Saiba de uma vez por todas como contar sílabas poéticas e como metrificar um verso!
Contar sílabas poéticas é algo que todo bom poeta, obrigatoriamente, deve saber.
Isso porque o bom poeta deve ser capaz de imprimir ritmo nos seus versos ou, dizendo de outra forma, deve ser capaz de fazer música com as palavras.
Para imprimir ritmo num verso, o poeta precisa dividir o seu poema em intervalos regulares, uma vez que ritmo, como bem define o dicionário Houaiss, é a “sucessão de tempos fortes e fracos que se alternam com intervalos regulares“.
A maneira mais fácil de definir um intervalo regular para um poema é metrificando o verso — tornando-o, dessa forma, o intervalo regular que se repete pela composição.
E para metrificar um verso, a primeira necessidade do poeta é saber como contar sílabas poéticas.
Se você entrou nesse artigo e tem dúvidas em como contar sílabas poéticas, ou já sabe contá-las e deseja aprender sobre a metrificação de versos, saiba que nada disso é complicado e nós preparamos esse texto para lhe explicar detalhadamente como fazê-lo.
Boa leitura!
Como contar sílabas poéticas
Como dissemos, a primeira necessidade para metrificar um verso é saber como contar sílabas poéticas.
Sílabas poéticas? Exatamente!
O poeta não conta sílabas como o gramático. Este, para contá-las, toma de referência a escrita das palavras; já para o poeta, a referência é a sonorização das palavras ou, dizendo de outra forma, é aquilo que ele escuta.
Em resumo, o que muda de uma contagem para a outra é a interpretação de vogais em sequência: o poeta, caso mais de uma vogal seja pronunciada num só impulso, conta somente uma sílaba para elas.
Vejamos um exemplo:
Bondade infinita
O gramático contaria essas palavras desta forma:
Bon|da|de|in|fi|ni|ta
7 sílabas
Já o poeta, procederia conforme abaixo:
Bon|da|dein|fi|ni|ta
6 sílabas
Perceba que, na sílaba destacada, a pronúncia natural é feita num só impulso. Em casos como esse, dizemos que a vogal “e” elidiu-se (ou absorveu-se) no “i” seguinte.
Esse fenômeno ocorre não somente entre vogais que terminam uma palavra, como também em vogais que se encontram no meio dela.
Outro exemplo:
Piedade
O gramático contaria desta forma:
Pi|e|da|de
4 sílabas
Já o poeta, contaria conforme abaixo:
Pie|da|de
3 sílabas
Novamente, percebe-se que a primeira sílaba desta palavra é pronunciada de uma só vez, numa mesma articulação vocal. Sempre que isso ocorrer, o poeta contará apenas uma sílaba.
Então sempre que houver vogais em sequência o poeta as contará como uma única sílaba?
Negativo. Há exceções, e as abordaremos a seguir.
Quando não contar vogais em sequência em uma só sílaba
1- Quando a vogal antecedente tiver acentuação muito forte
O primeiro caso em que não se deve contar vogais em sequência como uma só sílaba é quando a vogal antecedente é muito acentuada, ou parte de um ditongo.
Exemplos: só eu, vá eu, viu uma, só uma, já era.
Pronuncie esses exemplos, e perceba que só se é possível articular essas vogais assinaladas juntamente da vogal da frente com muita violência, senão mudando a própria fonética das palavras.
Para todos esses casos, a articulação é feita de forma separada, e por isso o poeta, também, deve separar essas vogais quando contar as sílabas poéticas de um verso em que elas estão inseridas em sequência.
No caso de um hiato em que a primeira vogal é fortemente acentuada, como por exemplo, na palavra “dia”, contar essas vogais como uma só sílaba seria erro, uma vez que só seria possível fazê-lo alterando a acentuação da palavra, pronunciando “diá”.
2- Quando houver quatro vogais em sequência
Três vogais em sequência podem elidir-se sem ferir o ouvido, caso nenhuma delas seja fortemente acentuada e tenha de se acoplar à vogal da frente.
Quatro vogais, porém, exigirão ao menos uma divisão na contagem, como no exemplo abaixo:
Glória e amor
Para continuar evidenciando a diferença da contagem de sílabas poéticas, primeiro, vamos à contagem do gramático:
Gló|ri|a| e |a|mor
6 sílabas
O poeta, por sua vez, contaria da seguinte maneira:
Gló|ria|ea|mor
4 sílabas
Perceba que, caso o poeta desejasse contar as vogais assinaladas como uma só, ele teria de mutilar o “e” entre os dois “a”, pronunciando algo como “gloriamor”.
Mutilando a letra, ele violentaria a fonética e, por isso, sempre que houver quatro vogais em sequência, ao menos uma divisão será necessária para distingui-las e pronunciá-las corretamente.
Como metrificar um verso
Contar sílabas poéticas é muito simples: basta escutar o próprio ouvido e reparar que algumas vogais se pronunciam separadamente, outras não. É isso o que faz o poeta, e não há mágica envolvida.
Após contar sílabas, o passo natural de todo aquele que desejar imprimir ritmo nos versos, é metrificá-los.
Felizmente, para metrificar também não há dificuldade nenhuma, como veremos a seguir.
O modelo de metrificação mais amplamente aceito na língua portuguesa é o do grande António Feliciano de Castilho, e será ele que utilizaremos para explicar a você como metrificar um verso.
Mas antes de tudo, o que é metrificar?
Metrificar, em poesia, é definir para o verso um número de sílabas; é enquadrá-lo num “metro”.
Só isso e mais nada.
Para colocar um verso num “metro”, segundo o modelo de Castilho, conta-se o seu número de sílabas poéticas até a última sílaba tônica.
Os efeitos práticos disso mostraremos abaixo.
Tomemos de exemplo estes versos de Olavo Bilac:
Cego, em febre a cabeça, a mão nervosa e fria
Trabalha. A alma lhe sai da pena, alucinada,
E enche-lhe a palpitar, a estrofe iluminada,
De gritos de triunfo e gritos de agonia.
Todos esses versos possuem, segundo a contagem de Castilho, 12 sílabas poéticas (são eles versos chamados alexandrinos).
Como todos eles terminam em palavras paroxítonas (ou graves), a última sílaba tônica do verso é a sua penúltima sílaba, ou seja, descartamos na contagem a última sílaba de todos eles.
Abaixo a contagem de sílabas desse verso. Em negrito estão as últimas sílabas tônicas:
Ce|go|em|fe|brea|ca|be|çaa|mão|ner|vo|sae|fri|a
Tra|ba|lha. A al|ma|lhe|sai|da|pe|naa|lu|ci|na|da
E en|che|lhea|pal|pi|tar|aes|tro|fei|lu|mi|na|da
De|gri|tos|de|tri|un|foe|gri|tos|dea|go|ni|a
Mais um exemplo. Vamos ver esses versos de Cecília Meireles:
Quando penso no teu rosto,
Fecho os olhos de saudade;
Tenho visto muita coisa,
Menos a felicidade.
Segundo a contagem de Castilho, esses versos possuem sete sílabas (são chamados redondilhas maiores).
Abaixo a contagem e, novamente, em destaque as últimas sílabas tônicas dos versos:
Quan|do|pen|so|no|teu|ros|to
Fe|choos|o|lhos|de|sau|da|de
Te|nho|vis|to|mui|ta|coi|sa
Me|nos|a|fe|li|ci|da|de
Mais uma vez, as sílabas átonas após as últimas tônicas (a última sílaba de cada versos) serão descartadas.
Fácil, não? É somente isso.
Para fechar, um resumo do que você acabou de ver sobre metrificação:
- Metrificar é definir um número de sílabas poéticas para o verso.
- Para enquadrar o verso num “metro”, conta-se suas sílabas poéticas até a última sílaba tônica.
Conclusão
Ficamos por aqui!
Esperamos que você tenha gostado do artigo e aprendido de vez como contar sílabas poéticas e como metrificar um verso.
Se você curtiu esse conteúdo, não deixe de ver o nosso artigo sobre como fazer boas rimas.
Um abraço e até a próxima!