Aprenda a diferença entre ditongo crescente e decrescente, oral e nasal; tritongo e hiato (com exemplos)!
Os chamados encontros vocálicos são motivos para muitas dúvidas de estudantes da língua portuguesa, especialmente aqueles inclinados para a poesia.
Ditongos, tritongos e hiatos, porém, são abundantes na língua portuguesa e fazem parte do discurso natural de seus falantes.
A diferença entre eles nada tem de complicado, e aquele que seja capaz de pronunciar o português poderá, por si mesmo, identificar cada um desses encontros, quando ocorrerem nos vocábulos.
Contudo, como sabemos que algumas questões podem surgir quanto à definição e à distinção entre eles, preparamos esse artigo, onde abordaremos detalhadamente a diferença entre ditongo crescente e decrescente, oral e nasal; tritongo e hiato.
Boa leitura!
Ditongo, tritongo e hiato: noções básicas
O que são encontros vocálicos?
Para entendermos o que é ditongo, tritongo e hiato precisamos, antes, entender o que vem a ser um encontro vocálico.
Em fonética, chamamos encontro vocálico quando duas ou mais vogais combinam-se sem intermediação de uma consoante dentro de uma palavra.
Portanto, ocorrem encontros vocálicos em palavras como água, coração, navio, baú, enxaguar, Uruguai, e muitas outras.
Percebemos, porém, que há diferença evidente entre a pronúncia dos encontros vocálicos em “água” e “baú”, e exatamente por isso a fonética faz distinção entre tipos de encontros vocálicos e, também, de vogais.
Em português, há três tipos de encontros vocálicos: ditongo, tritongo e hiato, a depender de quantidade e da qualidade das vogais envolvidas.
O que são vogais e semivogais?
É fundamental saber o que são, em fonética, vogais e semivogais, caso se queira diferenciar ditongos, tritongos e hiatos.
Comumente, chamamos vogais as letras que representam os fonemas vocálicos de uma língua, isto é, os fonemas em cuja articulação a parte oral do canal de respiração não fica bloqueada nem constrita o bastante para causar uma fricção audível.
Simplificando, são vogais os fonemas que saem livremente pela boca e que, em português, constituem o núcleo das sílabas, já que em nossa língua não há sílaba sem vogal.
Há, pois, cinco vogais na língua portuguesa: a, e, i, o, u (além do y, acrescentado pelo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990).
Para a fonética, porém, nem toda vogal tem a mesma qualidade: há vogais mais e menos pronunciadas.
Por isso, a fonética distingue as “vogais” da linguística em vogais e semivogais.
Vogais, em fonética, é o nome que se dá para os fonemas vocálicos que ocupam o núcleo de uma sílaba.
Semivogais, por sua vez, é como se chamam os fonemas vocálicos que aparecem enfraquecidos, secundários, que se apoiam na tonicidade de uma vogal e não constituem o núcleo silábico.
São vogais o “a” em pato, o “e” em mesa, o “i” em fico”, o “o” em rouco e o “u” em chuva.
São semivogais o “e” em cães, o “i” em peixe, o “o” em nódoa e o “u” em pouco (obs.: as semivogais podem aparecer no início ou no final da sílaba, como o “u” em quadro e pau).
Entendendo o que são vogais e semivogais, podemos diferenciar facilmente os três tipos de encontros vocálicos em português: o ditongo, o tritongo e o hiato.
Qual a diferença entre ditongo, tritongo e hiato?
A diferença técnica entre ditongo, tritongo e hiato é:
- Ditongo: encontro entre dois fonemas vocálicos (vogal e semivogal ou vice-versa) numa mesma sílaba (exemplos: feijão, beijo, meu).
- Tritongo: encontro entre três fonemas vocálicos (semivogal, vogal e semivogal) numa mesma sílaba (exemplos: iguais, Paraguai, quão).
- Hiato: encontro entre duas vogais em sílabas diferentes (exemplos: frio, saúde, navio).
Vejamos cada um deles com um pouco mais de detalhes.
Ditongo
O que é ditongo?
Ditongo, em fonética, é o encontro de uma vogal e uma semivogal numa mesma sílaba dentro de uma palavra.
Uma semivogal, como já sabemos, é um fonema vocálico pronunciado com baixa intensidade, um fonema vocálico que se apoia numa vogal.
O ditongo, portanto, ocorre sempre que, numa mesma sílaba, uma vogal seguir-se de uma semivogal ou vice-versa.
Os ditongos podem ser crescentes ou decrescentes, orais ou nasais.
Ditongo crescente e decrescente
Não há segredo para diferenciar um ditongo crescente de um ditongo decrescente.
No ditongo crescente há no encontro vocálico um movimento de entonação crescente, portanto, dá-se ele quando uma semivogal é seguida de uma vogal dentro da palavra.
No ditongo decrescente há no encontro vocálico um movimento de entonação decrescente, portanto, dá-se ele quando uma vogal é seguida de uma semivogal dentro da palavra.
São exemplos de ditongos crescentes o “ui” em tranquilo (u = semivogal; i = vogal), o “ua” em quadro (u = semivogal; a = vogal), o “uo” em aquoso (u = semivogal; o = semivogal).
São exemplos de ditongos decrescentes o “ai” em caixa (a = vogal; i = semivogal), o “ei” em leite (e = vogal; i = semivogal), o “au” em Paula (a = vogal; u = semivogal).
Não há, portanto, segredo para diferenciá-los; basta que notemos o movimento de entonação de sua pronúncia.
É interessante notar que, quando a sílaba é átona, a qualidade do ditongo é menos facilmente identificável.
Ditongos como “ia” em pátria, “ua” em água, “io” em colégio, “ie” em série são considerados ditongos crescentes (abordaremos esse problema mais adiante).
Ditongo oral e nasal
Um ditongo pode, também, ser classificado quanto à cavidade por que tem o seu som emitido. Em português, temos ditongos orais e nasais.
Ditongo oral é aquele emitido somente pela boca; já o ditongo nasal conta, além da boca, com o auxílio das fossas nasais para sua emissão.
São ditongos orais o “ai” em cai, o “éu” em chapéu, o “oi” em moita.
São ditongos nasais o “ão” em mão, o “ãe” em mãe, o “õe” em põe.
Exemplos de ditongos
Abaixo listamos alguns exemplos de ditongo, com suas respectivas divisões silábicas e classificações:
- água (á-gua; ditongo oral crescente)
- alemães (a-le-mães; ditongo nasal decrescente)
- cai (cai; ditongo oral decrescente)
- ceia (cei-a; ditongo oral decrescente)
- céu (céu; ditongo oral decrescente)
- equestre (e-ques-tre; ditongo oral crescente)
- frouxo (frou-xo; ditongo oral decrescente)
- glória (gló-ria; ditongo oral crescente)
- história (his-tó-ria; ditongo oral crescente)
- leite (lei-te; ditongo oral decrescente)
- linguiça (lin-gui-ça; ditongo oral crescente)
- mágoa (má-goa; ditongo oral crescente)
- meia (mei-a; ditongo oral decrescente)
- mói (mói; ditongo oral decrescente)
- moita (moi-ta; ditongo oral decrescente)
- muito (mui-to; ditongo nasal decrescente)
- oblíquo (o-blí-quo; ditongo oral crescente)
- pão (pão; ditongo nasal decrescente)
- pátria (pá-tria; ditongo oral crescente)
- põe (põe; ditongo nasal decrescente)
- quadrado (qua-dra-do; ditongo oral crescente)
- quase (qua-se; ditongo oral crescente)
- sabão (sa-bão; ditongo nasal decrescente)
- sagui (sa-gui; ditongo oral crescente)
- sério (sé-rio; ditongo oral crescente)
Tritongo
O que é tritongo?
Tritongo, em fonética, é o encontro de uma vogal e duas semivogais numa mesma sílaba dentro de uma palavra.
Portanto, ocorre um tritongo quando três fonemas vocálicos são pronunciados num mesmo impulso vocal.
Diferentemente dos ditongos, os tritongos não podem ser classificados como crescentes ou decrescentes, uma vez que a posição de seus fonemas vocálicos é sempre a mesma (semivogal, vogal, semivogal).
Em contrapartida, assim como nos ditongos, pode haver fonemas nasais entre os fonemas de um tritongo e, portanto, os tritongos podem ser classificados em orais e nasais.
São tritongos orais o “uai” em Uruguai, o “uei” em averiguei, o “uiu” em extinguiu.
São tritongos nasais o “uão” em saguão, o “uõe” em saguões, “uem” em enxáguem.
No caso de palavras como “enxáguem”, “averiguam” ou “apaziguam”, ou seja, ditongos seguidos de “m”, consideramo-lo um tritongo uma vez que a pronúncia deste “m” não é senão a de uma vogal nasalizada.
O mesmo ocorre em palavras como “qualquer”, onde o “l”, pronunciado como a vogal “u”, faz-nos considerar este ditongo seguido de “l” um tritongo.
Exemplos de tritongos
Abaixo listamos alguns exemplos de tritongos, com suas respectivas divisões silábicas e classificações:
- arguiu (ar-guiu; tritongo oral)
- averiguei (a-ve-ri-guei; tritongo oral)
- iguais (i-guais; tritongo oral)
- delinquem (de-lin-quem; tritongo nasal)
- enxaguei (en-xa-guei; tritongo oral)
- enxáguam (en-xá-guam; tritongo nasal)
- enxaguou (en-xa-guou; tritongo oral)
- Paraguai (Pa-ra-guai; tritongo oral)
- qualquer (qual-quer; tritongo oral)
- quão (quão; tritongo nasal)
- saguão (sa-guão; tritongo nasal)
- saguões (sa-guões; tritongo nasal)
- Uruguai (U-ru-guai; tritongo oral)
Hiato
O que é hiato?
Hiato, em fonética, é o encontro de duas vogais em sílabas diferentes dentro de uma palavra.
Diferentemente do ditongo, em que uma vogal é seguida de uma semivogal ou vice-versa dentro de uma mesma sílaba, no hiato os fonemas vocálicos são fortes a ponto de exigirem sílabas independentes, portanto, no hiato não há semivogais.
Como, em hiatos, não há um movimento de acentuação crescente ou decrescente, posto serem vogais ambos os fonemas vocálicos em sequência, não há, para os hiatos, as classificações de crescente e decrescente.
Um hiato pode, também, seguir-se a um ditongo, como o “ia” em geleia, e facilmente podemos diferenciá-lo de um tritongo, uma vez que este ocorre sempre em uma única sílaba (e portanto possui apenas uma vogal de destaque).
Exemplos de hiatos
Abaixo listamos alguns exemplos de hiato, com as respectivas divisões silábicas:
- amendoim (a-men-do-im)
- baú (ba-ú)
- boa (bo-a)
- coelho (co-e-lho)
- dia (di-a)
- elogio (e-lo-gi-o)
- epidemia (e-pi-de-mi-a)
- faísca (fa-ís-ca)
- geleia (ge-lei-a)
- hiato (hi-a-to)
- hiena (hi-e-na)
- ideia (i-dei-a)
- joelho (jo-e-lho)
- juízo (ju-í-zo)
- lagoa (la-go-a)
- lua (lu-a)
- moeda (mo-e-da)
- moinho (mo-i-nho)
- navio (na-vi-o)
- nacional (na-ci-o-nal)
- oásis (o-á-sis)
- oceano (o-ce-a-no)
- piano (pi-a-no)
- poesia (po-e-si-a)
- quiabo (qui-a-bo)
- quieto (qui-e-to)
- ruim (ru-im)
- ruína (ru-í-na)
- saída (sa-í-da)
- saúde (sa-ú-de)
- sereia (se-rei-a)
- tia (ti-a)
- teoria (te-o-ri-a)
- viagem (vi-a-gem)
- voo (vo-o)
- zodíaco (zo-dí-a-co)
- zoológico (zo-o-ló-gi-co)
Encontros vocálicos na poesia
O problema da contagem silábica correta
Entre os vários fatores que tornam a poesia uma arte dificílima, sem dúvida os encontros vocálicos merecem destaque.
Isso porque o poeta possui uma maneira própria de fazer a contagem de sílabas de um verso, que difere da contagem gramatical de suas palavras.
Como já abordamos anteriormente, a contagem poética de sílabas leva em consideração a pronúncia, não a escrita, e com isso vogais de sílabas gramaticais diferentes são muitas vezes unidas numa mesma sílaba poéticas.
Se grande parte das dúvidas referem-se a vogais em sequências dispostas em palavras diferentes, há, também, algumas peculiaridades de vogais de uma mesma palavra que geram muitas dúvidas a respeito da contagem correta.
O problema começa por haver diferenças regionais e temporais na pronúncia portuguesa.
Um exemplo emblemático é o da palavra “saudade”, palavra poética por excelência, considerada trissílaba (sau-da-de) por nós, hoje, mas já contada por inúmeros poetas (Camões entre eles) como quadrissílaba (sa-u-da-de), o que nos evidencia uma variação de pronúncia.
Portanto, há encontros vocálicos portugueses que para alguns é ditongo, e para outros é hiato, impossibilitando assim um consenso em sua classificação.
A consequência disso é que, em alguns casos, não se pode estabelecer uma “contagem correta” de sílabas poéticas de um verso, uma vez que, a depender de quem o declame, tal ou qual contagem se irá encaixar de forma mais adequada e natural.
Ditongos crescentes e hiatos
O buraco é mais fundo quando consideramos os ditos ditongos crescentes e hiatos.
Há quem diga que, em português, não há ditongos crescentes, mas somente “falsos ditongos”, uma vez que podem ser eles segmentados em hiatos.
Especialmente quando se tratam de encontros vocálicos átonos no final das palavras, mesmo os gramáticos divergem quanto à contagem das sílabas, como por exemplo em palavras como “história“, “rádio“, ou “régua“.
Já quanto aos hiatos, é notável que entre eles há casos mais e menos pronunciados de divisão silábica ou, noutras palavras, casos em que contá-los como ditongos seria considerado erro, uma vez que o fazê-lo mudaria a acentuação da palavra (como em “saúde”, “rua“, “rainha”), e casos em que uma pronúncia mais rápida converte-os naturalmente em ditongos (“consciente”, “miar”, “genealogia”, “meteórico”).
Nestes casos, a contagem segue quase um critério de estilo, e vemo-la variando entre diferentes poetas.
O uso estilístico da sinérese
Para finalizar o problema de ditongos crescentes e hiatos, não poderíamos deixar de citar o uso estilístico da sinérese, recurso muito explorado por alguns poetas, e por vezes incompreendido.
Sinérese é, tecnicamente, a conversão de um hiato para ditongo. Se pronunciamos, por exemplo, a palavra “magoado” como “ma-goa-do” em vez de “ma-go-a-do”, diz a fonética estarmos fazendo uma sinérese.
Esse recurso tem efeitos muito interessantes, como passar a impressão de um discurso acelerado, tumultuoso ou desesperado, e talvez não tenha sido em português mais explorado do que pelo brasileiro Augusto dos Anjos.
Fechamos este artigo com um exemplo de exploração criativa de encontros vocálicos (que destacamos) retirados de um soneto deste grande poeta:
Turbilhão teleológico incoercível,
Que força alguma inibitória acalma,
Levou-me o crânio e pôs-lhe dentro a palma
Dos que amam apreender o Inapreensível!Predeterminação imprescriptível
Oriunda da infra-astral Substância calma
Plasmou, aparelhou, talhou minha alma
Para cantar de preferência o Horrível!
Conclusão
Ficamos por aqui!
Esperamos que você tenha gostado de nosso artigo e entendido de vez a diferença entre ditongo, tritongo e hiato.
Se você gostou desse conteúdo, não deixe de ver a nossa coletânea de poemas sobre o Dia da Consciência Negra.
Um abraço e até a próxima!