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7 belíssimos poemas de Cruz e Sousa, ícone do Simbolismo brasileiro

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Confira a nossa seleção de poemas de Cruz e Sousa, poeta representante do Simbolismo brasileiro!

Cruz e Sousa é um poeta brasileiro de grande importância histórica, especialmente por ser-lhe atribuída a introdução do Simbolismo no Brasil.

Sua obra destaca-se especialmente pela musicalidade e pelo teor imagético e sugestivo, em conformidade com os simbolistas franceses que lhe serviram de inspiração.

Cruz e Sousa, em sua época, foi apelidado “Dante negro”, em referência ao poeta florentino Dante Alighieri, em demonstração do grande reconhecimento que conquistou devido ao mérito literário de sua obra.

Dito isso, preparamos uma seleção com 7 poemas de Cruz e Sousa para que você possa conhecer um pouco mais da obra deste grande poeta brasileiro.

Boa leitura!

Poemas de Cruz e Sousa

Acrobata da dor

Gargalha, ri, num riso de tormenta,
Como um palhaço, que desengonçado,
Nervoso, ri, num riso absurdo, inflado
De uma ironia e de uma dor violenta.

Da gargalhada atroz, sanguinolenta,
Agita os guizos, e convulsionado
Salta, gavroche, salta clown, varado
Pelo estertor dessa agonia lenta…

Pedem-te bis e um bis não se despreza!
Vamos! retesa os músculos, retesa
Nessas macabras piruetas d’aço…

E embora caias sobre o chão, fremente,
Afogado em teu sangue estuoso e quente
Ri! Coração, tristíssimo palhaço.

Vida obscura

Ninguém sentiu o teu espasmo obscuro,
Ó ser humilde entre os humildes seres.
Embriagado, tonto dos prazeres,
O mundo para ti foi negro e duro.

Atravessaste num silêncio escuro
A vida presa a trágicos deveres
E chegaste ao saber de altos saberes
Tornando-te mais simples e mais puro.

Ninguém te viu o sentimento inquieto,
Magoado, oculto e aterrador, secreto.
Que o coração te apunhalou no mundo.

Mas eu que sempre te segui os passos
Sei que cruz infernal prendeu-te os braços
E o teu suspiro como foi profundo!

Cavador do Infinito

Com a lâmpada do Sonho desce aflito
E sobe aos mundos mais imponderáveis,
Vai abafando as queixas implacáveis,
Da alma o profundo e soluçado grito.

Ânsias, Desejos, tudo a fogo, escrito
Sente, em redor, nos astros inefáveis.
Cava nas fundas eras insondáveis
O cavador do trágico Infinito.

E quanto mais pelo Infinito cava
Mais o Infinito se transforma em lava
E o cavador se perde nas distâncias…

Alto levanta a lâmpada do Sonho
E com seu vulto pálido e tristonho
Cava os abismos das eternas ânsias!

Beleza morta

De leve, louro e enlanguescido helianto
Tens a flórea dolência contristada…
Há no teu riso amargo um certo encanto
De antiga formosura destronada.

No corpo, de um letárgico quebranto,
Corpo de essência fina, delicada,
Sente-se ainda o harmonioso canto
Da carne virginal, clara e rosada.

Sente-se o canto errante, as harmonias
Quase apagadas, vagas, fugidias
E uns restos de clarão de Estrela acesa…

Como que ainda os derradeiros haustos
De opulências, de pompas e de faustos,
As relíquias saudosas da beleza

Rebelado

Ri tua face um riso acerbo e doente,
Que fere, ao mesmo tempo que contrista…
Riso de ateu e riso de budista
Gelado no Nirvana impenitente.

Flor de sangue, talvez, e flor dolente
De uma paixão espiritual de artista,
Flor de Pecado sentimentalista
Sangrando em riso desdenhosamente.

Da alma sombria de tranquilo asceta
Bebeste, entanto, a morbidez secreta
Que a febre das insânias adormece.

Mas no teu lábio convulsivo e mudo
Mesmo até riem, com desdéns de tudo,
As sílabas simbólicas da Prece!

Post mortem

Quando do amor das Formas inefáveis
No teu sangue apagar-se a imensa chama,
Quando os brilhos estranhos e variáveis
Esmorecerem nos troféus da Fama.

Quando as níveas Estrelas invioláveis,
Doce velário que um luar derrama,
Nas clareiras azuis ilimitáveis
Clamarem tudo o que o teu Verso clama.

Já terás para os báratros descido,
Nos cilícios da Morte revestido,
Pés e faces e mãos e olhos gelados…

Mas os teus Sonhos e Visões e Poemas
Pelo alto ficarão de eras supremas
Nos relevos do Sol eternizados!

Antífona

Ó Formas alvas, brancas, Formas claras
De luares, de neves, de neblinas!…
Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas…
Incensos dos turíbulos das aras…

Formas do Amor, constelarmente puras,
De Virgens e de Santas vaporosas…
Brilhos errantes, mádidas frescuras
E dolências de lírios e de rosas…

Indefiníveis músicas supremas,
Harmonias da Cor e do Perfume…
Horas do Ocaso, trêmulas, extremas,
Réquiem do Sol que a Dor da Luz resume…

Visões, salmos e cânticos serenos,
Surdinas de órgãos flébeis, soluçantes…
Dormências de volúpicos venenos
Sutis e suaves, mórbidos, radiantes…

Infinitos espíritos dispersos,
Inefáveis, edênicos, aéreos,
Fecundai o Mistério destes versos
Com a chama ideal de todos os mistérios.

Do Sonho as mais azuis diafaneidades
Que fuljam, que na Estrofe se levantem
E as emoções, sodas as castidades
Da alma do Verso, pelos versos cantem.

Que o pólen de ouro dos mais finos astros
Fecunde e inflame a rime clara e ardente…
Que brilhe a correção dos alabastros
Sonoramente, luminosamente.

Forças originais, essência, graça
De carnes de mulher, delicadezas…
Todo esse eflúvio que por ondas passe
Do Éter nas róseas e áureas correntezas…

Cristais diluídos de clarões alacres,
Desejos, vibrações, ânsias, alentos,
Fulvas vitórias, triunfamentos acres,
Os mais estranhos estremecimentos…

Flores negras do tédio e flores vagas
De amores vãos, tantálicos, doentios…
Fundas vermelhidões de velhas chagas
Em sangue, abertas, escorrendo em rios…..

Tudo! vivo e nervoso e quente e forte,
Nos turbilhões quiméricos do Sonho,
Passe, cantando, ante o perfil medonho
E o tropel cabalístico da Morte..

Sobre Cruz e Sousa

Cruz e Sousa nasceu em 24 de novembro de 1861, em Nossa Senhora do Desterro (atual Florianópolis), em Santa Catarina.

Nasceu livre, por ser filho de escravos alforriados, e foi criado como filho adotivo do Marechal de Campo Guilherme Xavier de Sousa e Clarinda Fagundes de Sousa.

Teve a educação patrocinada pela mesma família de aristocratas que alforriou seus pais, fazendo os primeiros estudos em Santa Catarina e, em seguida, movendo-se a São Paulo, onde cursou direito e formou-se em 1881.

Iniciou sua carreira literária como jornalista e colaborou em diversas publicações.

Publicou seu primeiro livro de poesias, Tropos e Fantasias, em 1885.

Em 1893, lançou Missal e Broquéis, obras que se tornaram marcos do Simbolismo brasileiro.

Foi apelidado “Dante negro”, em referência ao poeta italiano Dante Alighieri, e tornou-se um dos poetas mais importantes do Brasil.

Apesar do reconhecimento literário, enfrentou dificuldades financeiras e problemas de saúde.

Faleceu em 19 de março de 1898, em Antônio Carlos (MG), vítima de tuberculose.

É patrono da cadeira 15 da Academia Catarinense de Letras.

Obras de Cruz e Sousa

  • Tropos e Fantasias (1885)
  • Missal (1893)
  • Broquéis (1893)
  • Evocações (1898)
  • Faróis (1900)
  • Últimos sonetos (1905)
  • Outras evocações (1961)
  • O livro derradeiro (1961)
  • Dispersos (1961
  • Poemas inéditos (1996)
  • Últimos inéditos (2013)

Conclusão

Ficamos por aqui!

Esperamos que você tenha gostado de nossa seleção de poemas de Cruz e Sousa.

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Um abraço e até a próxima!

Como citar este conteúdo COMO FAZER UM POEMA. 7 belíssimos poemas de Cruz e Sousa, ícone do Simbolismo brasileiro. [S.I.] 2023. Disponível em: https://comofazerumpoema.com/poemas-de-cruz-e-sousa-simbolismo-brasileiro/. Acesso em: 14 mai. 2024.