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Poema Amor é um fogo que arde sem se ver, de Camões (com análise)

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Conheça o poema Amor é um fogo que arde sem se ver, de Camões, e confira nossa análise!

Amor é um fogo que arde sem se ver é um dos poemas mais famosos da belíssima obra do poeta português Luís Vaz de Camões.

Este poema foi publicado pela primeira vez na segunda edição de Rimas, em 1598, dezoito anos após a morte do autor.

É desnecessário dizer mais uma vez quão grande foi Camões e quanto ele representa para a literatura em língua portuguesa.

Basta, porém, relembrarmos que foi ele um dos maiores mestres que a língua conheceu neste que foi um dos modelos poéticos mais cultuados em todas as línguas e em todos os tempos: o soneto; formato em que está inserido o poema em questão.

Sendo assim, preparamos esse texto para que você conheça o poema Amor é um fogo que arde sem se ver, de Camões. Em seguida, você poderá conferir nossa análise.

Boa leitura!

Amor é um fogo que arde sem se ver, de Camões

Amor é um fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É um não contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É um estar-se preso por vontade;
É servir a quem vence o vencedor;
É um ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode o seu favor
Nos mortais corações conformidade,
Sendo a si tão contrário o mesmo Amor?

Análise do poema

  • Tipo de verso: decassílabo rimado
  • Número e tipo de estrofes: 4 estrofes: 2 quadras e 2 tercetos (soneto)
  • Número de versos: 14 versos

O poema Amor é um fogo que arde sem se ver é um soneto construído em decassílabos rimados, portanto, é um poema que se vale de metrificação e de rima.

Trata-se de um soneto clássico, que se enquadra no modelo que comumente chamamos soneto italiano ou soneto petrarquiano.

Neste tipo de soneto, associado ao poeta italiano Francesco Petrarca, temos como padrão 14 versos decassílabos rimados divididos em duas quadras e dois tercetos, de forma que as quadras apresentam dois tipos de rimas e os tercetos combinam duas ou três rimas diferentes.

O soneto Amor é um fogo que arde sem se ver apresenta rimas conforme o esquema abba abba cdc dcd, portanto, enquadra-se numa forma clássica.

Quanto ao sentido, é interessante notar como Camões vai explorando uma mesma ideia ao longo das estrofes, culminando no último verso que a amplifica e justifica o sentido do poema.

Camões vale-se de antíteses em todos os versos até o final do primeiro terceto; ou seja, vai ele relacionando características aparentemente contrastantes para um mesmo sentimento, como a expor um paradoxo.

Através deste recurso estilístico, Camões parece nos dizer que tais contradições são inerentes à natureza do amor.

Dos sentimentos, passa Camões às ações daquele que ama, ações igualmente contraditórias e que não podem ser justificadas racionalmente.

Chegamos ao terceto final e, com a habilidade de um verdadeiro mestre, Camões finaliza o soneto lançando mão do raciocínio e concluindo as afirmativas como dessem luz a uma espécie de silogismo:

Mas como causar pode o seu favor
Nos mortais corações conformidade,
Sendo a si tão contrário o mesmo Amor?

Quer dizer: o Amor é, afinal, o paradoxo supremo, pois consegue contrariar inclusive a si mesmo.

Sobre as versões de Amor é um fogo que arde sem se ver

Correm na internet algumas versões diferentes do poema Amor é um fogo que arde sem se ver, por isso julgamos necessária esta nota.

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A versão do poema de que nos valemos consta nas Obras completas – Tomo II, de Luís de Camões, publicada em 1843 em Lisboa e editada por J. V. Barreto Feio e J. G. Monteiro, atualizada para a ortografia vigente após o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990).

Há várias outras versões que alteram, para além da pontuação do poema, palavras de alguns dos versos.

É comum, inclusive, ver na internet uma alteração já no primeiro verso, apresentando “Amor é fogo que arde…” em vez de “Amor é um fogo que arde…”, conforme consta na versão que utilizamos aqui.

Deixamos, de toda forma, outra versão bem conhecida do poema, que consta na obra Os Lusíadas de Luís Camões, cuja direção artística é assinada por Álvaro Júlio da Costa Pimpão:

Amor é um fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Sobre Luís Vaz de Camões

Luís Vaz de Camões foi um poeta português do século XVI, cuja biografia é repleta de mistérios e especulações.

Consta Camões ter nascido, oficialmente, em Lisboa, no ano de 1524; mas há quem diga que tal possa ter ocorrido em 1525.

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Acredita-se que Camões tenha estudado Filosofia e Literatura na Universidade de Coimbra, local em que seu tio, o frade D. Bento de Camões, era chanceler.

Ainda jovem, Camões ingressou na carreira militar, tendo servido, como soldado, no Marrocos, onde perdeu o olho direito em batalha (fato célebre de sua biografia).

Regressando a Portugal, frequentou, entre 1550 e 1552, os salões da nobreza local. Em 1552, envolveu-se em uma briga de rua e feriu um suboficial da cavalaria do rei, acabando preso.

Um ano depois, recebeu o perdão do rei; partindo, em seguida, para a Índia, em 1553.

Em 1558, já em Macau, exerceu o cargo de provedor de defuntos e ausentes. Em 1559, diz-se que naufragou na costa do Camboja, salvando-se a nado com o manuscrito de Os Lusíadas em uma das mãos. Nesta mesma ocasião, perdeu sua amante chinesa Dinamene, a quem posteriormente dedicou vários versos.

Deste ponto em diante, a vida de Camões torna-se obscura e dela pouco se sabe a respeito.

Em 1567, somente, Camões é encontrado em Moçambique, em grande dificuldade financeira.

Com a ajuda de amigos, retorna a Portugal e, em 1572, publica sua obra-prima Os Lusíadas, dedicada ao rei D. Sebastião, o que lhe valeu uma pequena e irregular pensão.

Os últimos anos de Camões foram passados em doença e penúria. O poeta morreu, enfim, em 10 de junho de 1580, sem deixar dinheiro para o próprio enterro.

Obras de Luís Vaz de Camões

As obras de Camões já foram editadas com muitos títulos. Especialmente sua poesia lírica aparece por vezes dividida em Sonetos, Canções e Elegias, Redondilhas, entre outros.

Abaixo, porém, estão suas obras com os títulos das primeiras edições:

  • Os Lusíadas (1572)
  • Anfitriões (1587)
  • Filodemo (1587)
  • Rimas (1595)
  • El rei Seleuco (1645)

Conclusão

Ficamos por aqui!

Esperamos que você tenha gostado de nossa análise do poema Amor é um fogo que arde sem se ver, de Camões.

Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de ver a nossa análise do poema Soneto de fidelidade, de Vinícius de Moraes.

Um abraço e até a próxima!

Como citar este conteúdo COMO FAZER UM POEMA. Poema Amor é um fogo que arde sem se ver, de Camões (com análise). [S.I.] 2022. Disponível em: https://comofazerumpoema.com/amor-e-um-fogo-que-arde-sem-se-ver-camoes/. Acesso em: 14 mai. 2024.