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Verso heptassílabo (ou redondilha maior): o que é, tipos, características e exemplos

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Saiba o que é heptassílabo (ou redondilha maior) em poesia, conheça suas características e veja exemplos de sua aplicação!

O heptassílabo é provavelmente o tipo de verso mais utilizado em português, rivalizando apenas com o decassílabo.

Sua utilização na língua é antiquíssima e, no decorrer dos séculos, este metro que é um de nossos nativos tem sido também o mais popular.

A seguir, elucidaremos o que é heptassílabo na poesia, quais são suas características e daremos exemplos de sua aplicação.

Definição de heptassílabo

Em poesia, heptassílabo (ou redondilha maior) é o nome que se dá ao verso que possui sete sílabas poéticas, segundo a contagem silábica praticada em português.

Nesta contagem, também chamada contagem francesa ou contagem de Castilho, considera-se para efeito de definição do metro o número de sílabas poéticas do verso até sua última sílaba tônica.

Desta forma, o heptassílabo pode possuir sete, oito ou nove sílabas poéticas reais, a depender se sua última sílaba tônica recai em palavra aguda, grave ou esdrúxula, respectivamente.

Este verso é também conhecido como setissílabo, septissílabo, redondilho maior, verso de redondilha maior e redondilho heptassilábico.

Embora o termo “redondilha” se referisse, a princípio, apenas a uma estrofe de esquema rímico abba, hoje popularizou-se o uso do termo para referir-se também aos metros em que tais estrofes eram comumente construídas, isto é, chama-se “redondilha menor” o verso pentassílabo, e “redondilha maior” o heptassílabo.

Quanto à acentuação, o verso heptassílabo possui, normalmente, duas, três, ou quatro sílabas fortes.

Características do verso heptassílabo

O verso heptassílabo, um dos nativos de nossa língua, é talvez o mais utilizado e apresenta possibilidades variadíssimas de realização.

Geralmente, encontramo-lo em estrofes isométricas ou em estrofes heterométricas com versos quebrados menores; ou seja, quando o encontramos, geralmente é ele o metro predominante da composição.

Quanto ao ritmo, o verso heptassílabo, em português, costuma ser empregado em estrofes de cadência apenas silábica, e não acentual.

Isso quer dizer que a maioria das vezes encontramo-lo em composições que variam o posicionamento dos acentos de verso para verso, o que confere a elas destacado dinamismo.

Tipos de heptassílabo

Como já mencionado, o heptassílabo é um verso que, em português, costuma ser empregado com cadência apenas silábica, e não acentual.

Os poetas de nossa língua, pois, exploraram as possibilidades expressivas deste metro de tal forma que encontramos tantos tipos de heptassílabo quantos são possíveis de imaginar, havendo exemplos que apresentam todas as localizações possíveis de sílabas acentuadas.

Contudo, destacamos quatro tipos básicos de heptassílabo, que se desdobram em variações com menor número de sílabas acentuadas.

Aos exemplos, agradecemos e valemo-nos das coletas de Said Ali (Versificação portuguesa) e Rogério Chociay (Teoria do verso):

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Tipo 1: esquema acentual 1-3-5-7 (~ – ~ – ~ – ~)

Este padrão trocaico é muito comum e desdobra-se em diversas variações.

Alguns exemplos, com destaque nas sílabas tônicas naturais:

Noites de alma, céus à tona
(Cecília Meireles)

Pés descalços, braços nus
(Casimiro de Abreu)

Variação 1-3-7:

Cumpre apenas o seu fado
(Jorge de Lima)

Variação 1-5-7:

Ela o pensa também?
(Cecília Meireles)

Variação 3-5-7:

Em redor dos bancos frios
(Cecília Meireles)

Variação 3-7:

Loading

O mais puro dos mortais
(Péricles Eugênio da Silva Ramos)

Variação 5-7:

Possibilidades claras
(Drummond)

Variação 1-7:

Ilha de melancolia
(Ribeiro Couto)

Nestas duas últimas variações, naturalmente, observamos operante o fenômeno da tônica secundária.

Tipo 2: esquema acentual 2-4-7 (- ~ – ~ – – ~)

Exemplos:

Não entro tanto nas graças
(Sá de Miranda)

Sentindo a brisa do rio
(João de Lemos)

Variação 4-7:

Equilibrado na lama
(Cecília Meireles)

Tipo 3: esquema acentual 2-5-7 (- ~ – – ~ – ~)

Este esquema, também comum, comporta uma das variações do primeiro tipo (5-7).

Exemplos:

Gostavam do sol brilhante
(Gonçalves Dias)

Não hás de mudar o mundo
(Sá de Miranda)

Variação 2-7:

Incios de canibais
(Jorge de Lima)

Tipo 4: esquema acentual 1-4-7 (~ – – ~ – – ~)

Este tipo, que também comporta as variações 1-7 e 4-7, consiste, em versos graves, em um troqueu e dois anfíbracos ou, analisando de outra maneira, num movimento datílico até a última sílaba tônica.

Exemplos:

Fogem d’ouvir as sereias
(Sá de Miranda)

de cair sobre as ondas
(Gonçalves Dias)

Exemplos de verso heptassílabo

Abaixo veremos alguns exemplos de aplicação do verso heptassílabo, metro em que estão enquadrados alguns dos melhores e mais conhecidos poemas da língua portuguesa:

Tenho tanto sentimento, de Fernando Pessoa

Tenho tanto sentimento
Que é frequente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.

Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.

Qual porém é verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar.

Canção do exílio, de Gonçalves Dias

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar –sozinho, à noite–
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Ismália, de Alphonsus de Guimaraens

Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar…
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar…
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar…

E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar…
Estava perto do céu,
Estava longe do mar…

E como um anjo pendeu
As asas para voar…
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar…

As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par…
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar…

O livro e a América, de Castro Alves

Ao Grêmio Literário

Talhado para as grandezas,
Pra crescer, criar, subir,
O Novo Mundo nos músculos
Sente a seiva do porvir.
— Estatuário de colossos —
Cansado doutros esboços
Disse um dia Jeová:
“Vai, Colombo, abre a cortina
“Da minha eterna oficina…
“Tira a América de lá.”

Molhado inda do dilúvio,
Qual Tritão descomunal,
O continente desperta
No concerto universal.
Dos oceanos em tropa
Um — traz-lhe as artes da Europa,
Outro — as bagas de Ceilão…
E os Andes petrificados,
Como braços levantados,
Lhe apontam para a amplidão.

Olhando em torno então brada:
“Tudo marcha!… Ó grande Deus!
“As cataratas — pra terra,
“As estrelas — para os céus.
“Lá, do polo sobre as plagas,
“O seu rebanho de vagas
“Vai o mar apascentar…
“Eu quero marchar com os ventos,
“Com os mundos… co’os firmamentos!!!”
E Deus responde — “Marchar!”

“Marchar!… Mas como?… Da Grécia
Nos dóricos Partenons
A mil deuses levantando
Mil marmóreos Panteons?…
Marchar co’a espada de Roma
— Leoa de ruiva coma
De presa enorme no chão,
Saciando o ódio profundo…
— Com as garras nas mãos do mundo,
— Com os dentes no coração?…

“Marchar!… Mas como a Alemanha
Na tirania feudal,
Levantando uma montanha
Em cada uma catedral?…
Não!… Nem templos feitos de ossos,
Nem gládios a cavar fossos
São degraus do progredir…
Lá brada César morrendo:
“No pugilato tremendo
“Quem sempre vence é o porvir!”

Filhos do sec’lo das luzes!
Filhos da Grande nação!
Quando ante Deus vos mostrardes,
Tereis um livro na mão:
O livro — esse audaz guerreiro
Que conquista o mundo inteiro
Sem nunca ter Waterloo…
Éolo de pensamentos,
Que abrira a gruta dos ventos
Donde a Igualdade voou!…

Por uma fatalidade
Dessas que descem de além,
O séc’lo, que viu Colombo,
Viu Guttenberg também.
Quando no tosco estaleiro
Da Alemanha o velho obreiro
A ave da imprensa gerou…
O Genovês salta os mares…
Busca um ninho entre os palmares
E a pátria da imprensa achou…

Por isso na impaciência
Desta sede de saber,
Como as aves do deserto —
As almas buscam beber…
Oh! bendito o que semeia
Livros… livros à mão cheia…
E manda o povo pensar!
O livro caindo n’alma
É gérmen — que faz a palma,
É chuva — que faz o mar.

Vós, que o templo das ideias
Largo — abris às multidões,
Pra o batismo luminoso
Das grandes revoluções,
Agora que o trem de ferro
Acorda o tigre no cerro
E espanta os caboclos nus,
Fazei desse “rei dos ventos”
— Ginete dos pensamentos,
— Arauto da grande luz!…

Bravo! a quem salva o futuro
Fecundando a multidão!…
Num poema amortalhada
Nunca morre uma nação.
Como Goëthe moribundo
Brada “Luz!” o Novo Mundo
Num brado de Briareu…
Luz! pois, no vale e na serra…
Que, se a luz rola na terra,
Deus colhe gênios no céu!…

Como citar este conteúdo COMO FAZER UM POEMA. Verso heptassílabo (ou redondilha maior): o que é, tipos, características e exemplos. [S.I.] 2023. Disponível em: https://comofazerumpoema.com/verso-heptassilabo-caracteristicas-exemplos/. Acesso em: 3 mai. 2024.