta,
Algum duque, ou marquês, ou conde, ou frade:Não quero funeral comunidade,
Que engrole sub-venites em voz alta;
Pingados gatarrões, gente de malta,
Eu também vos dispenso a caridade:Mas quando ferrugenta enxada idosa
Sepulcro me cavar em ermo outeiro,
Lavre-me este epitáfio mão piedosa:“Aqui dorme Bocage, o putanheiro:
Passou vida folgada, e milagrosa;
“Comeu, bebeu, fodeu sem ter dinheiro.”
Vagabundo, de Álvares de Azevedo
Eat, drink and love; what can the rest avail us?
(Byron)Eu durmo e vivo no sol como um cigano,
Fumando meu cigarro vaporoso;
Nas noites de verão namoro estrelas;
Sou pobre, sou mendigo, e sou ditoso!Ando roto, sem bolsos nem dinheiro;
Mas tenho na viola uma riqueza:
Canto à lua de noite serenatas,
E quem vive de amor não tem pobreza.Não invejo ninguém, nem ouço a raiva
Nas cavernas do peito, sufocante,
Quando à noite na treva em mim se entornam
Os reflexos do baile fascinante.Namoro e sou feliz nos meus amores;
Sou garboso e rapaz… Uma criada
Abrasada de amor por um soneto
Já um beijo me deu subindo a escada…Oito dias lá vão que ando cismando
Na donzela que ali defronte mora.
Ela ao ver-me sorri tão docemente!
Desconfio que a moça me namora!…Tenho por meu palácio as longas ruas;
Passeio a gosto e durmo sem temores:
Quando bebo, sou rei como um poeta,
E o vinho faz sonhar com os amores.O degrau das igrejas é meu trono,
Minha pátria é o vento que respiro,
Minha mãe é a lua macilenta,
E a preguiça a mulher por quem suspiro.Escrevo na parede as minhas rimas,
De painéis a carvão adorno a rua;
Como as aves do céu e as flores puras
Abro meu peito ao sol e durmo à lua.Sinto-me um coração de lazzaroni;
Sou filho do calor, odeio o frio;
Não creio no diabo nem nos santos…
Rezo à Nossa Senhora, e sou vadio!Ora, se por aí alguma bela
Bem doirada e amante da preguiça
Quiser a nívea mão unir à minha
Há de achar-me na Sé, domingo, à Missa.
Há coisa como ver um Paiaiá, de Gregório de Matos
Há coisa como ver um Paiaiá,
Mui prezado de ser Caramuru,
Descendente de sangue de tatu,
Cujo torpe idioma é cobepá?…A linha feminina é carimá,
Moqueca, pititinga, caruru,
Mingau de puba, e vinho de caju
Pisado num pilão de Pirajá;A masculina é um Aricobé,
Cuja filha Cobé, cum branco Paí
Dormiu no promontório de Passé;O branco é um marau, que veio aqui;
Ela era uma índia de Maré
Cobépá, Aricobé, Cobé, Paí.
Bônus: 2 poemas curtos e engraçados
Fim, de Mário de Sá-Carneiro
Quando eu morrer batam em latas,
Rompam aos saltos e aos pinotes –
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas!Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à andaluza:
A um morto nada se recusa,
E eu quero por força ir de burro…
Consta que um médico fora, de Bocage
Consta que um medico fora
Inventor da guilhotina:
Deu bem rapidez à morte!
Mostrou saber medicina.
Conclusão
Ficamos por aqui!
Esperamos que tenha gostado de nossa seleção de poemas engraçados para rir.
Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de ver a nossa coletânea de poemas de despedida.
Um abraço e até a próxima!