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Metrificação: os 13 tipos de verso da língua portuguesa

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Confira a lista completa com os 13 tipos de verso da língua portuguesa segundo a contagem de sílabas poéticas!

Recentemente, publicamos um artigo explicando de maneira simples e direta como contar sílabas poéticas e o que é metrificação.

Para o poeta, aprender a metrificar um verso é fundamental para que ele seja capaz de imprimir ritmo em suas composições.

Sem métrica, ou seja, sem a divisão do poema em intervalos regulares (sejam eles como forem), não é possível colocar ritmo nas palavras.

Se você acompanhou nosso artigo citado acima sobre metrificação, já está claro como você pode metrificar os seus versos, ou enquadrá-los num “metro”.

Em português, há 13 tipos de verso, nomeados conforme sua contagem de sílabas poéticas, cada um deles correspondendo a um “metro” — exceção feita ao que se chama vulgarmente verso bárbaro.

Neste artigo, apresentaremos cada uma dessas possibilidades, definindo-as e fornecendo exemplos de versos de grandes poetas.

Boa leitura!

O que é metrificação?

Metrificação é simplesmente o ato de metrificar. Metrificar, em poesia, é definir para o verso um número de sílabas, ou enquadrá-lo num “metro”.

O “metro”, como dissemos, é o nome dado à classificação do verso segundo o seu número de sílabas poéticas.

Como é feita a contagem de sílabas poéticas de um verso?

Se você não leu o nosso artigo sobre contagem de sílabas poéticas e metrificação recomendado no início desse artigo, recomendamos que o leia, pois lá explicamos em profundidade e sem complicações o que você deve fazer para contar as sílabas poéticas de um verso e colocá-lo num “metro”.

Porém, para resumir:

  • Metrificar é definir um número de sílabas poéticas para o verso.
  • Para contar sílabas poéticas, você deve se atentar para vogais em sequência: se forem elas pronunciadas num só impulso, numa só vibração das cordas vocais, então você deve contá-las como uma só sílaba.
  • Para colocar um verso num “metro”, deve-se contar suas sílabas poéticas até a última sílaba tônica.

Lembrando que esse modelo de metrificação é o proposto pelo grande António Feliciano de Castilho, que é o mais amplamente aceito em língua portuguesa e é também adotado nas línguas francesa e provençal.

Tipos de verso da língua portuguesa

Há 13 tipos de verso na língua portuguesa segundo a contagem de sílabas poéticas.

Esses versos são nomeados conforme o número de sílabas poéticas que possuem, e alguns deles possuem nomes especiais, como veremos a seguir.

Em português, diz a tradição que versos apreciáveis são feitos a partir de duas sílabas poéticas, segundo a contagem de Castilho.

Mas, conforme dizem Olavo Bilac e Guimarães Passos, “por capricho, alguns poetas inserem em suas composições versos de uma só sílaba”.

Vejamos, portanto, esses 13 tipos de verso existentes na língua portuguesa.

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Verso de uma sílaba, ou monossílabo

São chamados monossílabos os versos que contêm somente uma sílaba poética.

Como dissemos, esse tipo de verso é considerado pouco digno de apreciação isoladamente, embora, por vezes, seja utilizado com o efeito de eco em estrofes heterométricas.

Abaixo, um exemplo:

Quem
não
tem
cão?

Verso de duas sílabas, ou dissílabo

São chamados dissílabos os versos que contêm duas sílabas poéticas.

Nesse tipo de verso (ou metro), encontramos mais exemplos na língua, embora ele, também, não seja muito utilizado por grandes poetas.

Tu, ontem,
Na dança,
Que cansa,
Voavas,
Co’as faces
Em rosas
Formosas…

(Casimiro de Abreu)

A contagem de sílabas desses versos seria feita da seguinte maneira (em destaque as últimas sílabas tônicas):

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Tu|on|tem
Na|dan|ça
Que|can|sa
Vo|a|vas
Co’as| faces
Em|ro|sas
For|mo|sas

Verso de três sílabas, ou trissílabo

São chamados trissílabos os versos que contêm três sílabas poéticas.

Esse tipo de verso também não é muito comum em nossa língua, embora encontremos exemplos em grandes poetas.

Realmente,
Coronel,
Tens uma alma
Bem cruel…

(Gonçalves Dias)

Separando esses versos em sílabas poéticas, teremos:

Re|al|men|te
Co|ro|nel
Tens|u|ma al|ma
Bem|cru|el

Verso de quatro sílabas, ou tetrassílabo

São chamados tetrassílabos (ou quadrissílabos) os versos que contêm quatro sílabas poéticas.

Virgem das dores,
Vem dar-me alento,
Neste momento,
De agro sofrer.

(Castro Alves)

Escandindo esses versos, teremos:

Vir|gem|das| do|res
Vem|dar|me a|len|to
Nes|te|mo|men|to
De a|gro|so|frer

Verso de cinco sílabas, ou pentassílabo (redondilhas menores)

São chamados pentassílabos (ou redondilhas menores) os versos que contêm cinco sílabas poéticas.

Esse é um dos tipos de verso mais populares em língua portuguesa, e há muitos e muitos exemplos de poetas que trabalharam com habilidade esse metro.

Não chores, meu filho;
Não chores, que a vida
É luta renhida:
Viver é lutar.
A vida é combate,
Que os fracos abate,
Que os fortes, os bravos
Só pode exaltar.

(Gonçalves Dias)

Separando esses versos em sílabas poéticas, teremos:

Não|cho|res|meu|fi|lho
Não|cho|res| que a|vi|da
É|lu|ta|re|nhi|da
Vi|ver|é|lu|tar
A|vi|da é|com|ba|te
Que os|fra|cos|a|ba|te
Que os|for|tes|os|bra|vos
Só|po|dee|xal|tar

Verso de seis sílabas (ou hexassílabo)

São chamados hexassílabos os versos que contêm seis sílabas poéticas.

Esse tipo de verso, em língua portuguesa, é quase sempre encontrado como verso quebrado inserido em estrofes compostas com versos de dez sílabas.

Torno os tormentos graves

(Camões)

Olhos que são tão belos

(idem)

Separando esses versos em sílabas poéticas, teremos:

Tor|no os| tor|men|tos| gra|ves

O|lhos| que| são| tão| be|los

Verso de sete sílabas, ou heptassílabo (redondilhas maiores)

São chamados heptassílabos (ou redondilhas maiores) os versos que contêm sete sílabas poéticas.

Esse, sem dúvida, é um dos metros mais populares em língua portuguesa, e é encontrado em grande parte dos poetas da língua, em variados tipos de composição.

Os bons vi sempre passar
No mundo graves tormentos;
E para mais m’ espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.

(Camões)

Separando as sílabas poéticas dos versos acima, teremos:

Os| bons| vi| sem|pre| pas|sar
No| mun|do| gra|ves| tor|men|tos
E| pa|ra| mais| m’ es|pan|tar
Os| maus| vi| sem|pre| na|dar
Em| mar| de| con|ten|ta|men|tos

Verso de oito sílabas, ou octossílabo

São chamados octossílabos os versos que contêm oito sílabas poéticas.

Esse tipo de verso é muito popular em inglês e francês e, em português, embora não seja tão frequente encontrá-lo como encontramos as redondilhas, há exemplos deste metro em grandes poetas.

Aqui estou, junto à tempestade,
Chorando como uma criança,
Que viu que não eram verdade
O seu sonho e sua esperança.

(Cecília Meireles)

Separando as sílabas poéticas desses versos, teremos:

A|qui es|tou| jun|to à| tem|pes|ta|de
Cho|ran|do| co|mo u|ma| cri|an|ça
Que| viu| que| não| e|ram| ver|da|de
O| seu| so|nho e| su|a es|pe|ran|ça

Verso de nove sílabas, ou eneassílabo

São chamados eneassílabos os versos que contêm nove sílabas poéticas.

Trabalhai, meus irmãos, que o trabalho
É riqueza, é virtude, é vigor;
Dentre a orquestra da serra e do malho
Brotam vida, cidades, amor.

(Castilho)

Separando as sílabas poéticas desses versos, teremos:

Tra|ba|lhai| meus| ir|mãos| que o| tra|ba|lho
É| ri|que|za| é| vir|tu|de| é| vi|gor
Den|tre a or|ques|tra| da| ser|ra e| do| ma|lho
Bro|tam| vi|da| ci|da|des| a|mor

Verso de dez sílabas, ou decassílabo

São chamados decassílabos os versos que contêm dez sílabas poéticas.

Esse é, provavelmente, o tipo de verso mais utilizado em língua portuguesa e, segundo Olavo Bilac e Guimarães Passos, é o verso mais belo da língua.

À noite quando em funda soledade
Minh’alma se recolhe tristemente,
Pra iluminar-me a alma descontente,
Se acende o círio triste da Saudade.

(Augusto dos Anjos)

Separando as sílabas poéticas desses versos, teremos:

À|noi|te|quan|do em|fun|da|so|le|da|de
Mi|nh’al|ma|se|re|co|lhe|tris|te|men|te
Pra i|lu|mi|nar|me a|al|ma|des|con|ten|te
Se a|cen|deo|cí|rio|tris|te|da|Sau|da|de

Verso de onze sílabas, ou hendecassílabo (arte maior)

São chamados hendecassílabos (ou arte maior) os versos que contêm onze sílabas poéticas.

Para variar, usaremos abaixo um exemplo de estrofe composta, com versos de onze e cinco sílabas:

Um velho Timbira, coberto de glória,
Guardou a memória
Do moço guerreiro, do velho Tupi!
E à noite, nas tabas, se alguém duvidava
Do que ele contava,
Dizia prudente: — ‘Meninos, eu vi!’

(Gonçalves Dias)

Separando as sílabas poéticas desses versos, teremos:

Um| ve|lho| Tim|bi|ra| co|ber|to| de| gló|ria
Guar|dou| a| me|mó|ria
Do| mo|ço| guer|rei|ro| do| ve|lho| Tu|pi
E à| noi|te| nas| ta|bas| se al|guém| du|vi|da|va
Do| que e|le| con|ta|va
Di|zi|a| pru|den|te| Me|ni|nos| eu| vi

Verso de doze sílabas, ou dodecassílabo (alexandrino)

São chamados dodecassílabos (ou alexandrino) os versos que contêm doze sílabas poéticas.

Esses versos, de índole francesa, possuem uma particularidade que os torna significativamente difíceis de manejar.

Para que um verso seja considerado alexandrino clássico, não basta que tenha doze sílabas poéticas: sua sexta sílaba, obrigatoriamente, deve ser tônica e comporta duas variações: a palavra em que cai o acento da sexta sílaba pode ser aguda ou grave (nunca esdrúxula).

Caso seja grave, tem de terminar em vogal e elidir-se na palavra seguinte. Não cumprindo essa regra, o verso pode ter doze sílabas poéticas, mas não é considerado alexandrino clássico.

E, árvore, acabará sem nunca dar um fruto…
E, homem, há de morrer como viveu: sozinho!
Sem ar! sem luz! sem Deus! sem fé! sem pão! sem lar!

(Bilac)

Separando as sílabas poéticas desses versos, teremos:

E ár|vo|rea|ca|ba|rá|sem|nun|ca|dar|um|fru|to
E ho|mem|há|de|mor|rer|co|mo|vi|veu|so|zi|nho
Sem|ar|sem|luz|sem|Deus|sem|fé|sem|pão|sem|lar

Versos bárbaros

São vulgarmente chamados bárbaros os versos que possuem mais de doze sílabas poéticas.

Esse tipo de verso não é utilizado tradicionalmente na poesia regular em língua portuguesa e quase sempre o encontramos em português em composições em verso livre, misturados com outros tipos de verso.

Pensando nisto — ó raiva! pensando nisto — ó fúria!
Pensando nesta estreiteza da minha vida cheia de ânsias,
Subitamente, tremulamente, extraorbitadamente,
Com uma oscilação viciosa, vasta, violenta,
Do volante vivo da minha imaginação,
Rompe, por mim, assobiando, silvando, vertiginando,
O cio sombrio e sádico da estrídula vida marítima.

(Fernando Pessoa)

Conclusão

Ficamos por aqui!

Esperamos que você tenha gostado do artigo e conhecido os tipos de verso da língua portuguesa.

Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de ver o que escrevemos sobre a qualidade das rimas.

Um abraço e até a próxima!