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5 poemas de Teixeira de Pascoaes, importante poeta do Saudosismo português

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Confira a nossa seleção de poemas de Teixeira de Pascoaes, importante poeta português do século XX.

Teixeira de Pascoaes foi um poeta português nascido em novembro de 1877.

Sua obra poética é marcada, principalmente, pelo tom “passadista” e por um verdadeiro louvor à saudade que, aos olhos de Pascoaes, representa tanto uma condição ontológica universal quanto a alma especificamente portuguesa.

Nesta linha de pensamento, foi mentor do movimento que ficou conhecido como Saudosismo em Portugal, que congregou outros intelectuais e, entre eles, Fernando Pessoa.

Dito isso, preparamos uma seleção com 5 poemas de Teixeira de Pascoaes para que você possa conhecer um pouco mais da obra deste poeta.

Boa leitura!

Poemas de Teixeira de Pascoaes

De noite

Quando me deito ao pé da minha dor,
Minha Noiva-fantasma; e em derredor
Do meu leito, a penumbra se condensa,
E já não vejo mais que a noite imensa,
Ante os meus olhos íntimos, acesos,
Estáticos, surpresos,
Aparece-me o Reino Espiritual…
E ali, despido o habito carnal,
Tu brincas e passeias; não comigo,
Mas com a minha dor… o amor antigo.

A minha dor está contigo ali,
Como, outrora, eu estava ao pé de ti…
Se fosse a minha dor, com que alegria,
De novo, a tua face beijaria!

Mas eu não sou a dor, a dor etérea…
Sou a Carne que sofre; esta miséria
Que no silêncio clama!

A Sombra, o Corpo doloroso, o Drama…

Tristeza

O sol do outono, as folhas a cair,
A minha voz baixinho soluçando,
Os meus olhos, em lágrimas, beijando
A terra, e o meu espírito a sorrir…

Eis como a minha vida vai passando
Em frente ao seu Fantasma… E fico a ouvir
Silêncios da minh’alma e o ressurgir
De mortos que me foram sepultando…

E fico mudo, estático, parado
E quase sem sentidos, mergulhando
Na minha viva e funda intimidade…

Só a longínqua estrela em mim actua…
Sou rocha harmoniosa à luz da lua,
Petrificada esfinge de saudade…

Nas trevas

Como estou só no mundo! Como tudo
É lágrima e silêncio!

Ó tristeza das Cousas, quando é noite
Na terra e em nosso espírito!… Tristeza
Que se anuncia em vultos de arvoredos,
Em rochas diluídas na penumbra
E soluços de vento perpassando
Na tenebrosa lividez do céu…

Ó tristeza das Cousas! Noite morta!
Pavor! Desolação! Escura noite!
Fantástica Paisagem,
Desde o soturno espaço à fria terra
Toda vestida em sombra de amargura!

Erma noite fechada! Nem um leve
Riso vago de estrela se adivinha…
Somente as grossas lágrimas da chuva
Escorrem pela face do Silêncio…

Piedade, noite negra! Não me beijes
Com esses lábios mortos de Fantasma!

Ó Sol, vem alumiar a minha dor
Que, perdida na sombra, se dilata
E mais profundamente se enraíza
Nesta carne a sangrar que é a minha alma!

Ilumina-te, ó Noite! Ó Vento, cala-te!
Negras nuvens do sul, limpai os olhos,
Desanuviai a brônzea face morta!

Oh, mas que noite amarga, toda cheia
Do teu Fantasma angélico e divino;
Espírito que, um dia, em minha irmã,
Tomou corpo infantil, figura de Anjo…
E para que, meu Deus? Para partir,
Com seis anos apenas, no primeiro
Riso da vida, em lágrimas, levando
Toda a luz de esperança que floria
Este ermo, este remoto em que divago…

Como estou só no mundo! Como é triste
A solidão que faz a tua Ausência,
E o terrível e trágico silêncio
Da tua alegre Voz emudecida!

Ó noite, ó noite triste! Ó minha alma!
Tu, que o viste e beijaste tantas vezes,
Tu, que sentiste bem o que ele tinha
De angélica Criança sobre-humana,
Não vês as próprias cousas como sofrem,
E como as grandes árvores agitam
As ramagens de lágrimas e sombras?

Repara bem na lúgubre tristeza
Da nossa velha casa abandonada
Da divina Presença da Criança!

Ah, como as portas gemem e o beirais
Têm soluços de vento…

Lá fora, no terreiro onde brincavas,
A noite escura chora…

Ó minha alma,
Embebe-te na dor das Cousas ermas;
Chora também, consome-te, soluça,
Junto à Mãe dolorosa, de joelhos…

Trágica Recordação

Meu Deus! meu Deus! quando me lembro agora
De o ver brincar, e avisto novamente
Seu pequenino Vulto transcendente,
Mas tão perfeito e vivo como outrora!

Julgo que ele ainda vive; e que, lá fora,
Fala em voz alta e brinca alegremente,
E volve os olhos verdes para a gente,
Dois berços de embalar a luz da aurora!

Julgo que ele ainda vive, mas já perto
Da Morte: sombra escura, abismo aberto…
Pesadelo de treva e nevoeiro!

Ó visão da Criança ao pé da Morte!
E a da Mãe, tendo ao lado a negra sorte
A calcular-lhe o golpe traiçoeiro!

Encantamento

Quantas vezes, ficava a olhar, a olhar
A tua doce e angélica Figura,
Esquecido, embebido num luar,
Num enlevo perfeito e graça pura!

E à força de sorrir, de me encantar,
Diante de ti, mimosa Criatura,
Suavemente sentia-me apagar…
E eu era sombra apenas e ternura.

Que inocência! que aurora! que alegria!
Tua figura de Anjo radiava!
Sob os teus pés a terra florescia,

E até meu próprio espirito cantava!
Nessas horas divinas, quem diria
A sorte que já Deus te destinava!

Conclusão

Ficamos por aqui!

Esperamos que você tenha gostado de nossa seleção de poemas de Teixeira de Pascoaes.

Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de ver a nossa coletânea de poemas de Camilo Pessanha.

Um abraço e até a próxima!

Como citar este conteúdo COMO FAZER UM POEMA. 5 poemas de Teixeira de Pascoaes, importante poeta do Saudosismo português. [S.I.] 2022. Disponível em: https://comofazerumpoema.com/poemas-de-teixeira-de-pascoaes-saudosismo/. Acesso em: 28 out. 2024.