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7 sonetos de Camões que atravessaram os séculos

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Confira a nossa seleção de sonetos de Camões que atravessaram os séculos e continuam encantando!

O poeta português Luís de Camões dispensa apresentações.

Sua obra poética está no topo da língua portuguesa e é considerada uma das mais belas da literatura ocidental.

Entre suas diversas composições, um dos formatos que Camões melhor trabalhou foi o soneto, e se destacou a ponto de se tornar uma das maiores referências deste formato.

Alguns sonetos de Camões fizeram um sucesso tão grande que não é raro encontrarmos pessoas que, mesmo desconhecedoras da obra camoniana, conhecem alguns versos de seus sonetos, sabendo pronunciá-los como se fossem máximas.

Sendo assim, preparamos uma seleção com 7 sonetos de Camões que atravessaram o tempo e continuam encantando.

Boa leitura!

Sonetos de Camões

Busque Amor novas artes, novo engenho…

Busque Amor novas artes, novo engenho,
Para matar-me, e novas esquivanças;
Que não pode tirar-me as esperanças,
Que mal me tirará o que eu não tenho.

Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes nem mudanças,
Andando em bravo mar, perdido o lenho.

Mas, conquanto não pode haver desgosto
Onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê.

Que dias há que n’alma me tem posto
Um não sei quê, que nasce não sei onde,
Vem não sei como, e dói não sei por quê.

Eu cantei já, e agora vou chorando…

Eu cantei já, e agora vou chorando
O tempo que cantei tão confiado:
Parece que no canto já passado
Se estavam minhas lágrimas criando.

Cantei; mas se me alguém pergunta, quando?
Não sei; que também fui nisso enganado.
É tão triste este meu presente estado,
Que o passado por ledo estou julgando.

Fizeram-me cantar manhosamente
Contentamentos não, mas confianças:
Cantava, mas já era ao som dos ferros.

De quem me queixarei, se tudo mente?
Porém que culpas ponho às esperanças,
Onde a fortuna injusta é mais qu’os erros?

Amor é um fogo que arde sem se ver…

Amor é um fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É um não contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder.

É um estar-se preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É um ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode o seu favor
Nos mortais corações conformidade,
Sendo a si tão contrário o mesmo Amor?

Transforma-se o amador na cousa amada…

Transforma-se o amador na cousa amada,
Por virtude do muito imaginar;
Não tenho, logo, mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada.

Se nela está minha alma transformada,
Que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si somente pode descansar,
Pois consigo tal alma está ligada.

Mas esta linda e pura semideia,
Que, como um acidente em seu sujeito,
Assim como a alma minha se conforma,

Está no pensamento como ideia:
E o vivo e puro amor de que sou feito,
Como a matéria simples busca a forma.

Eu cantarei de amor tão docemente…

Eu cantarei de amor tão docemente,
Por uns termos em si tão concertados,
Que dois mil acidentes namorados
Faça sentir ao peito que não sente.

Farei que amor a todos avivente,
Pintando mil segredos delicados,
Brandas iras, suspiros magoados,
Temerosa ousadia e pena ausente.

Também, Senhora, do desprezo honesto
De vossa vista branda e rigorosa,
Contentar-me-ei dizendo a menor parte.

Porém, pera cantar de vosso gesto
A composição alta e milagrosa
Aqui falta saber, engenho e arte.

Quem diz que Amor é falso ou enganoso…

Quem diz que Amor é falso ou enganoso,
Ligeiro, ingrato, vão, desconhecido,
Sem falta lhe terá bem merecido
Que lhe seja cruel ou rigoroso.

Amor é brando, é doce e é piadoso.
Quem o contrário diz não seja crido;
Seja por cego e apaixonado tido,
E aos homens, e inda aos deuses, odioso.

Se males faz Amor, em mi se veem;
Em mi mostrando todo o seu rigor,
Ao mundo quis mostrar quanto podia.

Mas todas suas iras são de amor;
Todos estes seus males são um bem,
Que eu por todo outro bem não trocaria.

Quem vê, Senhora, claro e manifesto…

Quem vê, Senhora, claro e manifesto
O lindo ser de vossos olhos belos,
Se não perder a vista só em vê-los,
Já não paga o que deve a vosso gesto.

Este me parecia preço honesto;
Mas eu, por de vantagem merecê-los,
Dei mais a vida e alma por querê-los,
Donde já não me fica mais de resto.

Assim que a vida e alma e esperança,
E tudo quanto tenho, tudo é vosso,
E o proveito disso eu só o levo.

Porque é tamanha bem-aventurança
O dar-vos quanto tenho e quanto posso,
Que, quanto mais vos pago, mais vos devo.

Conclusão

Ficamos por aqui!

Esperamos que tenha gostado de nossa seleção de sonetos de Camões.

Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de ver a nossa coletânea de poemas de Miguel Torga.

Um abraço e até a próxima!

Como citar este conteúdo COMO FAZER UM POEMA. 7 sonetos de Camões que atravessaram os séculos. [S.I.] 2022. Disponível em: https://comofazerumpoema.com/sonetos-de-camoes-poesia-melhores/. Acesso em: 14 mai. 2024.