Avançar para o conteúdo

8 belos poemas sobre loucura para ler e apreciar

curso fundamentos da criação poética curso como escrever um livro de poesia

Confira a nossa seleção de poemas sobre loucura em português!

A loucura é frequentemente abordada na poesia como uma força capaz de levar a mente humana ao desequilíbrio.

É comum vermos, por exemplo, o amor como o motivador para que tal estado psicológico se instale.

Há, porém, situações em que a loucura é motivada pelo medo, pela angústia, pela solidão e por outros sentimentos: o que parece certo é que a loucura necessita de uma fortíssima e incomum emoção para que se imponha sobre a mente.

Dito isso, preparamos uma seleção com 8 poemas sobre loucura em português para que você possa apreciar diferentes abordagens para esta temática.

Boa leitura!

Poemas sobre loucura

Ismália, de Alphonsus de Guimaraens

Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar…
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar…
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar…

E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar…
Estava perto do céu,
Estava longe do mar…

E como um anjo pendeu
As asas para voar…
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar…

As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par…
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar…

Os loucos, de António Osório

Há vários tipos de louco.

O hitleriano, que barafusta.
O solícito, que dirige o trânsito.
O maníaco fala-só.

O idiota que se baba,
explicado pelo psiquiatra gago.
O legatário de outros,
o que nos governa.

O depressivo que salva
o mundo. Aqueles que o destroem.

E há sempre um
(o mais intratável) que não desiste
e escreve versos.

Não gosto destes loucos.
(Torturados pela escuridão, pela morte?)
Gosto desta velha senhora
que ri, manso, pela rua, de felicidade.

Esta espécie de loucura, de Fernando Pessoa

Esta espécie de loucura
Que é pouco chamar talento
E que brilha em mim, na escura
Confusão do pensamento,

Não me traz felicidade;
Porque, enfim, sempre haverá
Sol ou sombra na cidade.
Mas em mim não sei o que há.

Ser doido-alegre, que maior ventura!, de António Fernandes Aleixo

Ser doido-alegre, que maior ventura!
Morrer vivendo pra além da verdade.
É tão feliz quem goza tal loucura
Que nem na morte crê, que felicidade!

Encara, rindo, a vida que o tortura,
Sem ver na esmola, a falsa caridade,
Que bem no fundo é só vaidade pura,
Se acaso houver pureza na vaidade.

Já que não tenho, tal como preciso,
A felicidade que esse doido tem
De ver no purgatório um paraíso…

Direi, ao contemplar o seu sorriso,
Ai quem me dera ser doido também
Pra suportar melhor quem tem juízo.

Nunca em amor danou o atrevimento, de Camões

Nunca em amor danou o atrevimento;
Favorece a Fortuna a ousadia;
Porque sempre a encolhida covardia
De pedra serve ao livre pensamento.

Quem se eleva ao sublime Firmamento,
A estrela nele encontra, que lhe é guia;
Que o bem que encerra em si a fantasia
São umas ilusões que leva o vento.

Abrir se devem passos à ventura:
Sem si próprio ninguém será ditoso:
Os princípios somente a sorte os move.

Atrever-se é valor, e não loucura.
Perderá por covarde o venturoso
Que vos vê, se os temores não remove.

Soneto, de Augusto dos Anjos

A Frederico Nietzsche

Para que nesta vida o espírito esfalfaste
Em vãs meditações, homem meditabundo?!
— Escalpelaste todo o cadáver do mundo
E, por fim, nada achaste… e, por fim, nada achaste!…

A loucura destruiu tudo que arquitetaste
E a Alemanha tremeu ao teu gemido fundo!…
De que te serviu, pois, estudares, profundo,
O homem e a lesma e a rocha e a pedra e o carvalho e a haste?!

Pois, para penetrar o mistério das lousas,
Foi-te mister sondar a substância das cousas
— Construíste de ilusões um mundo diferente,

Desconheceste Deus no vidro do astrolábio
E quando a Ciência vã te proclamava sábio,
A tua construção quebrou-se de repente!

Vinho, de Cecília Meireles

A taça foi brilhante e rara,
mas o vinho de que bebi
com os meus olhos postos em ti,
era de total amargura.

Desde essa hora antiga e preclara,
insensivelmente desci,
e em meu pensamento senti
o desgosto de ser criatura.

Eu sou de essência etérea e clara:
no entanto, desde que te vi,
como que desapareci…
Rondo triste, à minha procura.

A taça foi brilhante e rara:
mas, com certeza enlouqueci.
E desse vinho que bebi
se originou minha loucura.

Olhos verdes, de Gonçalves Dias

Eles verdes são:
E tem por usança,
A cor esperança,
E nas obras não.
CAM. Rim.

São uns olhos verdes, verdes,
Uns olhos de verde-mar,
Quando o tempo vai bonança;
Uns olhos cor de esperança,
Uns olhos por que morri;
Que ai de mim!
Nem já sei qual fiquei sendo
Depois que os vi!

Como duas esmeraldas,
Iguais na forma e na cor,
Tem luz mais branda e mais forte,
Diz uma — vida, outra — morte;
Uma — loucura, outra — amor.
Mas ai de mim!
Nem já sei qual fiquei sendo
Depois que os vi!

São verdes da cor do prado,
Exprimem qualquer paixão,
Tão facilmente se inflamam,
Tão meigamente derramam
Fogo e luz do coração;
Mas ai de mim!
Nem já sei qual fiquei sendo
Depois que os vi!

São uns olhos verdes, verdes,
Que podem também brilhar;
Não são de um verde embaçado,
Mas verdes da cor do prado,
Mas verdes da cor do mar.
Mas ai de mim
Nem já sei qual fiquei sendo
Depois que os vi!

Como se lê num espelho
Pude ler nos olhos seus!
Os olhos mostram a alma,
Que as ondas postas em calma
Também refletem os céus;
Mas ai de mim!
Nem já sei qual fiquei sendo
Depois que os vi!

Dizei vós, oh meus amigos,
Se vos perguntam por mim,
Que eu vivo só da lembrança
De uns olhos cor de esperança,
De uns olhos verdes que vi!
Que ai de mim!
Nem já sei qual fiquei sendo
Depois que os vi!

Dizei vós; Triste do bardo!
Deixou-se de amor finar!
Viu uns olhos verdes, verdes,
Uns olhos da cor do mar:
Eram verdes sem esperança,
Davam amor sem amar!
Dizei-o vós, meus amigos,
Que ai de mim!
Não pertenço mais a vida
Depois que os vi!

Conclusão

Ficamos por aqui!

Esperamos que tenha gostado de nossa seleção de poemas sobre loucura.

Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de ver a nossa coletânea de poemas sobre o medo.

Um abraço e até a próxima!

Como citar este conteúdo COMO FAZER UM POEMA. 8 belos poemas sobre loucura para ler e apreciar. [S.I.] 2023. Disponível em: https://comofazerumpoema.com/poemas-sobre-loucura-portugues-poesia/. Acesso em: 26 out. 2024.