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5 poemas de António Nobre, poeta autor de Só

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Confira a nossa seleção de poemas de António Nobre, poeta português conhecido por Só.

António Nobre foi um poeta português de grande influência que é frequentemente associado ao romantismo e ao Simbolismo do século XIX em Portugal.

Embora tenha falecido com apenas 32 anos, sua obra mais famosa (e única publicada em vida), intitulada , constituiu um marco importante na literatura portuguesa e ecoou forte no modernismo português, que veio depois.

A obra de António Nobre é perpassado de um misto entre tristeza e nostalgia em que o poeta, sempre delicado, explora afetuosamente os recantos de sua memória.

Sendo assim, preparamos uma seleção com 5 poemas de António Nobre para que você possa conhecer um pouco mais da obra deste poeta.

Boa leitura!

Poemas de António Nobre

Canção da felicidade

Ideal dum Parisiense

Felicidade! Felicidade!
Ai quem me dera na minha mão!
Não passar nunca da mesma idade,
Dos 25, do quarteirão.

Morar, mui simples, nalguma casa
Toda caiada, defronte o Mar;
No lume, ao menos, ter uma brasa
E uma sardinha pra nela assar…

Não ter fortuna, não ter dinheiro,
Papeis no Banco, nada a render:
Guardar, podendo, num mealheiro
Economias pro que vier.

Ir, pelas tardes, até á fonte
Ver as pequenas a encher e a rir,
E ver entre elas o Zé da Ponte
Um pouco torto, quase a cair.

Não ter quimeras, não ter cuidados
E contentar-se com o que é seu,
Não ter torturas, não ter pecados,
Que, em se morrendo, vai-se pro Céu!

Não ter talento; suficiente
Para na Vida saber andar,
E quanto a estudos saber somente
(Mas ai somente!) ler e contar.

Mulher e filhos! A Mulherzinha
Tão loira e alegre, Jesus! Jesus!
E, em nove meses, vê-la choquinha
Como uma pomba, dar outra à luz

Oh! grande vida, valha a verdade!
Oh! grande vida, mas que ilusão!
Felicidade! Felicidade!
Ai quem ma dera na minha mão!

Saudade

Saudade, saudade! palavra tão triste,
E ouvi-la faz bem: Meu caro Garrett, tu
bem na sentiste,
Melhor que ninguém!

Saudades da virgem de ao pé do Mondego,
Saudades de tudo: Ouvi-las caindo da
boca dum Cego,
Dos olhos dum Mudo!

Saudades de Aquela que, cheia de linhas,
De agulha e dedal, Eu vejo bordando
Galeões e andorinhas
No seu enxoval.

Saudades! e canta, na Torre deu a hora
Da sua novena: Olhai-a! dá
ares de Nossa Senhora,
Quando era pequena.

Saudades, saudades! E ouvide que canta
(E sempre a bordar) Que linda!
Quem canta seus males espanta
E eu vou-me a cantar…

«Virgílio é estudante, levou-o o seu fado
A terras de França! Mais leve que
espuma, não tenho pecado,
Que o diga a balança.»

«Separam-me dele cem rios, cem pontes,
Mas isso que faz? Atrás desses montes,
ainda há outros montes,
E ainda outros, atrás!»

«Não tarda que volte por montes e praias,
Formado que esteja; E iremos
juntinhos, ah tem-te-não-caias!
Casar-nos à Igreja.»

«Virgílio é um anjo, não tem um defeito,
É altinho como eu; Os lábios com
lábios, o peito com peito…
Ah, Virgem do Céu!»

«O Amor, ai que enigma! consolo no Tédio,
Estrela do Norte! O Amor é doença,
que tem por remédio
Um beijo, ou a Morte.»

«Às vezes, eu quero dizer-lhe que o amo,
Mas, vou-lho a dizer, Irene não
fala (Irene me chamo)
E fica a tremer…»

«Quando ia ao postigo falar-lhe, tão cedo,
(Tu, Lua, bem viste) Ai que olhos
aqueles ! metiam-me medo….
E sempre tão triste!»

«Perfil de Teresa, velado na capa,
Lá passa por mim: Ó noites da
Estrada, tardinhas da Lapa,
Choupal! e Jardim!»

«Cabelos caídos, a cara de cera,
Os olhos ao fundo! E a voz de Virgílio,
docinha que ela era,
Não é deste Mundo!»

«Saudades, saudades! Que valem as rezas,
Que serve pedir! No altar
continuam as velas acesas,
Mas ele sem vir!»

«Já choupos nasceram, já choupos cresceram,
Estou tão crescida! Já choupos
morreram, já outros nasceram…
Como é curta a Vida!»

«Ó rio de amores, que vens da Portela
Pro mar do Senhor, Ah vê se na
costa se avista uma vela,
Se vem o Vapor…»

«Meu santo Mondego, que voas e corres,
Não tenhas vagares! Mondego dos
Choupos, Mondego das Torres,
Mondego dos Mares!»

«Mas ai ! o Mondego (Senhora da Graça,
Sou tão infeliz!) Já foi e já volta,
lá passa que passa,
E nada me diz…»

Sonetos

1

Em horas que lá vão, molhei a pena
Na chaga aberta desse corpo amado,
Mas numa chaga a supurar gangrena,
Cheia de pus, de sangue já coalhado!

E depois, com a mão firme e serena,
Compus este Missal dum Torturado:
Talvez choreis, talvez vos faça pena…
Chorai! que imenso tenho eu já chorado.

Abri-o ! Orai com devoção sincera!
E, à leitura final duma oração,
Vereis cair no solo uma quimera:

Moços do meu País! vereis então
O que é esta Vida, o que é que vos espera…
Toda uma Sexta-Feira de Paixão!

2

Em certo Reino, à esquina do Planeta,
Onde nasceram meus Avós, meus Pais,
Há quatro lustros, viu a luz um poeta
Que melhor fora não a ver jamais.

Mal despontava para a vida inquieta,
Logo ao nascer, mataram-lhe os ideais,
À falsa fé, numa traição abjecta,
Como os bandidos nas estradas reais!

E, embora eu seja descendente, um ramo
Dessa árvore de Heróis que, entre perigos
E guerras, se esforçaram pelo Ideal:

Nada me importas, País! seja meu Amo
O Carlos ou o Zé da T’resa … Amigos,
Que desgraça nascer em Portugal !

3

Na praia lá da Boa Nova, um dia,
Edifiquei ( foi esse o grande mal)
Alto Castelo, o que é a fantasia,
Todo de lápis-lazúli e coral!

Naquelas redondezas, não havia
Quem se gabasse dum domínio igual:
Oh Castelo tão alto! parecia
O território dum Senhor feudal!

Um dia (não sei quando, nem sei donde)
Um vento seco de Deserto e spleen
Deitou por terra, ao pó que tudo esconde,

O meu condado, o meu condado, sim!
Porque eu já fui um poderoso Conde,
Naquela idade em que se é conde assim

Conclusão

Ficamos por aqui!

Esperamos que você tenha gostado de nossa seleção de poemas de António Nobre.

Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de ver a nossa coletânea de sonetos de Camões.

Um abraço e até a próxima!

Como citar este conteúdo COMO FAZER UM POEMA. 5 poemas de António Nobre, poeta autor de Só. [S.I.] 2022. Disponível em: https://comofazerumpoema.com/poemas-de-antonio-nobre-autor-de-so-poeta/. Acesso em: 26 out. 2024.