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Os 10 melhores poemas de Mário Quintana! (comentados)

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Confira a nossa seleção com os melhores poemas de Mário Quintana, um dos mais populares poetas brasileiros!

Mário Quintana é, hoje, um dos poetas mais queridos do público brasileiro.

Sua poesia vale-se de uma linguagem simples e seu tremendo sucesso parece residir especialmente no tom íntimo, confessional, com que geralmente se nos apresenta.

Aliás, é isso o que o próprio poeta nos declara:

Minha vida está nos meus poemas, meus poemas são eu mesmo, nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão.

Dito isso, preparamos uma seleção com os 10 melhores poemas de Mário Quintana para que você possa conhecer um pouco mais da obra deste poeta.

Boa leitura!

Poemas de Mário Quintana

Esperança

Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
Atira-se
E
— ó delicioso voo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,
Outra vez criança…
E em torno dela indagará o povo:
— Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá
(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:
— O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA…

Este poema é um dos poemas mais conhecidos de Mário Quintana e, sumariamente, traça uma metáfora com o sentimento que nos impregna no fim de todos os anos.

Este sentimento, a esperança, é personificada no poema, o qual parece nos alertar para o seu valor.

Esperança destaca o caráter puro e inocente deste belo sentimento e nos relembra da importância de nutri-lo em nossas vidas.

Emergência

Quem faz um poema abre uma janela.
Respira, tu que estás numa cela
abafada,
esse ar que entra por ela.
Por isso é que os poemas têm ritmo —
para que possas profundamente respirar.
Quem faz um poema salva um afogado.

Emergência é um poema interessante em que Mário Quintana aborda o caráter libertador da poesia.

Quando diz “quem faz um poema abre uma janela”, o narrador do poema associa o fazer poético com a abertura de possibilidades, libertação e renovação por parte daquele que a cultiva.

A vida sem poesia, sugere o poema, é como uma “cela abafada”, onde não podemos respirar bem.

Por fim, notamos que o título “Emergência” insinua que a poesia não nos é somente uma libertação, mas também uma necessidade premente.

Os poemas

Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.

Quando fechas o livro, eles alçam voo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem. E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti…

Os poemas compara poemas a pássaros que, misteriosamente, pousam nos livros, alçando voo logo que são estes fechados.

Esta metáfora transmite-nos a ideia de que poemas não somente têm vida, como são livres e independentes.

Há um aspecto assaz curioso no poema, representado por seus últimos versos, os quais sugerem que os poemas não só precisam de leitores como, em verdade, estão neles próprios.

Cidadezinha

Cidadezinha cheia de graça…
Tão pequenina que até causa dó!
Com seus burricos a pastar na praça…
Sua igrejinha de uma torre só…

Nuvens que venham, nuvens e asas,
Não param nunca nem um segundo…
E fica a torre, sobre as velhas casas,
Fica cismando como é vasto o mundo!…

Eu que de longe venho perdido,
Sem pouso fixo (a triste sina!)
Ah, quem me dera ter lá nascido!

Lá toda a vida poder morar!
Cidadezinha… Tão pequenina
Que toda cabe num só olhar…

Cidadezinha é um poema delicado que descreve afetivamente o carinho experimentado pelo eu lírico para com uma cidade.

Tal cidade é carinhosamente chamada de “cidadezinha” e descrita em toda a sua singeleza.

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Enquanto a descreve, o eu lírico expressa o seu sentimento, levando o poema ao ápice ao afirmar desejar não somente ter nascido, como viver para sempre na referida cidade.

A Rua dos Cataventos

XVII

Da vez primeira em que me assassinaram
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha…
Depois, de cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha…

E hoje, dos meus cadáveres, eu sou
O mais desnudo, o que não tem mais nada…
Arde um toco de vela, amarelada…
Como o único bem que me ficou!

Vinde, corvos, chacais, ladrões da estrada!
Ah! desta mão, avaramente adunca,
Ninguém há de arrancar-me a luz sagrada!

Aves da Noite! Asas do Horror! Voejai!
Que a luz, trêmula e triste como um ai,
A luz do morto não se apaga nunca!

Este poema, que é o décimo sétimo da obra A Rua dos Cataventos, é o primeiro metrificado desta lista e, quanto ao aspecto formal, destaca-se na obra de Mário Quintana.

Como se percebe, trata-se de um soneto construído em decassílabos rimados, cuja temática difere um pouco daquilo que encontramos comumente em Mário Quintana.

Aqui, não há resquício do bom humor característico do poeta; muito pelo contrário, vemos um eu lírico que desabafa sobre suas sucessivas “mortes” em vida.

Ritmo

Na porta
a varredeira varre o cisco
varre o cisco
varre o cisco

Na pia
a menininha escova os dentes
escova os dentes
escova os dentes

No arroio
a lavadeira bate roupa
bate roupa
bate roupa

Até que enfim
‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ se desenrola
‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ ‎ toda a corda
e o mundo gira imóvel como um pião!

Ritmo é um poema muito conhecido de Mário Quintana, sobre o qual já escrevemos aqui neste sítio.

O poema tem como objetivo descrever o ritmo, isto é, o movimento regular de ações que fazem parte de nosso cotidiano.

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Vários recursos expressivos são utilizados pelo poeta, como aliterações, paradoxos e mesmo a disposição visual do poema, que parece nos insinuar que há uma regularidade indissociável de nossa realidade.

Seiscentos e sessenta e seis

A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.

Quando se vê, já são 6 horas: há tempo…
Quando se vê, já é 6ª-feira…
Quando se vê, passaram 60 anos!
Agora, é tarde demais para ser reprovado…
E se me dessem – um dia – uma outra oportunidade,
eu nem olhava o relógio
seguia sempre em frente…

E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.

Seiscentos e sessenta e seis é um poema que discorre sobre a passagem do tempo e suas consequências em nossas vidas individuais.

O eu lírico descreve a vida como um amontoado de deveres aos quais nos dedicamos sem perceber que desperdiçamos outras possibilidades ao fazê-lo.

O poema é escrito por alguém que, ao perceber a passagem do tempo, arrepende-se e lamenta não poder voltar atrás.

É, enfim, uma reflexão sobre as nossas prioridades e a necessidade de escolhê-las bem.

Poeminho do contra

Todos esses que aí estão
Atravancando meu caminho,
Eles passarão…
Eu passarinho!

Este famoso e pequeno Poeminho do contra expressa, em suma, uma atitude irreverente do eu lírico perante aqueles que o atrapalham.

Os versos finais são extremamente criativos e querem dizer, primeiro, que aqueles que “atravancam” o caminho do eu lírico, hora ou outra, deixarão de fazê-lo; e, segundo, que o eu lírico não se incomoda com eles.

Ao comparar-se com um passarinho, o eu lírico remete-se à liberdade e leveza dos pássaros para seguir seus próprios caminhos.

Relógio

O mais feroz dos animais domésticos
é o relógio de parede:
conheço um que já devorou
três gerações da minha família.

Relógio é um poema com humor destacado que, entretanto, expressa uma mensagem profunda.

O eu lírico diz que o relógio de parede é “o mais feroz dos animais domésticos”.

Naturalmente, Mário Quintana, aqui, aborda em verdade um de seus temas prediletos, que é o caráter implacável do tempo.

Da discrição

Não te abras com teu amigo
Que ele um outro amigo tem
E o amigo do teu amigo
Possui amigos também…

Para fechar nossa lista, este que é um poema de temática diferente da de todos os anteriores.

Estes versos possuem um caráter fortemente irônico e moralista, e o narrador, em suma, recomenda ao leitor a discrição (anunciada no título).

As razões para isso são muito simples: “abrindo-se” com um amigo, isto é, contando-lhe um segredo, corre-se o risco de que este amigo o comente com outro, que também comente com outro e assim por diante, de forma que, finalmente, o segredo torne-se conhecimento comum.

Sobre Mário Quintana

Mário Quintana nasceu em Alegrete (RS), em 30 de julho de 1906.

Seu pai era dono de uma farmácia, e seus avós eram médicos.

Aos 13 anos, foi para Porto Alegre estudar no Colégio Militar como aluno interno, que acabou não terminando, embora fosse leitor voraz.

Deixou o colégio aos 17 anos, sem diploma, e se iniciou na vida literária, vivendo novamente em Alegrete.

Em 1926, teve um conto vencedor de um concurso patrocinado pelo Diário de Notícias, importante jornal da capital gaúcha.

Transferiu-se novamente a Porto Alegre em 1929, onde começou a trabalhar como jornalista.

Na década de 1930, estabilizou-se profissionalmente, trabalhando como jornalista e tradutor para a Editora Globo.

Seu primeiro livro, A rua dos cataventos, foi publicado em 1940, inaugurando uma época de grande atividade literária em sua vida.

Nas décadas de 60 e 70, consagrou-se nacionalmente como poeta, recebendo homenagens públicas como a saudação na Academia Brasileira de Letras por Augusto Meyer e Manuel Bandeira (1966), o título de Cidadão Honorário de Porto Alegre (1967), a placa de bronze em Alegrete (com a famosa inscrição: “Um engano em bronze é um engano eterno.”), entre outras.

Faleceu em 5 de maio de 1994, em Porto Alegre, aos 88 anos de idade.

Obras de Mário Quintana

  • A rua dos cataventos (1940)
  • Canções (1946)
  • Sapato florido (1948)
  • O aprendiz de feiticeiro (1950)
  • Espelho mágico (1951)
  • Inéditos e esparsos (1953)
  • Caderno H (1973)
  • Apontamentos de história sobrenatural (1976)
  • A vaca e o hipogrifo (1977)
  • Esconderijos do tempo (1980)
  • Baú de espantos (1986)
  • Da preguiça como método de trabalho (1987)
  • Preparativos de viagem (1987)
  • Porta giratória (1988)
  • A cor do invisível (1989)
  • Velório sem defunto (1990)
  • Água: os últimos textos de Mario Quintana (2001)

Conclusão

Ficamos por aqui!

Esperamos que você tenha gostado de nossa seleção de poemas de Mário Quintana.

Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de conferir a nossa lista de poemas de gratidão.

Um abraço e até a próxima!

Como citar este conteúdo COMO FAZER UM POEMA. Os 10 melhores poemas de Mário Quintana! (comentados). [S.I.] 2023. Disponível em: https://comofazerumpoema.com/melhores-poemas-de-mario-quintana-poesia/. Acesso em: 25 out. 2024.