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Poesia narrativa: o que é, características e exemplos

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Saiba o que é a poesia narrativa, conheça suas características e veja exemplos de sua aplicação!

A poesia narrativa é cultivada desde a Antiguidade, e neste gênero estão algumas das composições mais brilhantes e conhecidas da literatura mundial.

Embora hoje, ao falarmos em “poesia”, a maioria das pessoas pensarem instintivamente no gênero lírico, o gênero narrativo continua a ser empregado e continua capaz de alcançar, em verso, efeitos excelentes

A seguir, elucidaremos o que é poesia narrativa, quais são suas características e daremos exemplos de sua aplicação.

O que é a poesia narrativa?

A poesia narrativa é aquela que narra uma história em versos.

Sua principal característica é possuir um narrador que enuncia os fatos de maneira sequencial, isto é, a poesia narrativa relata ações que se sucedem no tempo e no espaço.

A forma mais conhecida de poesia narrativa é a epopeia, destinada a narrar, em versos, feitos de grande importância histórica para uma civilização.

Na epopeia, nota-se um narrador onisciente distanciado dos fatos que narra, nota-se haver personagens, trama e um arco de ação que se desenvolve no poema.

As epopeias, contudo, apresentam sempre heróis e feitos gloriosos, algo que nem sempre é observado na poesia narrativa.

A poesia narrativa pode apresentar-se em variada forma, não distinguindo-se por elementos como estrofação, uso ou não de rima, metrificação e elementos formais semelhantes.

Em geral, os poemas narrativos costumam ter extensão superior à dos poemas líricos, mas encontramos em português alguns tipos de poema narrativo tradicionalmente curtos, como as chamadas baladas narrativas.

Características da poesia narrativa

Abaixo elencamos as principais características da poesia narrativa:

  • Há sempre um narrador a conduzir a narrativa e enunciar os fatos em versos.
  • Há também um enredo no cerne da composição, isto é, uma sucessão de acontecimentos, geralmente exposta de maneira a evidenciar uma relação de causa e efeito entre eles.
  • Os acontecimentos narrados são vividos por personagens.
  • Há delimitação de espaço (local onde se passa a história) e tempo (época onde se passa a história).
  • A narração é geralmente marcada pela objetividade e destaca-se pela força dos fatos narrados, e não pelos sentimentos pessoais experimentados pelo narrador.

Diferenças entre poesia lírica e poesia narrativa

Embora os exemplos mais antigos de poemas narrativos sejam de fácil identificação, por simplesmente disporem em versos uma narrativa tradicional, há poemas modernos que parecem mesclar o gênero lírico ao narrativo.

Essa tendência, aliás, é observada também em prosa, e há mesmo alguns exemplos de romances em verso que podem gerar confusão quanto ao gênero em que melhor se enquadram, especialmente porque nem sempre o narrador abstém-se de usar verbos e pronomes da 1ª pessoa.

Por isso, elencaremos as três principais diferenças entre o gênero lírico e o gênero narrativo:

  1. Subjetividade vs objetividade: a poesia lírica tende a se concentrar nos sentimentos, pensamentos e experiências pessoais do eu lírico, enquanto a poesia narrativa narra uma história, isto é, descreve objetivamente uma sucessão de acontecimentos.
  2. Eu lírico vs personagens: na poesia lírica, há um eu lírico que expressa suas emoções e pensamentos, enquanto na poesia narrativa há personagens que se envolvem num enredo através de diálogos e ações.
  3. Tempo e espaço: na poesia lírica, não costuma haver uma sucessão de fatos no tempo e no espaço, e o eu lírico geralmente limita-se a expressar emoções e pensamentos experimentados no presente, ou a fazer reflexões sobre o passado; na poesia narrativa, há um encadeamento de fatos no tempo e no espaço, através do qual se desenvolvem a história e as personagens.

Exemplos de poesia narrativa

Abaixo daremos alguns exemplos de poesia narrativa em português.

Odisseia, de Homero

Na Odisseia, Homero descreve as aventuras do herói Ulisses, retornando para a ilha de Ítaca após a Guerra de Troia.

Assim começa o poema, na tradução de Manoel Odorico Mendes:

Ad Curso de Poesia

Canta, ó Musa, o varão que astucioso,
Rasa Ílion santa, errou de clima em clima,
Viu de muitas nações costumes vários.
Mil transes padeceu no equóreo ponto,
Por segurar a vida e aos seus a volta;
Baldo afã! pereceram, tendo insanos
Ao claro Hiperiônio os bois comido,
Que não quis para a pátria alumiá-los.
Tudo, ó prole Dial, me aponta e lembra.

Simples balada, de João Ribeiro:

Este poema é um exemplo das chamadas baladas narrativas, popularíssimas nos países de cultura inglesa e germânica:

“Tu vais partir, Dom Gil! Sus! Cavaleiro!
“Essa tristeza de tua alma espanca.

“Deixa o penhor de um beijo derradeiro
“No retrato gentil de Dona Branca”.,

Mas tanto fel no longo beijo havia,
E tanta incomparável amargura,

Que o solitário beijo aos poucos ia
Roubando à tela a pálida figura.

Cresce, recresce, as linhas devastando,
Nódoa voraz pela figura entorna.

Dom Gil, onde se vai, demorando
Não aparece, aos lares não retorna?!

E o beijo avulta devorando a trama
Do quadro, haurindo a pálida figura…

Tarde chega Dom Gil. De longe exclama:
— “Vou ver-te agora, ó santa criatura!”

Funda tristeza o rosto lhe anuvia;
Quem de Dom Gil esta tristeza espanca?

Havia um beijo — eis tudo quanto havia!
A tela estava inteiramente branca.

Eneida, de Virgílio

Em Eneida, Virgílio narra os feitos de Enéias, um herói mítico sobrevivente da Guerra de Troia, a quem é atribuída a fundação de Roma.

Assim começa o poema, na tradução de Manoel Odorico Mendes:

Eu, que entoava na delgada avena
Rudes canções, e egresso das florestas,
Fiz que as vizinhas lavras contentassem
A avidez do colono, empresa grata
Aos aldeãos; de Marte ora as horríveis
Armas canto, e o varão que, lá de Troia
Prófugo, à Itália e de Lavino às praias
Trouxe-o primeiro o fado. Em mar e em terra
Muito o agitou violenta mão suprema,
E o lembrado rancor da seva Juno;
Muito em guerras sofreu, na Ausônia quando
Funda a cidade e lhe introduz os deuses:
Donde a nação latina e albanos padres,
E os muros vêm da sublimada Roma.

Os Lusíadas, de Camões

Em Os Lusíadas, Camões narra os feitos das Grandes Navegações portuguesas, inspirado no estilo grandioso dos poemas épicos da Antiguidade.

Assim começa o poema:

As armas e os barões assinalados
Que, da Ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca de antes navegados
Passaram ainda além da Taprobana
E em perigos e guerras esforçados
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;

E também as memórias gloriosas
Daqueles Reis que foram dilatando
A Fé, o Império, e as terras viciosas
De África e de Ásia andaram devastando,
E aqueles que por obras valerosas
Se vão da lei da Morte libertando:
Cantando espalharei por toda parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.

Como citar este conteúdo COMO FAZER UM POEMA. Poesia narrativa: o que é, características e exemplos. [S.I.] 2024. Disponível em: https://comofazerumpoema.com/poesia-narrativa-caracteristicas-exemplos/. Acesso em: 2 mai. 2024.